PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS SOPAS FEITAS COM A CARNE E O PÃO DO SENHOR ESPÍRITO SANTO
Não se pode falar propriamente em Sopas de Espírito Santo na Fajã Grande como as que se faziam e ainda se fazem, dando cumprimento a usos e costumes ancestrais, em quase todas as outras ilhas açorianas, nomeadamente, no Pico e Faial, onde se davam e distribuíam, frequentemente, sobretudo no Verão, as “Sopas do Senhor Espírito Santo”. Na Fajã essas promessas eram feitas de forma diferente. Designavam-se por “Jantares do Senhor Espírito Santo” e a carne era distribuída crua por todas as casas da freguesia, acompanhada da coroa, da bandeira e dos foliões, ainda crua, juntamente com o pão, este sim cozido. Assim era dada a possibilidade a cada família cozinhar a carne como muito bem quisesse e entendesse, na sua própria a casa, sendo que muitas vezes, depois de guisada a mesma se juntava ou era deitada sobre o pão, embebendo-o com o molho no próprio prato ou em terrinas, fazendo-se, então, as tradicionais sopas do Senhor Espírito Santo.
A carne era preparada e cozinhada da seguinte forma: uma vez temperada em vinha d’alhos, a carne era cozida lentamente, juntando-se as cebolas, os alhos e algumas folhas de couve inteiras e com o talo, normalmente amarradas num pequeno molhe. Ao mesmo tempo e amarrados num pequeno saco ou pedaço de pano colocavam-se os temperos, geralmente, alho, sal, pimenta em grão, hortelã e cravos da Índia. Juntava-se a água necessária para cozer e depois encharcar a quantidade de pão que se tinha. Uma vez bem cozida a carne retirava-se do lume e, partindo o pão às fatias e colocando-o com folhas de hortelã, no próprio prato ou numa terrina de louça e deitava-se em cima o caldo da carne ainda a ferver, formando assim as sopas que acompanhavam a carne, juntamente com umas boas talhadas de inhame.