PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA CASA DO POVO DE SÃO CAETANO DO PICO
Decorriam os primeiros meses do longínquo ano de 1972, vivia-se o conturbado terceiro quartel do século XX, quando o responsável da Segurança Social no, então, Distrito da Horta, demandou a freguesia de São Caetano, depois de antes ter parado na de São Mateus. De seguida, havia de procurar paragens em muitas outras freguesias e lugares da ilha do Pico.
O objectivo da sua visita era claro e preciso: o Governo Português da altura, liderado pelo professor Marcelo Caetano, pretendia criar algumas Casas do Povo na ilha do Pico, de forma a se abrangerem-se todas as freguesias, a fim de que toda a população rural passasse a usufruir de alguns benefícios e regalias, até essa altura, apenas atribuídos aos trabalhadores do comércio e serviços. Para a parte sul da ilha, localizada entre a Candelária e o Mistério de São João, seria criada uma Casa do Povo, com sede na freguesia de São Mateus, abrangendo esta freguesia e a de São Caetano. Tudo estava decidido, delineado e definido, superiormente, incluindo os membros da direcção, da assembleia geral e do conselho fiscal, pese embora alguns deles, nomeadamente os pertencentes à freguesia de São Caetano e ao lugar da Terra do Pão, disso não tivessem nenhum conhecimento.
Algumas das pessoas contactadas, no entanto, recusaram, de imediato, fazer parte desses órgãos, enquanto outras desistiram, acabando o projecto por abortar, alguns dias depois. Distúrbios verificados noutras paragens, haviam criado alguma apreensão e até medo, nos espíritos menos aventureiros e audazes.
Mas a ideia de se criar uma Casa do Povo em São Caetano não feneceu. Pelo contrário foi criando raízes, crescendo, tornando-se objecto de conversas entre um grupo restrito de habitantes da freguesia que, aos poucos, foi divulgando os seus intentos, realizando reuniões de esclarecimento no Salão da Casa do Espírito Santo e até na igreja paroquial. Aos poucos a maioria da população foi aderindo à ideia. A Casa do Povo iria, por um lado, solucionar um dos problemas mais graves da população: a falta de assistência médica e medicamentosa e, por outro, proporcionaria aos mais pobres e a os mais desamparados e, por conseguinte, à maioria da população, que beneficiasse de reformas, abonos de família, subsídios de nascimento, casamento e até de morte.
Como os estatutos das Casas do Povo, em alternativa a imposição governativa inicialmente proposta, previam que o povo de uma localidade pudesse democraticamente, solicitar a respectiva criação, um grupo, constituído por Manuel Goulart, Manuel Celestino, Fernando Marques, Manuel de Tialuzia, Manuel Azevedo, João Melo, Manuel Ferreira e outros decidiram solicitar, directamente, ao Governo a criação da Casa do Povo, integrando a maioria deles a comissão instaladora. Toda a documentação necessária foi devidamente preparada e enviada para o governo central.
O processo, sobretudo devido aos obstáculos criados noutras freguesias da ilha, foi célere, sendo a criação da Casa de Povo de São Caetano, anunciada por o telegrama enviado pelo Ministério da Segurança Social, recebido com enorme regozijo e incontida alegria, em São Caetano, no dia 7 de Agosto de 1972, precisamente no dia liturgicamente dedicado a São Caetano, embora nesse tempo a festa em louvor do mesmo fosse celebrada a 15 de Agosto, conjuntamente com a da Senhora da Assunção.
Uma vez criada e aprovados os estatutos e os corpos directivos, a Casa do Povo de São Caetano, começou a funcionar de imediato, no edifício que o Manuel Celestino construíra após regressar como emigrante da França e cujo processo de construção foi acelerado, propositadamente, a fim de que esta prestimosa instituição que tanto beneficiou a freguesia, funcionasse de imediato.
Inicialmente a Casa do Povo de São Caetano deveria abranger a vizinha freguesia de São Mateus. No entanto como os seus habitantes manifestaram acentuada oposição, foi criada, algum tempo depois, uma Casa do Povo naquela freguesia.
Passaram-se quarenta anos. A Casa do Povo de São Caetano, cresceu, fortaleceu e solidificou-se. Actualmente possui sede própria, dotada de variadíssimas estruturas de apoio á população, de ajuda, de serviços, de cultura e lazer, com destaque para o Grupo Coral de São Caetano, que tem divulgado não apenas a música mas também a história, a cultura e os costumes de uma das mais belas freguesias do Pico.
No passado dia um de Setembro aquela instituição comemorou o seu quadragésimo aniversário com um jantar seguido de um sarau cultural em que participaram o grupo de cantares de idosos da freguesia, o rancho folclórico das Lavradeiras do Vale do Sousa – Meinedo e o rancho folclórico local.
Texto publicado no Pico da Vigia, em 2/09/12