PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A BARRICA CHEIA
Contava-se, outrora, que há muitos, muitos anos, na freguesia de São Caetano do Pico, um homem havia prometido levar a coroa e dar um jantar em louvor do Senhor Espírito Santo. Porém o ano foi muito mau, o vento e a chuva destruíram muitas vinhas e, consequentemente, nasceram poucas uvas e muitas das que nasceram perderam-se ou não se desenvolveram, por isso a vindima foi muito fraca e houve muito pouco vinho. Assim o homem colheu poucas uvas, pelo que não conseguiu encher mais do que meia barrica de vinho.
O homem ficou muito preocupado e os dias seguintes foram de grande angústia e tristeza, pois não teria vinho suficiente para dar às pessoas no dia do jantar e não tinha dinheiro para comprar mais algum.
Mesmo assim esmagou as poucas uvas que colheu, com todo o cuidado, deixou-as fermentar e colocou o vinho na barrica, ficando mais de metade da mesma vazia.
Passados dias, quando estava em casa a jantar, um vizinho chamou-o da rua e disse-lhe:
— Ó homem, vai à tua adega que tens uma barrica a derramar vinho. Passei por lá agora mesmo e, cá fora, cheirava poderes a vinho.
O homem ficou muito admirado, não acreditou, pois só tinha posto vinho numa barrica e esta nem meia tinha ficado. Era impossível que estivesse a deitar por fora, a não ser que, por qualquer razão, estivesse a vazar.
Levantou-se, a tremer como varas verdes, foi logo para a adega, no Caminho do Meio, pensando que se calhar o pouco vinho que tinha já estava no chão e ia encontrar a barrica totalmente vazia. Já era pouco o que tinha e agora, provavelmente, ficaria sem nada.
Quando chegou junto da adega, sentiu realmente cheiro a vinho e, qual não foi o seu espanto quando, ao abrir a porta, verificou que a barrica estava completamente cheia e a botar por fora.
Ficou muito contente por ter abundância de vinho para pagar a sua promessa. Como estava cansado e cheio de sede, aproveitou o vinho que saia da barrica e encheu um tijela. Depois sentou-se e bebeu-a, achando o vinho delicioso e de excelente qualidade. Nunca se tinha bebido vinho tão bom, nem na sua adega nem nas dos seus amigos que ficavam ali à volta. O homem caiu então em si e acreditou que era um milagre do Senhor Espírito Santo. Contou-o a toda a gente e levou a coroa à igreja, coroou, fizeram-se as sopas, convidou para o jantar a freguesia toda. Todos beberam e admiraram-se porque nunca tinham bebido um vinho tão bom.