PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
COPIANÇO DE LUXO
O Teixeira era um aluno pouco interessado nas aprendizagens, extremamente preguiçoso nos estudos e bastante descuidado nos trabalhos. Como se não bastasse, condimentava tudo isto com alguma indisciplina e bastante desatenção, prejudicando, vezes sem conta, com as suas atitudes e comportamentos menos correctos, o normal funcionamento das aulas. No entanto, nas fichas de avaliação, embora deixando uma ou outra pergunta em branco, geralmente respondia às questões formuladas com clareza, rigor e correcção, obtendo, assim, bons resultados. - “Hum! Mas ali havia gato, olaré se havia”. – Cuidei eu, comigo próprio.
Era hábito, na altura, que cada aluno, ao terminar a sua ficha de avaliação, a viesse colocar sobre a secretária do professor, regressando ao seu lugar, sendo-lhe, no entanto, atribuído um outro trabalho com que ocupasse, da melhor forma, a restante parte da aula, durante a qual os outros alunos acabavam os seus testes.
Eu, sentado à secretária lia, preparava trabalhos e aulas, corrigia fichas doutra turma, enfim ocupava o meu tempo de forma a evidenciar que não estava ali como polícia mas como professor e amigo. No entanto, o caso do Teixeira, despertava-me extrema curiosidade e, por isso, comecei a dedicar-lhe maior atenção.
Passados uns dias, nova ficha. Como de costume, alguns alunos, ao terminá-la, vieram colocá-la em cima da minha secretária, regressando aos seus lugares, a fim de fazerem os trabalhos propostos. Entre esses alunos, veio a Cláudia, a melhor, a mais estudiosa e a mais brilhante aluna da turma. O Teixeira não perdeu tempo e, de imediato, levantou-se e veio colocar a sua ficha sobre a secretária. Porém, antes de chegar ao seu lugar, voltou-se, de repente, solicitando-me com veemência:
- Setôr, esqueci-me duma resposta. Posso levar a minha ficha para responder ao que me esqueci?
Acenei-lhe afirmativamente e o Teixeira, com muito apuro e alguma e meticulosidade, retirou a sua ficha, regressando ao seu lugar. No entanto e sem que ele se apercebesse, assinalei com um lápis a ficha que estava por cima, de maneira a que, mais tarde, a pudesse identificar.
A aula terminou e todos vieram entregar as suas fichas. Mais tarde, ao corrigi-las verifiquei que a ficha que eu tinha assinalado não era da Cláudia. Pelo contrário a ficha da melhor aluna da turma estava imediatamente antes da do Teixeira. Ao corrigi-las, verifiquei, sem surpresa, que as respostas do Teixeira, estavam rigorosamente iguais às da Cláudia. Sem tirar nem pôr!
Na aula seguinte, ao entregar as fichas, dei os parabéns ao Teixeira, elogiando-o pela qualidade das suas respostas e pelo excelente resultado por ele obtido. E o Teixeira todo vaidoso, a vangloriar-se junto dos outros…
No teste seguinte repetiram-se os procedimentos. Era a Cláudia a colocar a sua ficha sobre a secretária e o Teixeira a levantar-se para também vir entregar a sua. No entanto, eu havia deixado cair ao chão, em frente à secretária, alguns papéis. Quando o Teixeira se aproximou, solicitei-lhe que, por favor, me juntasse aquela papelada. Ele, solícito, correspondeu ao meu pedido, baixando-se para juntar o que lhe pedira, enquanto eu, sem que ele se apercebesse, surripiava a ficha da Cláudia. Por feliz coincidência a que estava a seguir era a de um dos mais fracos alunos da turma. E a cena repetiu-se:
- Setôr, posso levar a minha ficha para responder a uma pergunta que me esqueci? – Solicitou o Teixeira.
Que sim, que estivesse à vontade, que ainda faltava muito tempo para terminar a aula.
O Teixeira regressou ao seu lugar de ficha em riste. Sentou-se, mas aquilo não atava nem desatava. Estrebuchou, esbracejou, bufou, olhou para trás e para diante, completamente perdido e a determinada altura fixou-me, pasmado. Pisquei-lhe o olho e acenei-lhe com a ficha da Cláudia que, apática e admirada, não percebia nada do que se passava.
No fim da aula, quando veio entregar a ficha, o Teixeira, atirando-a com repulsão e agastamento, disse-me em voz baixa:
- O setôr é que me lixou. Foi mais esperto do que eu.
Mas a verdade é que verifiquei com agrado que a partir daí alguma coisa mudou, para melhor, nas atitudes e comportamentos do Teixeira.