PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CONDE D'ALEMANHA
“Conde d’Alemanha” é um texto oral, que faz parte do património cultural da Fajã Grande. Foi recolhido pelo poeta, crítico literário e investigador quer a nível da escrita quer a nível da tradição oral, Pedro da Silveira, em 1948, junto de uma senhora de nome Fernandes e publicado, por aquele ilustre fajãgrandense, na “Revista Lusitana” (Nova Série) nº 7 1986 página 108. Este e outros textos eram contados aos serões pelos nossos avós e por outras pessoas mais antigas e assim se foram transmitindo de geração em geração, pelo menos até à década de cinquenta.
“Já lá vem claro sol, já lá vem o claro dia,
Ainda o conde d’Alemanha com a rainha dormia.
Não no sabia o rei, nem quantos na corte havia;
Sabia Dona Bernarda filha da mesma rainha:
«Te peço, querida filha, nã me queiras descobrir,
Que o conde é muy rico, de seda te há-de vestir».
«Nã quero os vestidos do conde, se os tenho de damasco
Ainda tenho meu pai vivo, já me querem dar padrasto».
«Peço-te querida filha, que lo nã vaias dizer».
«As mãingas do meu vestido eu nã nas chegue a romper
Se quando meu pai vier logo lo nã for dizer».
Palavras não eram ditas, o rei à porta batia.
«Que tendes, querida filha, que tendes qu’estáis tã triste?
Contai-me das vossas mágoas que eu vos conto maravilhas».
«Estando no meu tear, tecendo seda amarela,
Veio o conde d’Alemanha, quatro fios me quebrou dela».
«Esse conde é novinho, é novinho quer brincar».
«Arrenego do tal conde, más do seu negro brincar,
Porque ele é atrevido, à cama me quis levar».
«Te peço querida filha, nã me queiras más contar.
Já que o conde é atrevido, amanhã vai a enforcar».
«Venha cá, senhora mãe, chegue-se a esta janela,
Agora venha cá ver a volta que o conde leva».
«Maldita sois, minha filha, mais o leite que mamaste,
Um conde tã galantinho, a morte que lhe causaste».
«Cale-se lá, senhora mãe, nã me faça arrenegar,
A volta que o conde leva, nã na queira a mãe levar».”