PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O ATLÉTICO CLUB. DA FAJÃ GRANDE
Recentemente chegou-me às mãos um livrinho muito interessante, da autoria de José Arlindo Armas Trigueiro, intitulado “Futebol na Ilha das Flores”.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira, onde se aborda uma espécie de pré-história do futebol na ilha, ou seja, o futebol nos seus primórdios, numa altura em que ainda não existia qualquer organização federativa, o livro apresenta um resenha da evolução desta modalidade desportiva nas várias freguesias, em seis capítulos, um dos quais, o terceiro, é inteiramente dedicado ao futebol na Fajã Grande.
Na realidade ainda hoje há quem se lembre de nos anos trinta se dar início à prática do Futebol, na Fajã Grande, num campo situado no Estaleiro, entre o Porto e o Calhau Miúdo, num serrado que ali existia e que posteriormente foi dividido por “malhões” dado que pertencia a três donos: ao Laureano Cardoso, ao António Barbeiro e ao Chileno. A prática do futebol na Fajã Grande desenvolveu-se, sobretudo, graças ao empenho e esforço do Dr Mendonça, que normalmente assumia a função de árbitro, do Luís Fraga que foi o primeiro treinador e do guarda Borges, este também integrando o elenco dos jogadores primitivos.
O referido autor ainda refere que o primeiro jogo oficial se efectuou contra uma equipa das Lajes, o “Nacional Sport Club”, tendo-se realizado no dia 24 de Julho de 1939, data em que o campo também foi oficialmente inaugurado e que o clube se chamava “Fajã Grande Sport Clube”, equipando com camisola azul e calção branco. Na realidade, embora o autor do livro não o refira, nessa altura existiam dois clubes na Fajã Grande: o Sport, onde jogavam os melhores jogadores e o Salgueiros onde jogavam os reservas. Mais tarde, no início dos anos 50, depois dos anos de interregno que o futebol sofreu em todo o Mundo, devido à Segunda Guerra Mundial, os dois clubes fundiram-se originando o “Atlético Clube da Fajã Grande” que passou a utilizar o mesmo equipamento e cujo nome ainda hoje se mantém, conforme consta na lista de clubes da actual Associação de Desportos da Ilha das Flores. A equipa da Fajã perdeu o jogo por 2-1, alinhando com os seguintes jogadores: José Luís (de Abrão) (guarda-redes), Francisco Freitas, António Teodósio, Luís Pereira, José Pereira, Laurindo, João Gonçalves, Cristiano, Cardosinho, José Cardoso, Urbano e Nestor. O treinador era o Luís Fraga e os suplentes: José Gonçalves (avançado Grilo), Francisco Inácio, António Cardoso, José Furtado, António Dawling, Arnaldo e João Lourenço, José Rodrigues, este contratado apenas por ser carpinteiro e para consertar as balizas que se desfaziam facilmente com os portentosos remates.
Dizia, quem ainda o viu jogar, que o Nestor foi talvez o melhor jogador de sempre da Fajã Grande, tendo, no entanto, falecido bastante novo e a sua morte deveu-se ao próprio futebol. Anos mais tarde, durante um jogo já no campo das Furnas, a bola terá ido parar ao mar. Como só havia uma, o jogo parou e coube ao Nestor ir buscá-la, para o que teve que se atirar à água. Era Inverno e esta estava muito fria e o Nestor muito suado. O contacto com a água gelada ter-lhe-á provocado uma constipação, seguida de uma pneumonia e depois uma tuberculose que lhe foi fatal.
No dia 8 de Setembro de 1940, festa da Senhora da Saúde, foi inaugurado o campo das Furnas. Alguns jogadores já haviam abandonado a modalidade, entrando outros, entre os quais: Teodósio, Albano, José Fagundes, David Fagundes,(Semilhas), Roberto do Cristóvão, José Santos (da Ponta) e o Abrão que foi o melhor guarda redes de sempre da Fajã. Era voz corrente que em todos os jogos que realizou não sofreu um único golo. Nessa altura o Luís Fraga manteve-se como treinador.
Nos anos 50 o futebol renasceu e o novo clube, o Atlético passou a ter como principais jogadores: Abílio (Guarda-redes), João do Gil, Lucindo e Elviro, Edmundo Pereira, Teodósio, Albino, Álvaro de João Carlos, David do Raulino, Roberto do Cristóvão, Ângelo João Augusto, Mário do Raulino, Luís Cardoso, Manuel Cardoso (Matateu), Álvaro do Raulino, José Borges, António Nascimento, José Augusto e António Greves, entre outros.
Este texto foi publicado no Pico da Vigia, em 30/12/09