PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NÃO PERCA A PERCA
Em viagem do Porto para o Pico, fiz uma escala, deliberadamente programada, no aeroporto de Ponta Delgada, onde cheguei, já noite escura. No dia seguinte, fui, inevitavelmente, apanhado nas teias da greve geral, o que obviamente, me trouxe alguns transtornos. No entanto, a SATA não se poupou em cuidados e atenções, disponibilizando, como mandam as normas europeias, alimentação, dormida e táxi. Assim dei comigo, inadvertidamente, hospedado num dos (em número de estrelas) melhores hotéis de Ponta Delgada, onde havia de pernoitar e fazer as refeições.
No entanto, de manhã, enquanto aguardava decisões e esclarecia procedimentos, dei umas voltas pela cidade. Como gosto de apreciar os produtos da “ilha verde”, sempre tão fresquinhos e viçosos, entrei no Mercado da cidade. Para além dos belíssimos produtos agrícolas que a ilha produz, encontrei a peixaria a abarrotar de uma enorme diversidade de espécies de peixe em que as águas açorianas são abundantes. Além disso todo ele muito fresquinho e com um preço acessível: abróteas, garoupas, meros, chernes, vejas, moreias, chicharro, cavalas, sargos, pargos, etc., etc. Uma maravilha!
Regressei ao hotel, para o almoço, com “o olho cheio”. A SATA, logicamente, condicionara a escolha do menu, “obrigando-me” a comer peixe. Nada me custou a determinação, antes me alegrou, vindo-me logo à ideia, a excelência daquela variedade de peixe açoriano que havia observado no Mercado, sonhando que, decerto, me havia de deliciar, com algum dele, mesmo que fosse um chicharro frito, um carapau grelhado ou um filete de cavala assada.
Qual não foi o meu espanto, quando me puseram na frente um prato de peixe, sim senhor, conforme o anunciado, mas perca do Nilo. É evidente que comi, até porque vinha muito bem apresentado – gourmet – com batata e legumes, mas ficou-me, ao longo da tarde, um sabor perdido, aliado a uma interrogação permanente: Por que motivo numa terra com tanto peixe nas suas águas, se serve, nos melhores restaurantes, perca do Nilo? Por isso, agora, ainda “aportado” à Terceira, entre chuva e vento, à espera de voo para o Pico, apetece-me gritar aos quatro ventos um interessante “slogan” que talvez possa incentivar o turismo nas ilhas:
- “Se visitar São Miguel não perca a perca”.