Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



A RIBEIRA GRANDE - ILHA DAS FLORES

Sábado, 14.12.13

A Ribeira Grande, fronteira natural entre as freguesias da Fajãzinha e Fajã Grande, deslizando serena e pausadamente pela zona de mais elevada pluviosidade das Flores, constitui o maior e mais caudaloso curso de água da ilha. Tem a sua nascente no Pico do Touro, situado lá bem no interior da ilha, a uma altitude de 670 metros e desagua no Rolo da Fajãzinha, muito próximo da rocha da Eira da Quada, pelo que possui uma bacia hidrográfica, muito vasta, possivelmente, a mais extensa das Flores e uma das maiores do arquipélago açoriano, procedendo à drenagem não apenas do Pico do Touro, mas também do Morro dos Frades, da Lomba da Vaca, da Cova da Pedra e de toda a zona envolvente das Lagoas, incluindo a Água Branca e a Ladeira da Burrinha. Além disso, o seu leito, serpenteado e sempre a abarrotar de água límpida e fresca, ladeia a Lagoa da Lomba, a Comprida, a Funda e envolve-se em várias zonas pantanosas que abundam nas proximidades das mesmas. Ao cessar este longo e sinuoso percurso no Mato, a Ribeira Grande atira-se em catadupa, pela Rocha do Velho, transformando-se numa bela e monumental cascata, vindo cair cá em baixo já em terreno quase plano, deslizando por entre arvoredos e prados, ladeada de rochedos e pedregulhos, formando lagos e açudes e espalhando-se por veias e regatos, a alimentar moinhos e lagoas de erva, até desaguar no Oceano Atlântico.

Formando, nos meses de Inverno e nos dias de chuvas torrenciais, um gigantesco e quase intransponível caudal, a Ribeira Grande assume-se como fronteira natural entre a Fajã Grande e a Fajãzinha que, apesar de vizinhas, ficavam, por vezes e por culpa dela, tão distantes e separadas que vir da Fajã à Fajãzinha ou vive versa, era quase um acto heróico, uma aventura e um risco, sobretudo para os mais pequenos, que ao vir esperar os americanos e outros passageiros vindos no Carvalho ficavam pela Eira da Cuada, junto ao Calhau de Nossa Senhora, lá no cimo da ladeira do Biscoito. Mas apesar do seu temível e perigoso caudal constituir uma ameaça permanente para as duas freguesias, a Ribeira Grande sempre constituiu uma benesse para as mesmas, na medida em que as suas águas se transformavam em força motriz para os moinhos, alimentavam as lagoas de erva para o gado, enriqueciam as relvas, fertilizavam os campos e até serviam para branquear as roupas e lavar as tripas dos porcos. Foi também a Ribeira Grande, assim como quase todas as outras da costa oeste das Flores, que abasteceu de aguadas a tripulação de numerosíssimas embarcações que por ali passavam na demanda da América, da África e da Europa.

Ao longo do seu percurso a Ribeira Grande recebe inúmeros afluentes, uns regos minúsculos e outros autênticos regatos, sendo o maior e principal a Ribeira do Ferreira que nela desagua, num lugar pertencente à Fajã Grande, sobranceiro à Fajãzinha chamado “Fajã das Faias”, ali muito perto do Tufo da Cuada.

Foi sempre difícil construir pontes capazes de resistir às enormes enxurradas e às monumentais enchentes e caudalosas torrentes da Ribeira Grande. Uma das muitas tentativas ocorreu em 1789, sob a orientação do juiz de fora José Gonçalves da Silva, sendo, nessa altura, construída uma ponte de pedra sobre a Ribeira Grande. Tratava-se, segundo rezam as crónicas, de uma construção técnica e arquitectonicamente muito avançada para a época, mas que ficou totalmente destruída com uma monumental enchente ocorrida cinco anos depois, que a derrubou por completo. Iguais destinos tiveram várias outras pontes, quase todas construídas no enfiamento da Ladeira do Biscoito, mas todas elas destruídas, mais cedo ou mais tarde, pelas caudalosas e destruidoras e tão frequentes enxurradas. Os últimos desses incidentes aconteceram em 1964, com a destruição da ponte de madeira ali colocada alguns anos antes, e em Novembro de 1996, quando mais uma vez o revoltoso caudal da Ribeira Grande destruiu a ponte da estrada que liga a Fajãzinha à Fajã Grande, no sítio do Pessegueiro. Nessa altura foi construída, a jusante da antiga, uma grande e moderna ponte em betão, com um vão dezenas de vezes superior ao anterior, a fim de que resista àqueles temíveis e violentos caudais.

O padre José António Camões descreveu assim a Ribeira Grande: “Passado aquela povoação (Fajanzinha) encontra-se logo a Ribeira Grande, que divide a freguesia, (…) Cai a dicta ribeira de uma formidavel cachola, eminente à freguesia da Fajanzinha, a que dão de altura 200 braças: e caida; vem successivamente encorporar-se e ajuntar-se a ella todas as agoas da rocha, que serve de demarcação à freguesia, desde leste a sueste, e vem a ser a Ribeira dos Ferreiros, 4 grotas, sem nome na rocha chamada – a Rocha do Velho, a grota do Enchente, cujas águas engrossão e infurecem tanto que de inverno, e ainda mesmo havendo chuvas, de verão a fazem invadeável”.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 09:38





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Dezembro 2013

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031