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O PADRE CAMÕES

Quinta-feira, 02.01.14

José António Camões nasceu na freguesia das Fajãs, na ilha das Flores em 13 de Dezembro de 1777, tendo falecido em Ponta Delgada, na mesma ilha, em 18 de Janeiro de 1827. Para além de sacerdote foi examinador eclesiástico, professor régio, poeta e historiógrafo, sendo autor de várias obras de cariz satírico, muitas delas em verso: O Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos, Os Sete Pecados Mortais e Relatório das Cousas mais Notáveis que Havião nas Flores e no Corvo.

Filho de pai incógnito e de mãe de ascendência corvina, foi enjeitado, isto é exposto e abandonado à caridade pública, sendo registado simplesmente com o nome de José. Passou parte da sua difícil infância no Corvo, chegando a passar fome. Aquando de uma visita de frei Manuel de São Domingos ao Corvo, seu pai putativo, fez-se encontradiço com ele, tendo-o acompanhado, como estudante, para o convento de São Boaventura, em Santa Cruz das Flores, onde estudou. Mais tarde, abandonou o convento e foi servir para casa de lavradores na Fajãzinha. Em 1797, regressou a Santa Cruz, já como professor particular de latim em Santa Cruz. Algum tempo depois, partiu para Angra, para estudar, albergando-se no convento de S. Francisco daquela cidade. Sendo enjeitado, como não tinha nome de família, adoptou o sobrenome “Camões”, passando a chamar-se José António de Camões. A escolha do nome foi certamente inspirada pela sua admiração pelo poeta. Dispensado do “defectum natálium”, foi ordenado sacerdote a 20 de Outubro de 1804, tendo sido nomeado professor régio de gramática latina na ilha das Flores. Assim fixou-se, novamente, em Santa Cruz, ensinando e exercendo o sacerdócio, tendo grande sucesso no ensino do latim, atraindo às Flores estudantes do Corvo e do Faial. Contudo, em 1807 é nomeado vigário de Ponta Delgada das Flores, onde passa a residir, mantendo, no entanto, a docência como professor particular.

O brilhantismo de José António Camões e o seu domínio da escrita, numa ilha onde a maioria do clero era quase iletrada, criaram condições para uma rápida ascensão na carreira eclesiástica. Tal ascensão, no entanto, não foi bem aceite na ilha, em particular pelo clero, face ao grave defeito de nascimento que representava a sua condição de enjeitado. Por isso e pela contestação de que era vítima e face à inveja do clero, escreveu, em 1812 ou 1813, uma sátira, em prosa e verso, intitulada os Sete Pecados Mortais, onde desanca forte e feio no clero das Flores e do Corvo, que o haviam rejeitado como ouvidor eclesiástico d'estas duas ilhas.

Em data anterior, escreveu também o Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos, um escrito de carácter aparentemente autobiográfico, onde ajusta contas com os que o discriminaram e maltrataram quando criança e jovem "enjeitado". Aparentemente descrevendo eventos da sua infância e juventude, enxovalha alguns dos nomes mais sonantes da sociedade florense, de então, com particular relevo para o clero. Os seus escritos são enviados ao cabido de Angra, uma vez que a sede da diocese estava vacante já que o bispo, D. José Pegado de Azevedo, falecera a 19 de Junho de 1812. O cabido diocesano angrense exonera-o do cargo de ouvidor e suspende-o da vigariaria de Ponta Delgada. Chamado a Angra, foi pronunciado e acusado de injuriar a Mesa Capitular, sendo, contudo, absolvido, depois de ter passado por um humilhante julgamento.

Apesar da absolvição, a mandado do cabido, teve de responder perante os qualificadores do Santo Ofício, por se afirmar que nos seus escritos havia matéria de censura contra a disciplina e dogma da Igreja. A acusação foi julgada também improcedente, mas, no entanto, o cabido recusou-se a permitir a sua reintegração nos cargos de que fora suspenso.

Depois de muitas infrutíferas tentativas a fim de obter a reintegração na vigariaria de Ponta Delgada, abandonado por quase todos e odiado pela classe dominante das Flores, acaba por solicitar ao Capitão General a sua nomeação como professor régio da cadeira de gramática latina de Santa Cruz das Flores. Em 1815 regressa ao ensino da gramática latina em Santa Cruz, permanecendo nessa função, apesar da oposição do cabido de Angra, da Câmara de Santa Cruz e das forças vivas da ilha, até pelo menos 1822, cinco anos antes do seu falecimento.

Caído em desgraça, sem amigos e com escassos alunos, vivendo da esmola da missa e de algum sermão que escrevia para os colegas, atravessou grandes dificuldades, nos últimos cinco anos de vida, chegando, novamente, a passar fome. Faleceu em Ponta Delgada das Flores, com apenas 49 anos de idade, a 18 de Janeiro de 1827.

As suas obras apenas foram impressas postumamente: o Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos, em 1865, em Boston, e os Pecados Mortais em 1883, em Lisboa. Alguns sonetos apareceram no Jorgense e noutra imprensa, mas anos mais tarde

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publicado por picodavigia2 às 09:21





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