PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O TOLO
Conta-se que, numa certa aldeia, havia um indivíduo que todos julgavam ser tolo. Para se divertirem e o gozarem à grande, sempre que entrava num determinado café, alguns dos aldeões ali presentes, de imediato, lhe colocavam na frente duas moedas: uma de um escudo e outra de dois e quinhentos- Depois diziam-lhe que se ele conseguisse escolher a que achasse mais valiosa, ficaria com ela.
O tolo hesitava um pouco, mas escolhia sempre a maior, ou seja a de um escudo, o que levava os outros a rir, desmesuradamente, e a apoucá-lo, pois cuidavam que, na sua ignorância, associava o valor ao tamanho.
A cena repetia-se todos os dias e o tolo, apesar da risota e da galhofa de todos, não hesitava em eleger, sempre, a moeda de um escudo, como a mais valiosa.
Certo dia um dos aldeões, indignado com aquela forma de gozar o desgraçado e com pena dele, chamou-o, à parte, e disse-lhe:
- Olha lá! Tu és mesmo tolo! Ainda não percebeste que estás a ser gozado todos os dias? Ainda não percebeste que a moeda mais valiosa é a mais pequena?
Resposta do tolo:
- Lá perceber, percebi. Só que no dia em que eu escolher a mais pequena, por considera-la mais valiosa, acaba-se a brincadeira e não ganho nem mais um escudo. Por isso, enquanto puder, vou continuar a escolher sempre a maior. Assim todos continuarão a pensar que sou tolo e a divertirem-se à minha custa mas continuarão, também, a dar-me um escudo todos os dias.