PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS SOMBRINHAS
Na Fajã, as senhoras importantes ou aquelas senhoras que queriam ou gostavam que os outros as considerassem importantes usavam sombrinhas, algumas simplesmente pretas, castanhas ou azuis, isto é, numa única cor, outras com o estilo e estampadas ou enfeitadas com rendas e babados, como sombrinhas antigas. Usavam-nas não apenas para se defenderem dos raios solares mas também porque tal hábito se consubstanciava com uma espécie de estatuto de certa importância e superioridade. A verdade é que as mulheres mais pobres ou que viviam com mais dificuldade defendiam-se do Sol simplesmente com um chapéu de palha ou, nos dias de festa, com um lenço de merino.
Eram sobretudo as mulheres da Ponta quando, nas tardes de Sol quente se deslocavam à Fajã, ou as da Assomada, Fontinha, Tronqueira e das outras ruas quando aos domingos à tarde saíam de casa para ir aos arraiais das festas, para participar nas procissões ou até para ir visitar uma amiga ou dar um passeio ao Porto que se muniam daquele estético artifício predestinado a evitar e prevenir as maleitas supostamente adjacentes a um excesso de captação solar, por parte do ser humano, nomeadamente no cocoruto..
As sombrinhas para além de proporcionarem uma boa dose de vaidade a quem as usava enchiam as ruas e os caminhos de um colorido cristalino e diáfano que se misturava com o verde dos socalcos e ravinas circundantes, com o amarelado dos milhos a amadurecer nos serrados envolventes, com o azul do firmamento a reflectir-se na limpidez translúcida do oceano.
Diz-se que a sombrinha foi inventada nas épocas em que as rodas de carro eram de madeira, que por isso mesmo eram mais lentos no andar, com a finalidade de proteger aquelas madames frescas que utilizando aquele vagaroso e lento meio de transporte não queriam ficar expostas ao Sol. Algumas até se davam ao luxo de ter um escravo comprado ou um empregado contratado só para segurar a dita cuja e poupar a madame desse terrível esforço. É evidente que na Fajã nenhuma mulher se poderia dar a tal luxo e cada uma segurava a sua própria sombrinha como queria e podia.