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O ILHÉU DO CONSTANTINO

Terça-feira, 07.01.14

O sargaço, ali, no Ilhéu do Constantino, era bem mais negro, avermelhado e abundante do que em todas as outras zonas do Rolo, desde o Pesqueiro de Terra até à foz da Ribeira das Casas. Por isso, nos dias em que as fertilizantes, fertilizadoras e tão desejadas algas, arrancadas das profundezas do oceano pela brabeza das águas e trazidas, até à costa, pelo vaivém altivo e envolvente das ondas e pelo deslumbramento ousado e ritmado das marés, vinham emaranhar-se nos pedregulhos arredondados do rolo, os primeiros que demandavam aquelas paragens, a fim de recolher o precioso estrume - uma espécie de dádiva divina para os campos - bem lutavam, bem se esforçavam, bem aceleravam, bem corriam e bem se esganavam para chegar cedo e em primeiro lugar àquele recanto, assentando arraiais no melhor e mais fértil local de extracção de sargaço: frente a um pequeno ilhéu que ali existia, denominado de “Ilhéu do Constantino”. Ali o sargaço, afluindo em maiores fluxos, como que se amontoava, armazenava e excedia, facilitando a tarefa de quantos pretendiam retirar do mar aquele adubo para o milho semeado nos seus serrados, para as couves plantadas nos seus campos e para a batata-doce cultivada nas belgas mais soalheiras.

O Ilhéu do Constantino, uma espécie de talismã sargaceiro, era um enorme calhau, fixado no fundo do mar, a emergir com uma graciosidade intrigante na quase personificação de uma grande massa basáltica, erecta e projectada para fora da superfície da água, abrigada dos ventos e a enlevar-se com a suave e meiga erosão das ondas. Situava-se a uns bons metros de terra, sendo que do lado do Rolo, em hora de maré seca, era possível atingi-lo e saltar-lhe para cima, a pé. Com a maré cheia, porém e do lado do Pesqueiro de Terra, mesmo com a maré seca, era impossível demandá-lo, a não ser a nado.

Era a esta posição estratégica de uma espécie de calhau mítico, encafuado quase na esquina do Pesqueiro de Terra com o Rolo que o tornava fértil em sargaço. Este, trazido pelo “salseilhar” constante das ondas e pelo rodopiar permanentemente das águas, era como que empurrado para aquele recanto, prendendo-se, encafuando-se e arrecadando-se ali, como se ficasse preso por uma rede enorme ou fosse capturado por um camaroeiro gigante. Por isso mesmo, era fácil e rentável retirá-lo dali, tornando, assim, por quantos demandavam o Rolo em dias de saída de sargaço, aquele lugar o mais desejado e apetitoso de toda a faixa costeiro onde se podia extrair o sargaço.

O Ilhéu do Constantino ainda tinha uma outra vantagem, embora menor e menos explorada. Integrado na orla do baixio, desde o Rolo até às ruínas do presumível Forte do Estaleiro, já quase no Varadouro, era um excelente pesqueiro, ou seja, um bom lugar para pesca, sobretudo de moreias, polvos, sargos, vejas e castanhetas.

Naturalmente que a origem onomástica do Ilhéu do Constantino se prendia com um tal Constantino que nem a história nem ninguém sabia quem era. Perde-se pois no tempo o Constantino, quer fosse um experiente e assíduo pescador daquelas paragens, quer alguém que apenas demandasse, de vez em quando, aqueles baixios e escombros para apanha de lapas ou extracção de sargaço e ali se estatelasse, talvez mesmo falecendo naquele sítio.

Por todas estas razões o Ilhéu do Costantino poderia muito bem ser considerado uma espécie de “ex-libris”, se não da Fajã Grande, pelo menos da enorme baía que ia da Ponta dos Pargos até à Rocha da Ponta.

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publicado por picodavigia2 às 14:43





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