PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LENDA DE HIRÃO-ABI
Conta uma antiga lenda que o arquitecto encarregado da construção do celebérrimo templo de Salomão foi Hirão-Abi ou Hiram Abiff. Hirão-Abi era natural de Tiro, antiga cidade fenícia, cujo rei, que curiosamente também se chamava Hirão, fez acordos comerciais com Salomão, por alturas da construção daquele grandioso templo, enviando para a Terra Santa ouro, prata, madeira de cipreste e de cedro, além de pedreiros, entre os quais se incluía o próprio arquitecto que chefiava a execução da obra, Hirão-Abi. Segundo a lenda, Hirão-Abi foi abordado três vezes por tantos outros pedreiros, Jubelas, Jubelos e Jubelum, que mais tarde mudaram os seus nomes para Abibala, Seterkin e Oterfut, respectivamente, porque sentiam uma grande inveja das aptidões de Hirão-Abi e, ocultando a sua verdadeira identidade, queriam conhecer o segredo da arte de bem construir, pois consideravam-na um verdadeiro mistério que, a todo o custo, haviam de desvendar. Pretendiam, assim, revelar o segredo do mestre pedreiro, no projecto de construção daquele magnífico templo, caso contrário perderiam a sua própria vida. Por duas vezes Hirão-Abi, apesar de ameaçado de morte, não cedeu às exigências dos três pedreiros, recusando revelar o seu segredo com a célebre frase: “Perco a minha vida, mas não revelo o segredo”. Porém, sendo abordado uma terceira vez, negando novamente e com veemência revelar o segredo, Hirão-Abi foi morto, perdendo-se, assim, aquele estranho segredo magistral. Os assassinos levaram o cadáver de Hirão-Abi para fora da cidade, sepultando-o e assinalando o local da sepultura com um ramo de oliveira, pondo-se, de seguida, em fuga. Os outros pedreiros, amigos e companheiros de Hirão-Abi começaram a persegui-los. O rei Salomão, porém, não terá sido alheio ao crime, pois Hirão-Abi despertara-lhe ciúmes, não só por também não lhe revelar o seu segredo mas sobretudo porque o suplantava no amor a Belkiss, a misteriosa rainha de Sabá. No entanto o rei de Tiro pediu que a morte de Hirão-Abi fosse rigorosamente punida e, para comover os executores, mostrou-lhes um filho que o mestre pedreiro tivera com Belkiss e exortou-os a que descobrissem os assassínios e vingassem a do mestre morte o mais depressa possível. Estes procuraram Hirão-Abi por toda a parte mas só o encontraram junto à sua sepultura. Hirão-Abi tinha ressuscitado.
Foi assim que Hirão-Abi, devido à sua conduta virtuosa, à sua piedade genuína a Deus e, sobretudo, devido à sua inflexível fidelidade ao segredo que lhe estava confiado, se tornou um símbolo para que, assim como ele, todos e cada um dos seres humanos possam receber o severo tirano, ou seja, a Morte, a fim de os transportar desta vida imperfeita para uma outa perfeita, gloriosa e celestial presidida por Deus, Supremo e Verdadeiro Arquitecto do Universo.
Cuida-se que esta lenda e a presumível conclusão que dela se tira estarão na verdadeira origem da maçonaria, ultrapassando assim a crença de que esta ter-se-ia originado muitos anos mais tarde, nas corporações medievais dos canteiros das grandiosas construções góticas das igrejas, mosteiros e castelos da Idade Média.