PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A PROCISSÂO DO SENHOR AOS ENFERMOS
Tempos idos, costumes e tradições muito diversas mas que se perderam no tempo e evaporaram nas memórias. A Visita do Senhor aos Enfermos, na Fajã Grande e em muitas outras freguesias açorianas, por alturas da Páscoa!
No dia da Festa de Corpo de Deus, nalgumas terras, noutras no domingo seguinte ao dia de Páscoa, chamado, vulgarmente, “Domingo da Pascoela” ou “Domingo Quasímodo” fazia-se a “Procissão do Senhor aos Enfermos”. A Fajã Grande não fugia à regra, sendo feita, geralmente, no domingo da Pascoela. A denominação de Pascoela advinha-lhe de ser uma espécie de segunda Páscoa ou Páscoa menor, dado que nestes dias se realizavam algumas actividades de índole pascal e que transitavam do domingo anterior, como era o caso da visita do Senhor aos Enfermos. Por sua vez a designação de “Domingo Quasímodo” advinha do simples facto de a primeira palavra do intróito da missa nesse dia, na altura celebrada em latim, ser precisamente a palavra “Quasimodo…”. Curiosamente e pela mesma razão foi este o nome dado também pelo escritor francês Vítor Hugo a um personagem, por sinal feio, medonho e corcunda mas de uma simpatia contagiante, de um dos seus romances que tem como cenário principal nada mais nada menos do que a Catedral de Notre Dame de Paris, exactamente por ter nascido ou sido encontrado neste domingo.
Regressando à Fajã Grande e ao domingo da Pascoela ou Quasímodo, era precisamente neste dia que se fazia a célebre procissão da Visita do Senhor aos Enfermos. Após a missa o celebrante revestido de capa de asperges e debaixo do pálio, segurado por seis homens, saía da igreja e percorria todas as ruas da freguesia onde havia doentes acamados, levando-lhe o “Sagrado Viático”. O cortejo seguia em procissão pelas ruas atapetadas com flores e plantas de variadíssimas cores e com as janelas e varandas ornamentadas com colchas e flores. À frente as crianças da Cruzada e os homens com as opas vermelhas segurando velas e lanternas, depois o pálio e finalmente o povo, cantando e rezando.
No ano em que meu avô materno faleceu, precisamente no mês de Maio, a casa da minha avó, na Fontinha foi uma das visitadas pelo Senhor aos Enfermos, no mês de Abril, altura em que ele já se encontrava bastante doente.