Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



O CAMINHO DO CIMO DA ASSOMADA/LAVADOUROS (DE SANTO ANTÓNIO AO ESPIGÃO)

Quinta-feira, 05.12.13

No Largo de Santo António, o Caminho da Assomada/Lavadouros, uma das vias mais percorridos diariamente pelos habitantes da Fajã na década de cinquenta, bifurcava-se. Se virássemos à direita seguíamos para a Cuada, mas se quiséssemos seguir na direcção das terras de mato da Cabaceira, da Cancelinha, do Espigão, do Moledo Grosso e da Lombega e das relvas da Alagoinha e dos Lavadouros, teríamos que voltar à esquerda. Se eventualmente seguíssemos nesta última direcção, continuaríamos a calcorrear calçada romana e circularíamos por um largo caminho, ladeado pelas grossas e altas paredes de algumas hortas e de várias terras de mato, muitas delas com belos portais ornados de ombreiras alisadas e portão de madeira a girar sobre cachimbos de ferro. Logo de imediato e, depois de subir uma pequena ladeira contígua ao Largo de Santo António, demandávamos o Delgado, o melhor lugar de hortas e quintas da Fajã. O caminho, porém, não atravessava o Delgado pelo meio, passava-lhe a nascente e tinha um minúsculo largo, precisamente no local, onde, à esquerda, havia uma canada que conduzia ao Outeiro Grande. Esse largo, embora não sendo descansadouro, era de grande importância, pois era precisamente aí que se estacionavam carros e corções, a fim de os carregar com tudo o que aquelas férteis e produtivas terras produziam: batata-doce, inhames, lenha, incensos, fruta e ainda o milho das terras do Outeiro Grande que era acarretado às costas, até ali.

Depois deste largo, seguindo-se na direcção do Sul, entrávamos na Cabaceira, um dos maiores locais de terras de mato da Fajã, embora muitas dessas terras, sobretudo as da parte mais a norte e a fazer fronteira com o Delgada, também tivessem algumas belgas transformadas em hortas, onde se cultivavam muitos inhames e algumas árvores de fruto, nomeadamente, nespereiras, araçazeiros, ameixeiras bravas e castanheiros. Aqui o caminho tinha as paredes laterais um pouco mais baixas mas era ladeado por árvores frondosas, sobretudo faias, incensos e paus brancos, muito altos e esguias a projectar uma sombra contínua e permanente no caminho que assim adquiria um aspecto fresco, sombrio, sorumbático e até um pouco assombroso e quase assustador. O caminho, ao longo da Cabaceira, continuava com piso do tipo calçada romana, embora com muitos pedregulhos soltos, caídos das paredes, por onde se iam alternando pequenos aclives, um deles até a descer muito suavemente, algumas rectas, mas sem largos e com uma ou outra canada, quer a poente quer a nascente, a ligar as terras e hortas mais interiores. De todas estas canadas sobressaía uma, do lado nascente, já no cimo da Cabaceira, que se distinguia pelas enormes, altas e bem arquitectadas paredes que a circundavam, formando, na entrada, uma espécie de portão de quinta, muito provavelmente resíduos de uma antiga entrada porque em tempos antigos, todas aquelas propriedades, agora de vários proprietários, teriam pertencido um único dono, sendo ali o portão de entrada.

Imediatamente a seguir e já no termo da Cabaceira, o enorme, fatídico e lendário Largo da Cancelinha. Era um dos maiores largos de quantos havia nos caminhos e ruas da Fajã e o mais mítico de todos, pois a ele estava ligada uma lenda segundo a qual aparecia ali, bem no meio, uma mesa posta e bem cheia de comida. Se os transeuntes dela se aproximassem, a mesa ia-se afastando, sem que alguém, alguma vez, pudesse apanhar ou agarrar qualquer migalha que fosse daquela deliciosa e mágica comida  

A seguir ao largo o caminho tomava a forma de uma curva, bifurcando-se, novamente, numa outra canada, esta bastante larga e acessível a carros de bois e que dava para as terras do Desarraçado. Foi esta canada, situada a sul da Cabaceira, que mais tarde serviu de ligação entre a nova estrada e o acesso aos Lavadouros. E o caminho continuava na sua trajectória curvilínea, até ao Descansadouro da ladeira do Espigão, ladeando as magníficas hortas da Cancelinha, onde se produziam as melhores laranjas da Fajã.

Mais adiante, um outro largo, mas este sim transformado em importante e muito utilizado descansadouro, um descansadouro com uma bifurcação do caminho, neste caso à direita com destino traçado ao Vale Fundo e Cuada e à esquerda, com destino aos Lavadouros, mas com passagem pelo Espigão Moledo Grosso, Lombega, Lameiro e Alagoinha. Era ali também que se iniciava a subida da Ladeira do Espigão, uma das maiores e mais íngremes de todas as que existiam na Fajã e não eram poucas.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 21:29





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Dezembro 2013

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031