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O SEMINÁRIO MENOR DE PONTA DELGADA NA DÉCADA DE CINQUENTA

Quinta-feira, 20.06.13

O primitivo Seminário Menor de Santo Cristo, criado em Ponta Delgada na segunda metade da década de cinquenta, como uma espécie de sucursal do Seminário de Angra, situava-se na Avenida Gaspar Frutuoso, logo no início da mesma, à direita de quem a subia, nas traseiras do semicircular jardim Antero de Quental. O acesso ao vetusto e emblemático edifício, outrora sede dos frades da Companhia de Jesus, que em tempos idos, ali haviam fixado residência e construído escola, fazia-se por um alto e rígido portão, que raramente se abria e através do qual se entrava num grande pátio, feito de gigantescas pedras basálticas, rectangulares, algumas já rilhadas pelo tempo e recobertas de um musgo esverdeado e sombrio. Ao fundo do pátio e à direita de quem entrava, uma porta de madeira esbranquiçada, com vidros encastoados em taliscas brancas, muito limpos mas embaçados, dava acesso ao interior do edifício, onde se situava um pequeno hall. Ao lado direito ficava a sala de visitas, onde os seminaristas de São Miguel, às quintas e aos domingos de manhã, recebiam as visitas dos familiares. Ao hall de entrada, seguia.se um amplo e vasto corredor, ladeado de paredes muito brancas e altas, ao fundo do qual e do lado direito se situava o quarto do Dr Simão Leite de Bettencourt, director Espiritual e professor de Religião. O corredor terminava logo a seguir, formando esquina com um outro muito semelhante e posterior. Era no vértice desta esquina que ficavam duas camaratas destinadas aos alunos do segundo ano, no meio das quais se encastoava um velha e decrépita arrecadação que servia de porão para guardar as malas e baús dos alunos que ali dormiam. As camaratas eram resultantes da transformação de pequenos e antigos quartos, comportando apenas uma dúzia de camas, cada uma. Por isso alguns alunos do segundo ano eram encaminhados para a camarata do primeiro, bem maior e mais ampla. No segundo corredor, que seguia na direcção oeste – leste, tinham lugar as salas de aula: à direita a dos alunos do segundo ano, mais alta, mais clara, mais bafejada pelo ar, com várias janelas, cercadas com varandas, viradas para o jardim interior ou claustro; à esquerda a sala de aula destinada aos alunos do primeiro ano, maior, mas mais escura, mais acabrunhada, apenas com duas janelas que, apesar de enormes, lhe condicionavam, irregularmente, a claridade interior. Este corredor terminava numa espécie de T, prolongando-se, à esquerda, para o refeitório e para a cozinha e à direita, para uma enorme varanda que raramente se abria, e que, paralela à sala do segundo ano, projectava uma vista exterior para o jardim e para a parte sul da cidade. A este corredor, seguia-se um outro do qual se separava por uma descomunal e gigantesca porta. Era o corredor mais pequeno, mais escuro, uma vez que a luz apenas lhe entrava por uma pequena clarabóia encastoada no tecto e também o mais enigmático do edifício e onde os seminaristas nunca podiam parar. Nele ficavam, do lado direito o quarto do padre José Franco e a reitoria e à esquerda os aposentos episcopais, cujas portas estavam sempres fechados, pois destinavam-se exclusivamente a receber o prelado diocesano, quando visitava ilha do Arcanjo. Este corredor, através duma porta que, ao contrário da sua antípoda, estava sempre aberta, desembocava num outro, o maior, o mais claro e o mais ocupado pelos alunos, uma vez que servia, simultaneamente, de sala de recreio, de sala de estar, de salão de festas e até para projecção de filmes, o que raramente acontecia.

Na parte norte, este enorme corredor terminava numa grande varanda, voltada para um pequeno pátio interior, oposto ao do claustro, situado na parte setentrional do edifício, entre o refeitório e a sala de estudo e que também servia de campo de futebol, para os mais “toscos”. Era aí, suspensa da parede exterior por uma adequada ganchorra, que ficava a sineta ou “cabra” que, tocada à vez e semanalmente por um aluno mais velho, indicava o início e o termo das aulas, das horas de estudo, dos recreios, das refeições, dos tempos destinados à missa e à oração e a todas as outras actividades em que os seminaristas se envolvessem. Seguindo este corredor na direcção Norte – Sul, do lado direito apenas havia uma porta, aquela que comunicava com o corredor anterior, a seguir à qual o primeiro corredor amplamente se prolongava, fazendo fronteira com a reitoria e com o pátio interior ou claustro. Por sua vez do lado esquerdo, ligava-se a uma pequena escadaria que dava acesso ao salão de estudo, à camarata do primeiro ano e ao quarto do padre Agostinho Tavares. A seguir a esta escadaria, um quarto onde o cabeleireiro assentava arraiais, onde, às segundas-feiras, se colocavam as sacolas com a roupa suja à espera de que as lavadeiras, na sexta-feira seguinte as viessem entregar lavadinha e que também, de vez em quando, era adaptado a quarto de hóspedes e uma outra pequena arrecadação, contígua à capela-mor da vetusta igreja, pejada de arcaboiços de madeira que serviam de roupeiro geral, pois era ali que todos os alunos guardavam os fatos e as batinas, sendo que estas últimas, poucos as tinham, uma vez que não eram obrigatórias. O salão ou corredor, embora separado por uma ampla porta, prolongava-se enorme, comprido, com o piso em mosaicos, paralelo à igreja, terminando, ao fundo, num pequeno cubículo, onde havia uma escadaria, finda a qual, através duma porta situada à esquerda do frontispício da igreja de Todos os Santos, existia um outro acesso ao exterior. Por sua vez, o salão de estudo, situado na extremidade mais norte do edifício, postava-se na direcção sul-norte e era muito baixo, muito comprido, muito velho, mas muito claro porque ladeado de ambos os lados por um número quase infinito de pequenas janelas. Era a meio desse salão, do lado direito, que havia uma porta que comunicava directamente com a camarata do primeiro ano. Esta camarata que se estendia na direcção oeste – leste era o espaço mais comprido e estreito de todo o edifício, um autêntico corredor sem continuidade, de estrutura semelhante à sala de estudo e que se prolongava até à rua de Santana, constituindo a parte mais oriental do edifício.

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publicado por picodavigia2 às 21:30





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