PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O MOCHO E O MELRO
(Conto Tradicional)
Certo dia, um mocho começou a voar, a voar até que chegou junto de um castanheiro, onde decidiu poisar, pois não viu lá nenhum outro pássaro e, por isso, acabou por passar lá a noite. No entanto, observando melhor, viu que no castanheiro também estava poisado um melro. O mocho, assim que o viu, ficou muito contente e disse lá consigo:
- “Já tenho ceia!” – E, de imediato, iniciou uma conversa com o melro, fazendo-se passar por seu amigo.
O tempo foi passando, mas o melro não lhe ligava nenhuma. Ao cair da noite, porém, o mocho animou-se, pois cuidou que o melro havia de adormecer e ele então aproveitaria a oportunidade para o papar de um só fôlego. Esperou que o melro adormecesse, mas nada. O melro estava sempre com um olho fechado e o outro aberto. O mocho, impaciente, olhava para o melro, mas não havia maneira de ele adormecer.
- “Arre! Que não há maneira do melro fechar os olhos.”
Esperou, esperou, até que ficou muito aborrecido e, já não podendo aguentar mais, voltou-se para o melro e disse-lhe:
- “Ó amigo melro, por que é que não fechas os dois olhos?”
O melro, que há muito havia percebido a intenção do mocho, retorquiu-lhe:
- “Amigos de longe, vistos de perto, fazem com que tenha um olho fechado e outro aberto.”
Dizendo isto levantou voo e partiu para longe dali, ficando o mocho sozinho, à espera de melhor ocasião para saciar a sua fome.