PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O IMPÉRIODOS TRICICLOS
A abertura da estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande, no lugar do Pessegueiro, veio alterar radicalmente os meios de transporte de produtos agrícolas fajãgrandenses. Até então e quando os produtos das terras não eram acarretados às costas, o corsão de madeira, puxado por bovinos e a arrastar sobre as pedras da calçada era o tipo de transporte mais utilizado na Fajã Grande. Os carros de bois eram raros e os existentes pouco utilizados. Daí o frequente e contínuo recurso ao típico e tradicional corsão de bois. Mas na nova estrada, com piso de bagacina e, mais tarde, alcatroado, foi obviamente proibido o uso daquele veículo rastejante. É que o mesmo deslocando-se por arrasto, destruiria por completo o liso e fofo tapete da nova e moderna via de comunicação. Daí que toda a zona limítrofe da nova estrada, desde o Vale da Vaca ao Vale Fundo, passando pelo Delgado, Cabaceira, Moledo Grosso, Lombega, Cancelinha, e até pela Cuada ficasse impedida dos seus produtos serem acarretados em corsões.
Bem verdade é que a necessidade aguça o engenho! Foi precisamente nesta altura e por esta razão que surgiram, na Fajã, os célebres triciclos que dominaram e se impuseram no transporte dos produtos agrícolas da zona acima referida. Muito provavelmente inspirados nos pequenos brinquedos das crianças com o mesmo nome, começaram a construir-se triciclos gigantes, do tamanho e do formato quase semelhante ao dos carros de bois. Só que as rodas em vez do arco de ferro que as envolvia eram mais pequenas, mais leves e eram forradas e protegidas por uma tira de borracha ao seu redor, a fim de as proteger do desgaste, de tornar o seu deslizar mais suave e o seu peso menor. O cabeçalho era mais grosso do que o dos carros de bois e sobre ele existia um assento de forma triangular, para o condutor. Na extremidade do mesmo em vez do buraco da chavelha e da canga havia um orifício onde se enfiava e no qual rodava o guiador, no qual se articulava a roda da frente. Os triciclos eram munidos de travões nas rodas de trás.
O primeiro triciclo que houve na Fajã foi construído pelo José Furtado ao qual se seguiram muitos e muitos outros. Por vezes era impressionante o número de triciclos que deslizava pela Assomada abaixo, carregados com lenha, fetos e cana roca, incensos para o gado e até milho e batatas. No entanto os triciclos tinham um senão: é que só deslizavam “de volta a baixo”, enquanto que na subida tinham que ser empurrados pelo próprio dono, o que, por vezes, tornava o seu uso mais difícil, incómodo e pouco abonatório. Havia, no entanto, quem na subida os atrelasse a um burro, resolvendo assim o problema. Direito a baixo, porém, eram um regalo bem carregadinhos lá vinham eles todos prazenteiros.
Paralelamente começaram também a surgir os carros de mão, ou seja uma espécie de miniatura dos carros de bois, empurrados e puxados também pelo próprio dono. Daí que o cabeçalho também não tivesse o buraco da chavelha mas sim de um lado e outro um pequeno pau encravado a que se agarravam as mãos de quem os puxava ou conduzia.