PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A CANADA DA FONTECIMA
De todas as canadas da Fajã Grande, e não eram poucas, a única que tinha o piso igual ao dos caminhos, isto é, do tipo calçada romana, era a Canada da Fontecima. Situada no lugar com o mesmo nome, que atravessava de Norte a Sul, a Canada da Fontecima ligava o Alagoeiro ao Batel, num trajecto curto, apertado, de bom piso, de fácil e agradável trajecto e, sobretudo, bem mais rápido do que o do caminho que ligava a Fontinha aos Lavadouros. É que este caminho que também ligava o Alagoeiro ao Batel e através do qual se tinha acesso a todos os outros lugares do Sul e Leste da Fajã, incluindo a Rocha, no seu normal trajecto, ia dar uma grande volta pela Ribeira, passando junto ao Arame, o que significava um percurso bastante mais longo, obrigando, consequentemente, os transeuntes a uma demora excessiva relativamente ao trajecto da Canada da Fontecima. Em suma, para quem queria seguir para o Batel e para as outras localidades do Sul, até aos Lavadouros, se fosse pela Canada da Fontecima realizava um trajecto bem mais curto e mais rápido. Era pois, objectivo prioritário desta canada, não apenas dar acesso às propriedades que a ladeavam e a outras circundantes, mas também e sobretudo ligar de uma forma mais rápida e eficaz, sobretudo para quem carregava molhos ou cestos às costas, o Batel com o Alagoeiro e vice-versa. Encurtavam-se distâncias, reduzia-se o trajecto, poupavam-se energias e aliviavam-se as costas de quem vinha carregado com molhos ou cestos.
No entanto, o facto de ser uma canada e, consequentemente, uma via de circulação muito estreita, a Canada da Fontecima não permitia a circulação de gado, nem muito menos dos carros ou corsões. É que de tão estreita e apertada que era, não tinha a largura necessária para que circulassem duas rezes, ao lado uma da outra. Como, por vezes, havia gado a caminhar para baixo e para cima, o que ali não poderia acontecer, estava praticamente vedada a circulação de bovinos naquela canada.
O trajecto da Canada da Fontecima era simples e de razoável qualidade. Partindo-se do Alagoeiro, junto a um poço que ali havia para o gado beber água, voltava-se à direita, evitando o caminho da Ribeira. Subia-se uma pequena ladeira, esta sim bastante larga, paralela à casa do Luís Fraga, ao cimo da qual ficava a Casa da Água, precisamente no sítio onde se situava uma nascente ou fonte que dava nome ao local e cuja água abastecia toda a rede da Fajã, cujas obras se iniciaram em Outubro de 1948, concluindo-se quatro anos mais tarde. A partir da Casa da Água, entrava-se na canada propriamente dita, iniciando-se o seu trajecto com uma pequena curva ao lado daquela casa. Depois uma recta, ladeando pequenos serrados, dela separados por altas e grossas paredes de pedra dupla. No fim da recta uma curva acentuada à esquerda e logo a seguir uma mais suave à direita. Aí havia uma pequena ladeira e as paredes circundantes eram bem mais altas e imponentes. Após o cimo da pequena ladeira, precisamente no sítio onde meu avô materno tinha uma pequena terra de milho e batata-doce, entravámos em nova recta, paralela ao caminho da Bandeja, que ficava mesmo ali ao lado. Daí, por ser lugar mais alto, já era permitido aos transeuntes descortinar ao longe uma parte do casario da Fajã, do mar e a Ponta. Esta vista, no entanto era, vezes sem conta, obstruída, porque aqui as paredes já eram bem mais altas e grossas, impedindo quem por ali passasse de avistar o que quer que fosse, a não ser uma pequena nesga do céu. De seguida uma nova curva à esquerda, seguida duma recta ladeada a Sul, por uma parede altíssima e estávamos no fim da canada, a desembocar no caminho dos Lavadouros, precisamente no cimo da ladeira da Ribeira e quase no início da do Batel.
A Canada da Fontecima, como outros imponentes caminhos da Fajã Grande, uma interessante construção a marcar um espaço e um tempo, mediante o esforço, a bravura e o empenhamento dos nossos antepassados.