PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
OVELHA QUE BERRA
“Ovelha que berra dentada que perde.”
Os ovinos sempre tiveram um lugar de destaque e de grande importância em toda a cultura literária oral fajãgrandense, assim como estão presentes em muitos dos costumes, ditos e até em algumas tradições da freguesia, ocupando, inclusivamente, um lugar de relevo na gastronomia e, sobretudo, de grande influência na economia da freguesia mais ocidental da Europa. A razão é simples. Nos primórdios do povoamento não apenas no lugar das Fajãs mas também em toda a ilha das Flores, predominava a criação de ovelhas e carneiros. Nesses tempos ancestrais, o gado vacum era de mais difícil aquisição e a riqueza da ilha, em termos de pastagens e verdura, não se contemplava com a simples criação de caprinos, menos exigentes nos seus cardápios herbívoros e, consequentemente, sempre de reduzida dimensão na ilha das Flores. Era pois a criação de ovelhas e carneiros que imperava nos primórdios do povoamento da Fajã Grande, facto que se traduziu, naturalmente, em que se mantivessem, através dos tempos, muitos costumes, tradições e ditos relacionados com aqueles animais. Quanto aos primeiros, alguns mantiveram-se até à década de cinquenta do século passado, como era o caso da festa do dia de “Fio”. No que às tradições diz respeito, recorde-se por exemplo o facto de na mesma década ainda, com alguma frequência, se verem os chifres dos carneiros às portas das casas com a intenção de evitar o mau-olhado e outras maleitas. Finalmente muitos dos provérbios recolhidos na freguesia e utilizados no dia-a-dia, assim como muitos dos seus falares e dizeres, têm como referencial o gado ovino.
É o caso deste interessante e profundo adágio. Recordando o exemplo da ovelha que, se ocupar o seu tempo simplesmente a berrar, naturalmente que irá perdendo um tempo precioso que deveria ocupar para se alimentar, também os humanos não devem perder o seu tempo a palrar ou simplesmente a falar porque assim o desperdiçam. Devem sim, ocupar-se a trabalhar mais do que a dar à trela. Trata-se de um conselho muito oportuno e de grande acuidade, numa pequena localidade em que as pessoas, por vezes, ocupam grande parte do seu tempo a falar “na vida dos outros”, com a agravante de muitas vezes fazer com prejuízos de terceiros.
Segundo este útil e douto provérbio, as pessoas deveriam, pois, seguir o exemplo das ovelhas, ou seja, aproveitar o seu tempo em proveito de si próprios, isto é, trabalhando. A ovelha impõe-se, pois, como uma espécie de arquétipo ou modelo, cujo exemplo deve ser seguido,