PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MORTE DO PRÍNCIPE AFONSO
“Morte do Príncipe Afonso” é um texto oral, que faz parte do património cultural da Fajã Grande. Foi recolhido pelo poeta, crítico literário e investigador quer a nível da escrita quer a nível da tradição oral, Pedro da Silveira, em 1941, junto de duas senhoras, uma chamada Maria da Natividade Rodrigues de 70 anos de idade e de uma outra de nome Maria do Rosário Jorge, dez anos mais nova, mas que apenas sabia o texto até ao 13º verso. Pedro da Silveira publicou-o na “Revista Lusitana” (Nova Série) nº 7 1986 página 106-107. Este e outros textos eram contados aos serões pelos nossos avós e por outras pessoas mais antigas e assim se foram transmitindo de geração em geração, pelo menos até à década de cinquenta.
“Casadinha de oito dias, à janela espairecida,
Viu vir um cavaleiro, que triste aspecto trazia.
«Que nova nos traz aqui, que nova para me dar?»
«Trago uma nova bem triste, maviosa de contar:
Que o vosso marido, senhora, é morto, está a acabar,
Caiu do cavalo abaixo, no meio de um areal,
Arrebentou-lhe o corpo, sem esperança d’escapar.»
Princesa que tal ouviu, tratara de caminhar.
Com seu capote nos braços, sem podê-lo enfiar,
Suas aias atrás dela, sem podê-la alcançar.
Chegando lá, adonde ele, tratara de o abraçar.
«Mulher minha, nã m’abraces, nã m’acabes de matar.
Ainda há homens no mundo para contigo casar.
«Esse conselho, marido, nunca o hei-de tomar;
Pegarei nas minhas contas, por ti hei-de as rezar.
Já nã me chamem senhora, senhora dona Maria,
Chamem-me a triste coitada, espedida de alegria,
Que lhe morreu o seu bem que era a flor da galhardia.»”