PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O SACRISTÃO QUE NÃO QUIS APRENDER A LER NEM ESCREVER
Conta-se que numa certa igreja, duma pequena e pobre paróquia, havia um sacristão que não sabia ler nem escrever. Quando faleceu o velho bispo que governava a diocese a que a paróquia pertencia, foi nomeado, para o substituir, um prelado muito novo que trazia consigo ideias modernas, com as quais pretendia renovar a sua diocese. Algum tempo depois de tomar posse, entre várias leis que tinha em mente e elaborou, publicou uma, segunda a qual todos os fiéis que trabalhavam no serviço da diocese, incluindo os sacristães, deviam aprender a ler e a escrever. Pretendia assim, Sua Excelência Reverendíssima, combater o analfabetismo na sua diocese, começando pelos seus funcionários.
O sacristão da tal igrejinha é que não esteve nos ajustes, recusando-se a frequentar a escola e a aprender a ler e a escrever. Como a lei era clara e não contemplava excepções, o sacristão foi despedido, caindo no desemprego.
Como não tinha que fazer passava os seus dias à Praça junto com outros homens, muitos deles em condições semelhantes à sua. Quase todos fumavam mas nem todos tinham cigarros, pedindo-os uns aos outros ou indo comprá-los aqui ou além. Lembrou-se o homem que podia muito bem comprá-los e, depois, vendê-los ali, à Praça, ganhando assim algum dinheiro. Se bem o pensou melhor o fez, verificando que, passado algum tempo, a coisa resultara, pois já tinha ganho algum dinheiro. Como os lucros aumentavam de dia para dia, a ponto de o homem já não poder atender a todas as encomendas de cigarros, ali, à Praça, decidiu-se por comprar uma loja e montar uma tabacaria. O negócio floresceu, o homem comprou mais uma tabacaria, depois outra e muitas outras até que enriqueceu.
Resolveu então ir depositar o dinheiro que ganhara num banco. O gerente recebeu-o e, quando lhe pediu para assinar os documentos, o homem disse-lhe que não sabia ler nem escrever, nem sequer assinar o seu nome. O gerente, muito admirado, interrogou-o:
- Como é que você, não sabendo ler nem escrever, conseguiu tão grande fortuna?
O homem pediu ao gerente que, juntamente com ele, se aproximassem duma janela, Depois, apontando para uma igrejinha que se via lá, muito ao longe, disse-lhe:
- Está a ver aquela igrejinha, lá ao fundo? Pois se eu soubesse ler e escrever ainda hoje estava lá de sacristão.