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O COELHO E A COELHA

Sexta-feira, 27.12.13

Mais um rimance, recolhido por Pedro da Silveira, na Ponta da Fajã Grande, em 1943, junto de José Inácio Mateus e publicado na Revista Lusitana. Nos anos cinquenta este rimance ainda se declamava aos serões para as crianças adormecerem mais rápida e suavemente. Trata-se duma história muito simples mas que, contrariamente, aos “Contos da Carochinha”, tem um final infeliz, devido ao caçador cruel e ao gato maldito.

 

“Andando um belo coelho nua rocha a passear

Avistou ua coelha, foi-lhe falar p’ra casar:

«Adeus minha rica amada, minha bela coelhinha,

Te venho falar d’amores, com tenção de tu ser’s minha.»

A coelha le respondeu, com grande consid’ração:

Que amores não pretendia, logo le disse que não.

«Nã me fales tu assim, com palavras tã tiranas,

Deves de amar o mundo e ganhar as suas famas».

«Desvie-se para lá, não escorregue no lodo,

Quero más às minhas famas do que quero ao mundo todo».

«Se para todos in geral e pous p´ra mim sois assim.

Nã me vou daqui imbora sem de ti levar o sim».

«Coma possa-m’eu fiar nessa tua mansidão,

Se eu de ti nada conheço nim sei a tua tenção».

«Se de mim tu t’arreceias, o teu receio é culposo?.

«Dá cá a tua mão se queres ser o meu esposo».

O coelho que ouviu isto saltou com muito prazer

Tirou o anel do dedo e lo foi oferecer:

«Toma lá este anel, minha linda coelhinha,

Toma lá este anel, co a tenção de seres minha».

Pegar’ um na mão do outro, choraram na despedida:

«Adeus minha rica amada, minha coelhinha qu’rida».

Passaram-se oito dias, sem se tornarem a ver.

O coelho a foi prêcurar p’ra se d’irem receber.

E viveram muitos anos com grande satisfação,

Nu’a cova que fizeram debaixo do frio chão.

A cova era estreita, lá nasceram seus lindos.

Ao cabo de nove meses tiveram sete filhinhos.

Saíra a coelha de casa, na graça de Deus Senhor,

Quando voltou vinha ferida, de tiro de caçador.

«Que tendes minha rica esposa, que vindes tão desmaiada?»

«Cala a boca, qu’rido esposo, nã te posso contar nada;

Só te posso dizer, que vás chamar o doutor,

Porque eu venho ferida do tiro do caçador».

Saiu o coelho de casa cansado do coração,

Foi apressado à botica, chamar o cerugião.

Quando este chegou a casa, remédios nã receitava,

Logo o desembaraçou, que ela que nã ‘scapava.

Foi o coelho para a rocha chorar a ausência do amor.

Que ela morrera inocente, do tiro do caçador.

Voltando então para casa, de cansado s’assentou:

«Quim foi o grande ladrão que meus filhos me roibou?»

Saiu o coelho de casa, agora já sim ninguém,

Perguntou a seus vezinhos, se por ali passara alguen.

«Passou o gato patife, que os coelhinhos levou».

«Aquele gato ladrão, que os meus filhos roubou!

O gato, gato maldito, que a todos me levou,

Nã olhou eu ser viúvo e nim só um me deixou».”

 

Pedro da Silveira – Suplemento da Revista Lusitana.

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publicado por picodavigia2 às 09:37





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