PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A PRIMEIRA RÉPLICA DO GRANDE ENCONTRO
Era inequivocamente previsível e conjecturalmente provável que acontecesse. É que um “Encontro” de tamanha grandeza, como o que havíamos realizado em Angra, no passado mês de Julho, havia de perpetuar-se num rastilho de camaradagem e simpatia, um envolvimento de tão excelsa sublimidade havia de reiterar-se para sempre, um abalo de tão grande intensidade havia de ter as suas réplicas, um incêndio de tão intensiva vivência havia de propagar-se em outras envolvências. Na realidade, a partir de agora e depois de tão gigantesco, de tão sublime e tão envolvente “Encontro”, como aquele dos alunos das décadas de 50/60 do SEA, quem esteve nesse encontro e passar por Ponta Delgada arrisca-se, no mínimo, a ser abalroado com amizade de um punhado de residentes na ilha que não perdoa fugas, não aceita recusas, nem admite rejeições. São inflexíveis e retumbantes, estes “Senhores” de São Miguel, assim como as suas esposas! Envolvem-nos em laços incríveis de amizade pura e sincera, rodeiam-nos de afabilidades e carinhos, disponibilizam-nos uma camaradagem envolvente verdadeira, recheada de momentos de alegria e boa disposição e aureolada com um rosário de memórias e recordações. Como se isso não bastasse, ainda nos proporcionam e oferecem um excelente jantar. São desmesurados na sua amizade, desmedidos na sua camaradagem, inatingíveis no seu companheirismo. São estes “Senhores” – alguns até nem puderam ir ao Encontro - que, na realidade, provocam e continuam a acicatar as réplicas do grande “Encontro” e, estão permanentemente alerta para, logo que se lhes proporcione uma oportunidade, reacenderem o seu rescaldo.
Pois a primeira gigantesca réplica do “Encontro” de Angra aconteceu precisamente ontem à noite, em Ponta Delgada. Chegara o entardecer e a cidade, vista lá do alto, cobria-se com um manto de púrpura acinzentada, escura, pouco clarificante. A manhã havia sido atormentada por chuvadas, ventanias e trovoadas. Agora a calma parecia querer voltar e a tranquilidade a querer impor-se.
A SATA, oriunda do Pico, a aterrar no João Paulo II e o sorriso afável, meigo, ternurento, amigo e, diga-se de passagem, um bocadinho atrevidote, do João Carlos Carreiro, acompanhado pela esposa, a boicotar uma mera e simples escala técnica em São Miguel e a transformá-la num magnífico e mágico Encontro. Que não havia desculpas, que não existiam hipóteses de fuga. Vens connosco e pronto. Ora como a minha avó já dizia “Sempre que viajares e tiveres, em qualquer aeroporto, um amigo à tua espera não recuses o convite que te faz”. Aceitamos.
Com uma pequena visita ao Manuel Azevedo, sempre ávido de livros e notícias do Pico, fomos parar ao antigo Seminário Colégio, hoje hotel. Já lá estavam o Alberto Ponte, Alfredo Vieira, o Carlos Dias, o Humberto Clementino e o José Augusto Borges acompanhados das esposas e ainda o Adelino Moules, o Carlos Sousa e o Manuel Francisco.
Todos tinham manifestado uma enorme vontade e uma grande alegria por ali estar, mas alguns não puderam, por compromissos assumidos ou outra impossibilidade, o Cipriano Franco, o Fernando Mota, o Gualter Dâmaso, o José Constância, o Manuel Azevedo, o Santos Narciso e o Urbano Bettencourt que enviaram mensagens carregadinhas de abraços. Era como se ali estivessem.
E embarcámos num oásis da sublimidade, entre os sabores pantagruélicos da cozinha micaelense, recheados de graçolas, regados com boa disposição, interlaçados com uma amizade do tamanho do Oceano e um companheirismo que parece ser eterno..
Porque será que estes açorianos em geral e os micaelenses em particular são assim tão empenhados em construir esta amizade que nunca se esmorra, tão balanceados em cultivar esta camaradagem adubada com a alegria e se imiscuem, de alma e coração, em espicaçar esta amizade que, apesar de anestesiada pelo tempo, nunca se dilui nem se desfaz? Não será tudo isto uma réplica do primeiro “Encontro” que todos recordam com saudade e elogiam com desvelo?
Setembro de 2012