PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
IN MEMORIAM DE EMÍLIO PORTO
Comungámos o esplendor das madrugadas, quando assomavas à janela do teu quarto, projectada para o lado dos mais novos, dos que haviam chegado há pouco, dos que, como eu, se enterneciam e deliciavam com os movimentos sibilantes e sublimes da tua batuta de maestro debutante.
Abrigámo-nos de torrentes e enxurradas diluvianas, quando, em São Caetano, é verdade que em tempos diferentes, espicaçávamos as flores e os pássaros, a fim de que se espelhassem na luminosidade infinita da esperança e que se locupletassem nos alvores sublimes da liberdade, a que estávamos, incondicionalmente, acorrentados.
Sem o querer e muito menos sem o desejar, entrincheirámo-nos num quotidiano mavórcio, entre balas, granadas e obuses, é verdade que em lugares diferentes, mas elegemos, sempre, a amizade como estandarte da guerra e fizemos da paz o caminho da esperança que não morre.
Depois seguimos caminhos paralelos, semelhantes e diferentes, na demanda da felicidade, do amor e do trabalho, até nos reencontramos entre a lava verde da montanha e o bafo sulfúrico dos vinhedos, saboreando o perfume adocicado do entardecer.
Por tudo isto, tínhamos combinado encontrarmo-nos, ontem, às dezanove e cinquenta em ponto, em Campanhã!
Texto publicado no Pico da Vigia, em 14/03/12