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AMANHECER EM SÃO CAETANO

Segunda-feira, 30.09.13

Em São Caetano, bem no coração do Pico, ao amanhecer, mal se abrem as janelas e se arredam as cortinas, logo se sente um perfume desenfreado a maresia e um sabor adocicado a frescura, vindo bem lá do alto, do cimo da montanha e vislumbra-se, de imediato e tanto ao longe como ao perto, um intrigante assédio de alvura derramado sobre o lusco-fusco do amanhecer, a desfazê-lo, a transformá-lo em claridade titubeante, idónea e, estranhamente, desejada.

Depois, muito lentamente vão-se desfazendo negrumes e encerrando-se nebulosidades, até que se desamarram por completo as apoitas sonolentas que prendiam uma agradável e consoladora sonolência. O ar, então, torna-se fresco como o murmúrio das fontes, suave como o silêncio das florestas e leve como a espuma branca que lá, ao longe, no meio do oceano, parece arremeter-se, indignada, contra ao vento, também ele ainda, parcialmente adormecido mas já quezilento e audaz.

A montanha começa a despir-se da escuridão e a vestir-se de um verde suculento e luminoso, indicando que Sol arribará, em breve, da sua quietude nocturna. Há gritos de estrelas a tremelicarem, entoando estertores agonizantes e o crepúsculo transforma-se num desperdício desinteressante e, inconscientemente, indesejado.

Do mar, chega, apressada, uma brisa irreverente e atrevida, esvaziam-se as marés, aquietam-se as ondas e a Lua, em acentuado vazante, é um novelo desfeito, um farrapo despedaçado e sem encanto, arrumada lá nos rebordos do horizonte.

Surgem os primeiros raios de Sol a desfazerem um relento desencorajado. A claridade é o estandarte da esperança e rolam sobre o chão, ainda borrifado de lava, chumaços entumecidos de negrume, sombras que a madrugada, lentamente, destruirá.

As plantas e os arbustos sacodem os respingos adocicados de salmoura e lançam aromas de fragrância aos quatro ventos, as árvores espreguiçam-se amotinadas como que em cardume, os pássaros saltitam de telhado em telhado e os galos ressuscitam um canto esganiçado e turbulento.

Até as pedras, torrões de lava seculares, que haviam passado a noite adormecidas parecem agora sorrir e erguerem-se, testemunhando em versos silenciosos, o inebriante contentamento de ver nascer um novo dia. É o Pico no seu inconfundível esplendor matinal.

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publicado por picodavigia2 às 00:22





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