PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TORRESMOS DE VINHA-D’ALHOS
Os torresmos de vinha-d’alhos eram um dos pratos mais comuns no cardápio fajãgrandense, na década de cinquenta, sobretudo nos meses que se seguiam â matança do porco, que, regra geral tinha lugar em Dezembro. Dado que na ilha das Flores, como aliás em todas as outras ilhas açorianas, o clima não permitia a conservação da carne de porco sob a forma de presunto, toda a carne, ou era guardada, depois de frita, debaixo de banha, dentro de umas vasilhas de barro vidrado, chamadas “barranhas” ou salgada e guardada, no caso dos ossos, da cabeça e dos pés, e guardada nas “salgadeiras”, também estas feitas de barro. Assim, a carne propriamente dita era toda picada. Uma boa parte para a linguiça e a outra para os tradicionais torresmos de vinha-d’alhos, que depois de temperados e fritos eram colocados debaixo de banha. Quando se pretendia utilizá-los, bastava apenas retirá-los da banha e aquecê-los. Estavam prontos a serem servidos e eram deliciosos.
Para a sua confecção, nos dias subsequentes à matança do porco, era seleccionada a carne na quantidade desejada, devendo conter anexa alguma gordura, pois essa dava-lhes um melhor sabor e tornava-os mais tenros e gostosos. A carne partia-se em pequenos pedaços, sob a forma de cubos e depois era temperada com alhos, cominhos, malagueta, sal e pimenta-da-jamaica, deixando-a neste tempero durante alguns dias. Depois os pedaços partidos que dariam origem aos torresmos, eram fritos em banha, arrefecidos e guardados na “barranha”, misturados com a própria banha, de modo a que a camada superior ficasse totalmente coberta.
Na altura em que se pretendia comer os torresmos, retirava-se da vasilha a quantidade pretendida, deixando os outros cobertos com a banha. Voltavam a ser fritos, mas muito ligeiramente e eram servidos acompanhados com batata-doce ou inhame cozido ou com pão de milho ou bolo do tijolo. Uma delícia!