PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A BALANÇA DE PESAR LÃ
Na Fajã Grande quase todos os lavradores criavam ovelhas no mato. O objectivo principal de uma pastorícia muito específica, em que não havia necessidade de acompanhar os rebanhos, una vez que estes pastavam soltos e em conjunto com os dos outros proprietários, nos matos, era, simplesmente o de fornecer lã. Na Fajã Grande, salvo uma outra excepção e sempre no caso de ovelhas criadas à porta, nunca se utilizou nem o leite das ovelhas para alimentação das pessoas, nem nunca com ele se fabricou queijo. Criavam-se as ovelhas apenas para dar lã, embora quando abatidas se utilizasse a carne na alimentação e também as peles, que depois de curtidas serviam para forrar os berços e as camas das crianças de tenra idade ou para agasalhos dos adultos. A lã, sim, ocupava um lugar de relevo e de grande importância na economia fajãgrandense, pois tinha um papel primordial na confecção não apenas de diversas e variadas peças de vestuário mas também na tecelagem de mantas e cobertores. As casas que, eventualmente, não tinham ovelhas compravam a lã, a quem tinha produção excedente. Porém, antes de ser preparada e trabalhada e, sobretudo antes de ser vendida, era necessário pesar a lã. No caso de ser vendida, para estabelecer e definir preços, no caso de a usar em proveito próprio, para saber a quantidade necessária para a confecção daquilo que se pretendia obter. Por essa razão em muitas casas existia a tradicional e típica “balança de pesar lã”. Quem não a tinha e dela precisasse, ia pedi-la emprestada aos vizinhos, sempre dispostos a oferecer e disponibilizar ajudas, préstimos e favores.
Estas balanças obedeciam a uma estrutura muito específica, porquanto sendo o objecto a pesar muito volumoso, os braços da balança não podiam ser iguais. Assim um deles, o dos pesos era muito pequeno e o contrário, ou seja aquele em que se pendurava a lã era muito comprido. As balanças de pesar a lã eram feitas geralmente de ferro mas também as havia de madeira e tinham uma haste vertical, com um gancho na parte superior, de forma a pendurá-las durante a pesagem, geralmente num tirante da cozinha e um eixo na inferior, na qual balanceava uma haste, numas horizontal noutras um pouco curva e que se equilibrava em função do princípio das alavancas, em que duas forças, neste caso duas forças suspensas, se equilibram quando o produto da força potente pelo seu braço é igual ao da força resistente também pelo seu braço. Por isso mesmo, o braço onde se pendurava a lã tinha que ser contrabalançado em peso, devido à pequenez daquele em que se pendurava o respectivo peso. Em cada um dos lados da alavanca, suspensos na parte de baixo, estavam encravados dois ganchos para nele se pendurarem os pesos, num lado e a lã no outro. Acresce dizer-se que os pesos eram pedras furadas, devidamente quantificadas em termos de peso, de forma a se poderem prender no gancho.
Toda esta geringonça estava de tal maneira bem construída e balança de tal modo afinada e aferida que nunca havia enganos na pesagem ou se os havia ninguém dava por eles.
As balanças são consideradas o mas antigo instrumento de avaliar e tiveram origem na antiga civilização egípcia, por volta do ano 5000 a.C. Por sua vez a chamada balança de braços desiguais terá sido inventada pelos romanos, Inicialmente as balanças destinavam-se a duas pessoas que quisessem trocar mercadorias. Colocavam-nas numa balança de braços iguais e mudavam as quantidades até que se conseguisse o equilíbrio.
Com o passar do tempo, a balança foi sendo aprimorada e modificada para melhor se adaptar as necessidades, mantendo-se, no entanto, nas comunidades rurais agrárias com as suas características primitivas, até às décadas de cinquenta e sessenta do século passado. Hoje, proliferando as balanças digitais, tornaram-se peças de adorno e de museu.
Balanças de pesar lã, um objecto que outrora teve grande importância na vida dos nossos passados, na própria história da freguesia e até na economia fajãgrandense. Naturalmente como tantos outros, ter-se-á perdido no tempo e nas memórias