PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUE RICA LIGAÇÃO
A SATA Air Açores, hoje, parte do Pico com destino a Ponta Delgada, às 17,15, voo SP 437. Chega a Ponta Delgada às 18,05. No entanto, a SATA Internacional, também hoje, parte de Ponta Delgada para o Porto às 18,00, voo S 4174!
Que rica ligação para quem pretende fazer viagem do Pico para o Porto! E o pior é que isto não acontece só às sextas, nem só para o Porto.
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É IMPERIOSO
As nossas ações, mais do que as nossas palavras, são o que melhor nos caracterizam e definem.
É imperioso, em cada dia, fazermos o melhor. E o melhor deve ser pautado, sempre, pelo critério do bem. Bonum est faciendum, malumque vitandum, que significa devemos praticar o bem e evitar o mal é o princípio fundamental da Ética. Infelizmente a humanidade, mesmo ajudada por uma panóplia de religiões, onde este princípio é largamente proclamado, esqueceu-o.
E o homem tornou-se o pior inimigo do homem. Tanto mal!
Bastaria que cada homem seguisse este princípio e o mundo seria muito diferente. Para melhor. Bastariam as catástrofes naturais, inevitáveis para nos desolar e fazer sofrer.
Pratiquemos o bem, façamos o nosso melhor e, certamente o mundo será bem melhor e diferente.
É imperioso a humanidade dedicar-se à prática o bem!
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DEZEMBRO TRAVESTI
Este dezembro parece ter-se transformado num travesti da primavera. Brinda-nos com dias, é verdade que frios, diria mesmo muito frios, mas claros, luminosos, cheios de sol, a abarrotar de calmaria, apesar de pequenos. Não há chuva, nem vento nem nuvens e o céu abre-se num abraço acolhedor, num impressionante elo de luminosidade entre o mar e a terra, ornando os montes e os vales duma sublimidade verde, reluzente e atrativa.
É doce, salutar e transcendente acordar neste verão de um santo qualquer que não de São Martinho, abrir a janela e sentir o astro rei a penetrar pela casa, a despertá-la do ronronar da noite, enchê-la de luz natural e doce, avivar-lhe os recantos mais escuros, a despeja-la do silêncio morno da noite. Se há lua na noite, a claridade do dia não se esconde em nuvens sonolentas, nem se aterroriza com tempestades invernais. Por isso, se o luar da noite é belo a claridade do dia não lhe fica atrás. É sublime! O problema será pensar-se que este sol, nunca seguirá o exemplo da lua, pelo que terá os seus dias contados, poderá muito bem nem sequer chegar ao Natal. Mas recordemos que, afinal, dezembro não é todo outono. Uma pequena parte também inverno e não creio que este tenha a generosidade de, imitando este outono de dezembro também se trasvestir de primavera. Impossível.
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O MARTÍRIO DA ONICOCRIPTOSE
Quando eu era criança obrigaram-me a andar calçado. Primeiro por razões de saúde, segundo porque no Seminário onde estudei não se podia andar descalço ou pelo menos ninguém andava. Mas o problema e que não havia dinheiro para sapatos e tive que me contentar com os que vinham nas encomendas da América. Mas estes eram sempre muito apertados, por vezes tinham que ser abertos à navalha no peito do pé para os poder calçar As consequências parecem ser por demais evidentes. Unhas dos pés encravadas
A unha do pé encravada, também chamada de onicocriptose, parece, de facto, ocorrer quando a borda da unha cresce e entra na pele do dedo. Pode haver dor, vermelhidão e inchaço ao redor da unha, o que, normalmente, resulta do uso de sapatos inadequados ou muito apertados.
Rezam as crónicas que a unha encravada pode ocorrer quando é colocada pressão extra sobre o dedo do pé. Mais comumente, essa pressão é causada por sapatos muito apertados ou largos. No meu caso resultou da primeira situação.
Agora, desencravá-las é que são elas! Um verdadeiro martírio!
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SONHEMOS
O sonho parece ser a melhor dádiva com que a natureza dotou o ser humano. E fê-lo de um dupla forma, porquanto é possível sonhar não apenas quando se dorme mas também quando estamos acordados. Trata-se de uma vivência, ao que parece exclusivamente humana, que pode conceder a quem dela usufrui significados distintos mas sempre muito pessoais e muito íntimos. Para a ciência, sonhar é uma experiência do inconsciente durante nosso período de sono. Para os verdadeiros aduladores do sonho, este é uma forma de se atingir o inatingível, de se conquistar o inconquistável, de se ter e possuir o que, na realidade, nunca foi possuído ou nunca será possível possuir, convicções que os colocam mais perto da psicanálise do que da ciência, uma vez que para aquela, o sonho é simplesmente o "espaço para realizar desejos inconscientes reprimidos".
Mas a verdade é que, de uma maneira ou de outra, o sonho, sobretudo o acordado, é um excelente lenitivo para a alma, um saudável alimento para a imaginação, uma reconfortante doçura para os dissabores.
Sonhemos pois, todos à uma e façamos uma festa de espuma, pois é pelo sonho que nos tornamos unidos, mas mudos. Pelo sonho é que agarramos a vida. Bem enganado estava Fernando Pessoa quando escreveu: “O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.” Mas Pessoa parece ter-se ressarcido, pois mais tarde escreveu: “O Sonho é o que Temos de Realmente Nosso. Matar o sonho é matarmo-nos.”
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QUADROS DA VIA SACRA
Desde há alguns anos que, aos domingos se realiza no Parque José Guilherme, na cidade de Paredes, uma interessante feira de antiguidades e não só. Na verdade, ali, para além de todo o tipo de velharias, como ferros, cerâmica, livros, objetos de uso pessoal, utensílios domésticos, adornos, peças de automóveis, bibelots, etc., também se vendem produtos da terra, artigos de produção caseira e artesanato: legumes, hortaliças, fruta, vinhos, enchidos, doces, compotas, peças em madeira, linho, lã, etc.
Num domingo, em que por lá passei, com maior disponibilidade e tempo, fui reparando, aqui e além, nas preciosidades que alguns vendedores expunham e que considerei de maior interesse. Para espanto meu, parei junto a um vendedor que, entre outras peças interessantes, tinha à venda três quadros que, percebi, fazerem parte de um conjunto de quadros religiosos, da via-sacra. Aproximei-me, com intenção de os observar melhor e pude verificar que eram belas gravuras, representando as estações sétima, decima e decima quarta, sendo o texto que acompanhava e explicava as imagens, em francês pelo que me foi lícito admitir-se que quadros terão sido retirados de alguma igreja francesa, talvez mesmo roubados, não sendo, no entanto esse ato, necessariamente, imputado ao vendedor que os tinha em sua posse e que, provavelmente, os terá adquirido por compra. O homem muito provavelmente, até poderá desconhecer a sua origem e o seu significado, porquanto me pareça que nesta altura em que, até no nosso país, tanto se fala na defesa preservação dos bens culturais da igreja, não seja muito provável que o clero francês ande a vender ao desbarato os quadros da via-sacra das suas igrejas.
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SAVE ENERGY
A embalagem do meu novo chá, da Tetley – Cidreira Infusion – com novo visual, nova embalagem, adquirida numa excelente promoção de lançamento do produto num grande superfície, aqui ao lado, junto às instruções traz- um conselho importantíssimo e em que urge pensar:
“Help save energy remember to only boil as much water as you need.”
Na realidade, com este pequeno pormenor de se medir a água antes de a ferver, para além de poupar eletricidade, como é óbvio, também poupamos água.
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PRIMADO DA PANELA
- Menina, por que não vens,
Quando passo, à janela?
- Ora, é quando vou à cozinha,
Largar o fogo à panela.
Popular - Fajã Grande
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PELA POSSE DO POÇO
Para confirmar, ao certo, a que freguesia pertence o Poço da Alagoinha, basta conferir os limites das duas freguesias que o reclamam como seu: Fajãzinha e Fajã. Urge, no entanto, recordar que a Fajãzinha, por razões históricas, se considerou sempre “superior” à Fajã Grande, por cuidar que foi a partir dela que se formou esta última freguesia. No entanto a história diz-nos que não foi bem assim, pois a freguesia primitiva, embora tendo a sede onde hoje é a Fajãzinha, era denominada de “Fajãs”. Esta sim, dividiu-se originando Fajãzinha e Fajã Grande. Já por altura do episódio de Tiana Tenenta, afogada na Caldeira da Água Branca, a Fajãzinha enviou um “ultimato” à Fajã Grande, a fim de os seus habitantes retirarem de lá o cadáver da famigerada velha, pois infectava a água que bebiam no Rossio. Só que o caixão, vindo dos matos, em vez do corpo de Tiana Tenenta, trouxe paus e ervas e o embuste teve sucesso!...
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TAXA À TACHA
Nesta altura em que se discute e até se aguarda a divulgação de uma taxa sobre dispositivos digitais, que vai agravar os preços de artigos tão diversos como pens, discos rígidos, smartphones, telemóveis, Ipaids, computadores, impressoras ou tablets. Segundo recentes notícias, a medida foi aprovada quinta-feira no Conselho de Ministros e anunciada no briefing final, mas a tabela de taxas parece ainda não estar totalmente definida, parece legítimo que existem muitos outros objectos de uso pessoal e doméstico a terem o direito ou de se lhes exigir o dever de serem, também, taxados, entre os quais a pequena mas muito utilitária tacha. Haja pois, taxa à tacha! Taxem a tacha, já!
As razões são várias. Primeiro porque a tacha não tinha nada que usurpar o nome da taxa, pelo menos em termos fonéticos. A tacha açambarcou-se do que não era seu, em termos fonéticos, por isso mesmo deve pagar taxa. Em segundo lugar pela sua utilidade, pelo seu uso como substituta do prego, retirando-lhe, simplicidade, elegância, delicadeza e fina utilização. Por isso mesmo a tacha deve ter uma mais que justa taxa. Depois porque ainda há pessoas que arreganham a tacha e não arreganham a taxa, sendo que nestes casos a tacha está não apenas a substituir algo, mas a consubstanciar-se com um ente corrupto, gozão, pleno de malvadez e intolerância, pelo que deve ser bem taxada.
A tacha ainda deverá pagar taxa, porque sempre que se perde um desses pequeninos pregos de cabeça chata, muito bons para remendar tamoeiros e afins, ninguém se preocupa com mais uma ou menos uma tacha. Isto e, não há ninguém que tendo à sua disposição uma mão cheia de tachas, se perder uma, se vai dar ao trabalho de procura-la. Mais tacha menos tacha, mas não mais tacha sem taxa. Assim, passando a tacha a pagar taxa, quando alguém perder uma simples taxa, não a perderá simplesmente, mas perderá uma tacha com taxa, o que obviamente já pia mais fino.
Eia, pois, a taxa à tacha.
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EVIDENTE PROGNÓSTICO
Parece ser por demais evidente que no Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão ou 1ª Liga, agora que os alea iacta est, tudo parece estar, senão decidido, pelo menos clarificado.
Assim, não é difícil preconizar nem é necessário ser profeta para definir uma mais que evidente profecia ou elaborar um antecipado e previsível prognóstico. O Porto será o próximo campeão nacional, vencendo o 81º campeonato, com uma distância superior a dez pontos do segundo classificado que será o Benfica.
A grande indecisão será a da conquista do terceiro lugar, onde andarão Sporting, Braga e Estoril, sendo mais provável que o lugar seja conquistado pelo Sporting. Assim Braga e Estoril ficariam nos lugares seguintes, garantindo o acesso à liga Europa, juntamente com o finalista da Taça de Portugal, uma vez que esta também deverá ser ganha pelo Porto, frente a um adversário mais fraco e que não será nem o Benfica, nem o Sporting. Mas a luta pela Europa não será fácil, nem simples, pois nela se hão-de imiscuir, muito provavelmente, Guimarães e Nacional, com probabilidades de o Marítimo nela, também se intrometer. Académica, Setúbal, Rio Ave, Paços e Gil Vicente, decerto que se livrarão a tempo da despromoção, de cuja fuga deverão lutar arduamente e até ao fim do campeonato Boavista, Belenenses, Penafiel, Moreirense e Arouca.
Assim a classificação final não andará muito longe da seguinte: 1º Porto, 2º Benfica, 3º, 4º e 5º Sporting, Braga e Estoril, 6º, 7º, 8º Guimarães, Nacional e Marítimo, do 9º ao 13º lugar, classificar-se-ão Académica, Setúbal, Rio Ave, Paços e Gil Vicente, enquanto nos últimos lugares ficarão: Boavista, Belenenses, Penafiel, Moreirense e Arouca.
A taça da liga, muito provavelmente será conquistada, como prémio de consolação, pelo Benfica, frente ao Sporting ou Porto.
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DA CORDOARIA A PONTA DELGADA
Por volta da uma da madrugada, nestas noites de Agosto, mesmo quando escuras e húmidas, embora não totalmente despidas de calor, a Cordoaria, na cidade do Porto, batalha-se numa irregularidade invulgar, numa lufa-lufa desusada. Tentam-se angariar viagens à última hora, procuram-se os autocarros dos destinos já traçados, saboreia-se a remanso das esplanadas, ressuscitam-se emoções, envergam-se os mantos da pureza original, passeiam-se noites de aventura e, pelos vistos, até se enrola um ou outro charrito, sem contenção nenhuma.
O meu destino é Lisboa, mais concretamente o aeroporto. Aflige-me a confusão por quanto se agiganta ao mesmo tempo que nela imergimos, atrasando, inquietando, baralhando e confundindo. Tenho horário muito apertado. É impreterível estar no aeroporto por volta das cinco. Mas tudo se complica e o autocarro, para engolir os passageiros, até muda de local, o que acaba por trazer alguns benefícios. Tudo arrumado e arrolado e ala que se faz tarde. A cidade é densa, muito densa de nevoeiro, de tráfego e de pessoas.
A paragem na Feira consubstancia mais um atraso notório, mas injustificável. Faço contas e tudo parece arrepiante. O controlo dos que entram é rigoroso, mas muito barulhento e desusado. Pessoas e mercadorias amontoam-se e enchem, agora, o que sobrava do autocarro, no que a assentos e bagageiras, diz respeito. Depois é circular, circular, circular. A A1 é enorme, esconsa e tétrica. Acresce-se-lhe uma angústia galopante. Umas vezes sente-se um angustiante atraso, enquanto outras, parece que se ganha algum tempo. A chegada à Portela há-de coincidir com as cinco. Tudo parece normalizar-se, até que a famigerada paragem na estação de serviço de Leiria volta piorar tudo e a por o futuro do percurso em causa tudo. “Estamos um pouquinho atrasados – reconhece o motorista. Mas por volta das cinco havemos de lá estar. Lembro-me do benefício que foi não trazer bagagem de porão e fazer o check-in em casa. Na paragem, ainda há quem se dê ao luxo de ultrapassar, sensivelmente, o tempo imposto e demoram, demoram… O homem agora segue numa vigem lenta e vagarosa. Resolve telefonar, vagando, significativamente, a marcha. Ainda irá a outra estação, para dar boleia ao amigo.
Finalmente o aeroporto! O tempo, o controlo e o embarque. Quase quatro horas desde da Cordoaria ao Aeroporto. O embarque é longo e farto, mas rápido. Sobrevoam-se as nuvens, Santa Maria ao longe e aqui ao lado, as vilas plantadas a sul de S. Miguel: Povoação. Vila Franca, Lagoa e por fim Ponta Delgada.
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A GOSTO
Aí está mais um! O oitavo! Meu Deus, como eles passam depressa. Assim como os meses, os anos. Este nasce tristonho e não parece que nos há-de correr lá muito a gosto. Não será um agosto a gosto.
É tempo para caminhar em trilhos metamorfoseados. São doze, assim como os míticos pares da Inglaterra que a história imortalizou em doze damas acusadas por doze cavaleiros de falta de virtude, honra e nobreza. As damas insultadas pediram aos seus parentes que lhes defendessem a honra e a dignidade, mas a reputação dos difamantes, que guerreiros valorosos, esmoreceu qualquer vontade de defender a honra das senhoras, por parte das respectivas famílias inglesas, por isso as damas injuriadas recorreram ao rei de Portugal, D. João I, para que as ajudasse a encontrar defensores para o pleito. O pedido foi, imediatamente, aceite por doze cavaleiros portugueses, que se propuseram a partir, o mais cedo possível, em defesa das damas inglesas. O navio que transportou os doze portugueses partiu do Porto, no entanto, um dos cavaleiros, D. Álvaro Gonçalves Coutinho, o Magriço, decidiu ir por terra, para ter oportunidade de alcançar grandes glórias e fama, e juntar-se, mais tarde, aos companheiros. No dia do combate, em Inglaterra, os cavaleiros portugueses, quando se alinharam perante os doze cavaleiros ingleses, reparam na desigualdade entre os dois partidos, pois Magriço ainda não tinha chegado. Estava a justa para iniciar-se, quando a população começou a produzir grande burburinho pela aproximação do Magriço, que se juntava, então, aos companheiros. Primeiro combateram a cavalo e, depois, a pé, terminando a contenda com a vitória dos Portugueses que, perante a sociedade inglesa, recuperaram a honra e a nobreza das damas.
Mas os trilhos não têm em comum com os portugueses de Inglaterra, apenas o número. Assim como os cavaleiros lutaram a gosto, os trilhos também se percorrem a gosto, neste mês em que o gosto se arrasta, indefine e entristece com o permanente tiroteio entre Israelitas e Palestinianos, apesar de balizado agora por 62 horas de um desejado cessar-fogo, os conflitos no Médio Oriente, a guerra na Ucrânia, na Síria, na África e em tantas outras paragens do universo, o rapto de dezenas de jovens, os maus trato de crianças e idosos, a fome, o abandono e a solidão de tantos humanos, o terrorismo e o recente abatimento de um avião das linhas aéreas da Malásia, para não falar do desaparecido há uns meses e do qual nada se sabe. Chamem cavaleiros portugueses para repor a ordem e a paz no mundo e os últimos dias trazem-nos à memória a incompreensível soma de 3.577.000.000 de euros, misteriosamente desaparecidos. Ninguém é capaz de explicar melhor o que está em causa, como se chega a um prejuízo destes, a um buraco tamanho, nem muito menos, onde foi parar esta verdadeira “pipa de massa”.
Pelo meio o Benfica vai continuando a perder, não a gosto meu, porquanto outros em subterfúgios espanhóis parecem ir despertando lentamente, mas a gosto.
Nunca se abre, a gosto, uma janela, se ela não estiver voltada para o mar. É isto o agosto a gosto, dos doze trilhos metamorfoseados.
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DESERTO
A cidade esta manhã era um deserto. Apenas ecos de um limitadíssimo foguetório, de um pimba altíssima, aberrante e muito desordenada e das sirenes a chamar clientes aos carrocéis e baloiços.
De resto, apenas a frota completa da equipa de recolha de lixo camarária, um ou outro transeunte, mais idoso, a comprar o jornal no quiosque aberto mais próximo, umou outro corredor matinal, objector de consciência a festejos e diversões, os que trabalham fora do concelho que hoje comemora o seu feriado e equipas de calceteiros, Vodafone, nos, sediadas noutras paragens.
O silêncio implantado, o espaço rasgado por clareiras, o ar matinal refrescante, o Sol semi acariciador e a inédita vontade de derrubar os vestígios de duas estúpidas e gordoentas fartura que, juntamente com uma mini transformada em panaché, garantiram de um momento para o outro, nada mais do que 800 gramas. Quase um quilo!
Havia que desfazer este acervo de calorias adquiridas quase inconsciente. Uma marcha tornada mais rápida e desgastante com a cumplicidade deste deserto em que emergi e que me galvanizou.
Pela primeira vez tive a oportunidade de correr, como um louco, pelo meio da cidade, sem que a polícia municipal, também ela vigilante, me multasse ou até prendesse, por cuidar que esta a fugir, depois de participar num assalto. De facto muitas eram, sobretudo na avenida, as barracas, para tal disponíveis. Já tinha presenciado várias vezes os muitos corredores e corredoras, mas mãos jovens, mais experientes, com currículo e perfil muito bem delineado. Eu corria à brita, como um selvagem pouco desenvolto e era isso que me intrigava, ao cruzar-me com um polícia.
De um momento para o outro 5 K, mas apenas menos 300 gramas. Um pequeno rombo na enorme monstruosidade do efeito farturas.
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MUDEI DE RUMO
Era dia de Páscoa! A cidade metamorfoseara o seu ritmado viver quotidiano, enchera-se de música, de sons, de cores, de vultos brancos. As varandas abarrotavam de curiosos expectantes, Por isso ao iniciar a minha caminhada diária, decidi mudar de rumo, trocando o habitual trajecto ornado de asfalto, cimento armado, a abarrotar de cheiro a combustível e a sons automobilísticos, pela serena pacatez dos campos, embora percorrendo caminhos eivados de pó, veredas encharcadas de lama e trilhos atafulhados de pedregulhos e pedras soltas.
Ao iniciar o percurso, em vez de circular pela bem desenhada, asfaltada e sequenciada estrada que rodeia a cidade, decidi, logo ao sair de casa, voltar à esquerda e atravessar o pequeno monte que se ergue ao lado do meu prédio, com rumo à freguesia vizinha, que percorri de lés-a-lés.
Logo ao entrar no monte, viveiro de pinheiros e eucaliptos de mistura com silvados e outras daninhas, circulando por uma escadeada e íngreme vereda, onde o pó é rei, dei, de imediato, com uma enorme clareira, onde o pinheiral foi abatido para dar lugar a nada. É verdade que parece projectar-se ali uma futura zona habitacional, até porque, mais além já se vê uma ou outra “maison” mas requintada e moderna, do que as velhinhas que se espalham por ali. Algumas abandonadas, a desfazerem-se. De resto tudo se assemelha ao universo, antes da criação das criaturas. Depois, penetrei na zona mais antiga e talvez a mais pobre da localidade e arredores. Com casas velhas e antigas, com portões abertos a deixar ver resíduos de antigas “cortes” de vacas e porcos, paredes meias com cozinhas a fumegar e alpendres, já com mesas postas, Tentando fintar os caminhos eivados de socalcos e pedregulhos, rumei por veredas estreitas ente campos muitos deles a abarrotar de batais, cebolas e latadas de videiras a desabrochar. Depressa cheguei ao antigo e agora novo bairro, epicentro de um falsa modernidade de que o edifício escolar, recente obra de orgulho da municipalidade local, é o mais claro exemplo. Casas reconstruidas, prédios antigos reconstruídos e modernizados. Uma destes a simular testemunhos históricos notáveis.
Logo abaixo, o sussurro da água fresca e corrente. Um açude a transbordar de frescura, espelho linear das margens circundantes, verdes e ofegantes. A água a evadir-se em aqueduto e, no outro lado, a lançar-se em barulhenta catarata em miniatura.
O trilho seguia por entre arvoredos e arbustos, ora sombrio ora iluminado, pleno de pedregulhos e enigmas. Além a enigmática e mítica casa dos espíritos. Ali, houve, em tempos idos, mistérios, bruxedos, crendices em demasia. Hoje até os bruxedos são ruínas. Logo adiante a descida do monte, agora por entre campos, enormes cerrados de vinhedos e batatais, com couves, alfaces pelo meio. De tudo um pouco. E o mais emblemático solar da zona, com capela e brasão de armas sobre a porta principal Tudo num degradante e aflitivo estado de degradação…
Para cumulo, o supermercado, que demandei quando prestes a terminar o percurso, estava fechado. Pois é. Era domingo de Páscoa e, assim, livrava-se de receber o toque da música e o zumbir das campainhas que continuavam a encher a cidade de sons e cores…
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REVOLTANTE
A TAP, a companhia aérea nacional que apoia todos os portuguese e muitos estrangeiros, tem, muito bem escarrapachadas na sua página oficial, no site http://www.flytap.com/Portugal/pt/Homepage?GORMPTJUL1&gclid=COjVxtqIzL8CFQjItAod0GAARg, excelentes promoções para a Europa e Norte de África, com destaque para Milão 56 euros, Nice 67, Londres 73, Viena 102 e Marraquexe 279. No entanto, do Porto para o Pico, com viagens que poderiam ser de cinco a seis horas, incluindo as escalas necessárias, a demorarem muito mais e a obrigarem a pernoitar numa segunda ilha, o mais barato que se consegue são 342 euros (trezentos e quarenta e dois euros) por uma viagem de ida e volta.
Por sua vez a SATA, radicada nos Açores e transportadora aérea para todos os açorianos, espalhados pelas nove ilhas e na diáspora, embora um pouco mais módica, obriga a pagar, na mesma viagem Porto/Pico 315 euros. Como sou seu cliente assíduo, os seus prestigiosos serviços, têm a gentileza de me enviar emails, onde me disponibilizam e oferecem voos Açores/Madrid e Açores/Gran Canária, quer um quer outro, apenas por 199.euros, mas com as imagens bloqueadas e que só eu posso abrir: para proteger a sua privacidade, as imagens desta mensagem foram bloqueadas Mostrar imagens.
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SÓ EM CÓMODAS
Há ninhos desfeitos. A angústia de um pássaro com o ninho destruído constitui uma das mais degradantes e empíricas misérias. Um pássaro sem ninho atira-se para qualquer sítio, à deriva do maquiavélico deambular de uma onda gigante. E, sempre que houver um pássaro que seja, com o ninho desfeito, as noites nunca mais serão o fim dos dias. Hão-de perpetuar-se memórias horríveis, perplexas e destruidoras
As noites não sorriem e as janelas, fechadas e com as cortinas corridas, já não se ufanam de anunciar o nascimento da madrugada.
Mas fica sempre a angústia de não se esconder uma migalha de pão. Os panos de linho estendem-se ao sol, na mira de secarem. Das toalhas com que nos limpámos, após o banho da labuta, brota um suco pestilento e amarelado.
Só em cómodas se guardam os sonhos de cada primavera. Só em cómodas se escondem as lágrimas das amarguras petrificadas. Só em cómodas…
E ainda há quem diga que Van Gaal, ontem, errou ao não substituir outra vez o seu guarda-redes, que sabia perfeitamente não estar vocacionado para defender penalties.
Só em cómodas se guardam os silêncios petrificados… Só em cómodas…
E se eu não tivesse exagerado no acento gráfico das cómodas, decerto que transformaria o “em” em “in”, aproximando, este último, devidamente.
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AEGIS
Aegis ou Égide era, na mitologia grega, o escudo mágico, elaborado por Hefesto, que Zeus utilizava para se defender dos titãs, que tinha, em relevo, uma figura gorgônica que o tornava amedrontador para os inimigos do pai dos deuses, dando-lhe, por isso, uma grande capacidade de defesa pessoal. Mais tarde, Zeus cedeu-a à sua filha Atena, que o revestiu com a pele da Medusa, morta por Perseu. Era pois uma protecção.
No entanto, segundo, pelo menos, uma obra de Dionísio Escitobráquio, hoje perdida, a "aegis" seria, também, uma criatura mitológica nascida da Terra, que cuspia fogo, e ia queimando as terras por onde passava. Eventualmente, essa criatura foi atacada e destruída por Atena, que passou a usar a sua pele como forma de protecção.
Aegis ou Égide, pois, significa protecção, amparo, defesa. Se um acto foi praticado sob a égide de alguém, quer dizer que ele foi realizado sob a protecção e com total apoio. Por isso, passou a dizer-se que qualquer façanha conduzida sob a égide de alguém implica que ela foi realizada sob seu poder, protecção, e com seu acordo.
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A MONTANHA-RUSSA
A Montanha-russa é uma atracção popular dos parques de diversões modernos, uma vez que a primeira montanha-russa terá sido apresentada ao público em 1885, inventada por La Marcus Adna Thompson. Este divertimento consiste, basicamente, numa estrutura de aço ou por outros materiais similares, formando uma pista composta por elevações semelhantes a montanhas, seguidas de quedas, embora também possam possuir inversões que formem uma volta vertical completa de 360º, impulsionadas pela velocidade proveniente de uma descida ou lançamento rápido, deixando quem está na atracção, momentaneamente, de cabeça para baixo. Possui ainda, a montanha-russa secções e fotos que flagram o momento de descida dos passageiros.
No entanto, há pistas que não são circuitos completos, podendo ter seu início em lançamentos impulsionados por mecanismos ou serem puxados para trás no início e lançados por um percurso que pode terminar em outra estação ou em uma subida de ângulo próximo a 90º e retornarem ao início de costas.
Existem numerosos fãs de montanhas-russas em todo o mundo. Alguns deles vão a parques de diversões, exclusivamente, para se divertir nelas, principalmente, quando há lançamento de uma nova que tenha batido algum recorde de velocidade ou inclinação ou até rapidez no percurso ou duma queda maior e mais abrupta.
Os carros comuns de montanha-russa não são puxados, sendo somente agarrados às pistas para não escaparem. Normalmente são erguidos através de cabos mecânicos sendo soltos ao topo da primeira “montanha” para adquirirem força, transformando a energia potencial em energia cinética, permitindo, assim, que os carros completem o percurso, ou parte dele, através desta força. A energia cinética é novamente transformada em energia potencial enquanto o trem se move novamente para o segundo pico, mas desta vez, dependendo da velocidade restante no início da subida do segundo pico, a energia pode ser convertida no meio da subida e não necessariamente no sopé. Isto é necessário independente da quantidade de energia perdida devido ao atrito. Então o trem desce novamente e levanta e assim por diante.
Entretanto, nem todas as montanhas-russas funcionam desta maneira. O lançamento pode ser ajustado por outros mecanismos. Algumas montanhas-russas vão para trás e para frente através da mesma trilha. São chamadas de Shuttles, algumas das quaissão movidas através de um tipo de locomotiva.
As mais antigas montanhas-russas descendem da Rússia. Os passeios de trenó no inverno prendiam-se em montes especialmente construídos no gelo, principalmente em torno de São Petersburgo.Uma dessas companhias foi a Les Montagnes Russes à Belleville que construiu uma montanha-russa de gravidade em Paris em 1812.
Interessante é o facto de a NASA anunciou que construirá uma montanha-russa para auxiliar o escape de astronautas da almofada de lançamento em uma emergência, aplicando-a, assim, pela primeira vez, em termos profissionais.
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MARÉS DE JUNHO
Sobem pelo cais, destemidas e afoitas, glorificando-se. Ora aparecem ora desaparecem ora se confundem com a inequívoca serenidade do oceano, imenso e infinito. Vêm carregadas, desejosas de lucubração e justiça e, se a ironia as persegue, escondem-se, passivas, temerosas, dispostas a carregar sobre si a amargura perturbante do silêncio eterno. Ao redor, uns sentados nas escadas, outros encavalitados em guindastes, videntes de todas as espécies, orgulham-se, como pavões, ironicamente vitoriosos. Julgam-se dominadores, os déspotas, presunçosos e altivos, arrogantes e sarcásticos. Envolvem-se em sorrisos malévolos, masturbam-se numa sabedoria aparente e ejaculam ignorância apodrecida. São dejectos da mais vil ignomínia.
E elas, as marés de Junho, perdem-se neste marulhar de ironias agonizantes. Vão e vêm. Partem incertas, sem destino e regressam destruídas, desfeitas como se nada mais conhecessem do que a insurgência pútrida daqueles desmazelados facínoras, de convicção errónea, que transmitem um niilismo degradante. Mas é, exclusivamente, a elas que cabe a culpa de quanta insegurança existe na transfiguração passiva de ilhéus, baixios e escolhos. Baías, enseadas, caneiros e poças sem vida porque sem marés de Junho
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RETALHOS DE GUERRA I
A partir de Maio de 1973 a situação militar na Guiné agravou-se paras Forças Armadas portuguesas, perante várias grandes ofensivas e ataques massivos por parte do PAIGC. No inicio de 1974, quando lá cheguei a situação era dramática, incluindo, a cidade de Bissau, onde o perigo espreitava a cada esquina.
Os altos comandos militares em Bissau haviam acompanhado o evoluir da situação militar, analisando as possibilidades do inimigo intensificar a acção antiaérea, em ordem a retirar às Forças Portuguesas, a liberdade de acção no ar; incrementar a acção da guerrilha em ataques a aquartelamentos e emboscadas a colunas; massificar as acções contra as povoações com guarnição militar, em ordem a obter sucessos politicamente exploráveis; intensificar a resistência à reocupação do Sul, incrementar a sua actividade contra meios navais, tentar a eliminação sistemática de guarnições mais expostas sobre a fronteira, estabelecer no Boé a fisionomia de um novo Estado e consolidar as bases de uma ulterior evolução do conflito para a fase convencional.
Na realidade, as ofensivas de envergadura do PAIGC com destaque para o ataque contra Guidage, unidade situada junto à fronteira com o Senegal, intensificaram-se. Para garantir a defesa de Guidage, o Comando-chefe da Guiné teve que enviar para a zona um conjunto elevado de unidades e tropas especiais, Comandos, Pára-quedistas e Fuzileiros, bem como unidades de artilharia e de cavalaria. A guarnição local, quando começou o cerco, era constituída por uma companhia de caçadores e por um pelotão de artilharia, equipado com obuses de 10,5cm num total de 200 homens, a maioria do recrutamento local.
Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou cerca de um mês, estiveram envolvidos mais de mil homens das Forças Armadas portuguesas, que sofreram 39 mortos e 122 feridos. Seis viaturas militares foram destruídas e abatidos três aviões. A guarnição de Guidage, nos cerca de 20 dias que ficou cercada esteve sujeita a 43 ataques com foguetões, artilharia e morteiros. Todos os edifícios do quartel foram danificados. Guidage ficou isolada por um cerco terrestre que se acentuou, na altura em que uma coluna saída de Farim accionou uma mina, sofrendo uma emboscada. A coluna, sofreu vários feridos e foi obrigada a regressar à base de partida.
Seguiram-se novas emboscadas e vários combates com um elevado número de mortos e feridos, alguns em estado graves.
Depois de contínuos massacres o PAIGC ameaçava isolar completamente Guidage, dados os campos de minas lançados, as emboscadas montadas e a impossibilidade dos meios aéreos actuarem, devido ao dispositivo antiaéreo de que dispunha.
Uma operação efectuada pelas tropas portuguesas, chamada "Ametista Real", o Batalhão de Comandos da Guiné assaltou a base de Cumbamori, pertença do PAIGC, situada em território do Senegal. A operação destinava-se a aliviar o cerco do PAIGC a Guidage e a permitir o reabastecimento daquela guarnição. De facto, só a destruição da base de Cumbamori, a grande base do PAIGC no Senegal, na península do Casamança, permitiria pôr fim ao cerco a Guidage. A operação era difícil e de resultados imprevisíveis. O ataque ao Senegal foi atribuído ao Batalhão de Comandos Africanos, comandado pelo major Almeida Bruno. Esta operação envolveu 450 homens do Batalhão de Comandos Africanos que embarcaram em lanchas da Marinha e subiram o rio Cacheu até Bigene, onde chegaram ao pôr-do-sol. À meia-noite a força de ataque seguiu dividida em três grupos de combate - o Agrupamento Bombox, comandado pelo capitão Matos Gomes, o Agrupamento Centauro, sob o comando do capitão Raul Folques e o Agrupamento Romeu, comandado pelo capitão pára-quedista António Ramos.
O comandante da operação, Almeida Bruno, seguiu integrado no Agrupamento Romeu, que levava um grupo especial comandado por Marcelino da Mata. Avançaram durante a madrugada e pisaram território senegalês cerca das seis da manhã do dia 20, sábado. Às oito horas, uma esquadrilha de aviões Fiat iniciou um forte bombardeamento da zona. Os pilotos atacaram um pouco às cegas, porque a exacta localização da base da guerrilha não era conhecida. Mas por sorte as bombas da aviação acertaram em cheio nos paióis. Mal cessou o ataque aéreo, os grupos comandados lançaram-se no assalto, enquanto o Agrupamento Romeu, comandado por António Ramos e onde seguia o comandante da operação, Almeida Bruno, tomava posição como força de reserva.
Os três agrupamentos envolveram-se em duros combates: “Os soldados de ambos os lados estavam tão próximos uns dos outros que era impossível delimitar uma frente”. O combate foi corpo a corpo e desenrolaram-se até às 14h10, altura em que Almeida Bruno deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as forças do Batalhão de Comandos e as do PAIGC. Mas este Agrupamento estava praticamente sem munições e Raul Folques ferido gravemente numa perna. A marcha em direcção a Guidage foi lenta e com várias emboscadas pelo meio. Só a meio da tarde cessaram os combates e os primeiros homens do Batalhão de Comandos começaram a chegar a Guidage, ao anoitecer.
Sabe-se que o PAIGC sofreu 67 mortos, entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos, enquanto os Comandos Portugueses sofreram dez mortos, dos quais dois oficiais, 23 feridos graves e três desaparecidos.
Uma nova coluna de reabastecimentos ficou retida em Farim, por ter sido atacada outra coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram no terreno, tendo as forças portuguesas sofrido quatro mortos e 16 feridos, dos quais nove graves.
Na luta por Guidage, o PAIGC utilizou a sua infantaria apoiada por artilharia pesada e ligeira, além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento utilizou foguetões, morteiros, canhões sem recuo, armamento ligeiro e mísseis de grande alcance.
Excertos retirados do livro Os Anos da Guerra Colonial de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes e Wikipédia
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GUILTY OR NOT GUILTY
O vento soprava com rajadas fortíssimas! E um barco arreou como se o mar estivesse calmo. Havia um criminoso na esquadra. Teimosa e convictamente, não confessava o crime de que o acusavam. Um polícia fardado de negro levantou os olhos, com o esforço de quem estivera acordado a noite inteira. Um homem destroçado é como um rato apanhado e preso numa ratoeira. O homem continuava calado.
O polícia colocou-lhe as algemas. O vento soprava com rajadas cada vez mais fortes. O barco afastara-se de terra a uma velocidade louca. Já ia longe! O criminoso, aldrabão de nascença e mentiroso por destino, embora algemado, continuava a afirmar a sua inocência. O polícia, farto de insistir, lia uma revista sobre automóveis com as chapas amolgadas.
De repente o vento parou. O barco já não se via. Apenas o criminoso continuava preso. Preso por casmurrice do polícia que, por nada deste mundo deixava de ler a revista.
Finalmente o homem falou e polícia colocou a revista sobre a secretária, besuntada de justiça. No fim, em desespero, pediu clemência. O polícia que ouvisse pelo menos os vizinhos, talvez os amigos, a ver se assim cativa o criminoso e descobria o motivo de o ter prendido. Contrafeito, o polícia aceitou que trouxessem os vizinhos, os amigos, os filhos, os sogros, quem ele quisesse.
Os sogros!? Sim porque ninguém cuidaria que os testemunhos dos sogros, se favoráveis à sua inocência, não seriam verdadeiros…
Na semana seguinte, vieram os sogros. O polícia, sisudo, taciturno, ouviu-os. Eles testemunharam a favor do genro, transformado em acusado. O criminoso foi libertado.
Tantos inocentes são condenados, talvez porque não têm sogros que testemunham sobre a sua inocência.
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ELEFANTE NA SOPA
Quando entrei na sala de jantar, da casa da prima Secundina, faltava marcar o último. A esperança, nesse momento, era vermelha e o azul tremia, tímido e expectante. Admirado, interroguei a prima Secundina, sobre a causa de tal descalabro. Ela esclareceu:
- Coincidia com o agendado há muito. Cometeram o primeiro erro em Coimbra. Arrastar o jovem promissor para voos tão altos, tirá-lo duma canada íngreme e sinuosa e enfiá-lo, sem mais nem menos e de repente, numa auto-estrada, fora um enorme disparate, Agora, estava patente um inequívoco desconforto.
- Desastre completo... Falha fulgorao Azul e a festa é, decididamente, forasteira.
A prima Secundina gostou da surpresa e saltitou contente perante a hipótese de ornamentar a sua sala com fitas de um colorido vermelho, inesperadas e abrupto.
O orgulho da glória nacional traz consigo a tragédia, dura, platinada e explosiva. Bem merecem…Para abater o orgulho e a vanglória:
- Então, meu caro, diga-me o que é que se passa para eles caírem com tamanha monstruosidade e em atmosfera tão enigmática? – Pergunta a minhaprima.
A resposta é grandiosa e chega mesclada de pedaços de ética e de bem-fazer, unidos ao espírito de missão e compromissos de honra.
- Agrada-me esperar que a nova época vai ser diferente, muito diferente. Vão ver!. Não imagina o tempo que se perde quando os meninos querem fugir. Que vão! Vêm outros, menos carismáticos mas melhor ensinados. Verão no verão.
A mesa parece querer sorrir e disfarçar o sombrio que irrompe. Um senhor de verde tenta desviar as atenções atirando para o ar brevidades esvoaçantes, relacionadas com as apostas do Bet 365.
O voo parte atrasado, mas parte
De repente, cai um elefante sobre a sobremesa, e acerta no prato da sopa. Por sorte, o prato era azul e não era o da prima Secundina…
Nesta neste azul, quando se convidam vermelhos, deve-se sempre ter cuidado com os pratos da sopa, para neles não caírem elefantes.
Desta feita, caiu um… e grande.
So delicious... I enjoy it.
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PIRADA 1974
Véspera de Páscoa, do ano da graça de 1974. A tarde, apesar de inquietante e trémula, aproximava-se, lentamente, do fim, mas disfarçava-se de alegre e folgazona. Garrafas de cerveja e copos de whisky esbanjavam-se em catadupa e misturavam-se gracejos supérfluos e a palavrões insignificantes, provocando um alarido desusado, transformando a pequena messe de oficiais do velho e caquéctico quartel de Pirada, numa espelunca de recordações perdidas, no epicentro duma camuflada alegria pascal, eivada de revolta, de indignação, de raiva e de melancolia.
Um ribombar repentino de obus, sem que ninguém o esperasse, silenciou por completo, a messe e todo o quartel Seguiu-se outro estrondo e mais outro, ainda maior. O silêncio escarrapachou-se em todos os olhares, o pânico instalou-se em todas as mentes.
- Porra! Estamos a ser atacados! – Gritou, exasperadamente o major, Seabra, que substituía, no comando do batalhão, o coronel Matoso que viera passar a Páscoa à metrópole. O alferes Aires reúne os seus homens à pressa e assume uma resposta rápida, com a artilharia. A confusão assume a liderança. Pirada estava a ser atacada massivamente. Continuavam os rebentamentos, aqui e além caiam morteiros, a pequena vila fronteiriça com o Senegal transformara-se, de repente, num mar de medos, de fugas e de gritos: Um tiroteio aéreo, com epicentro no interior do quartel, abalava, assustadoramente, o pequeno povoado.
Todo o quartel se refugiara nos abrigos e nas valas. Apenas o major Seabra, o alferes Aires juntamente com os homens da artilharia, por ele comandados e o furriel Secundino, das transmissões se mantinham nos seus postos. As trémulas luzes do quartel haviam-se apagado por completo. Apenas os holofotes da rede exterior compassavam reflexos dolentes a emperrar e obstruir entradasentradas.
Indiferente aos obuses e morteiros o dr Sabrosa, tenente e médico, calcorreava as valas uma a uma. Vigiava, cuidava, e repetia com desculpa insensata:
- Ando a ver o que se há-de cagar mais de medo!
Cuidava-se que para além de atingidos por uma basuca – o que seria morte imediata - nas incidências de tão abrupto e inesperado ataque, se provocassem danos morais. As valas, eivadas de condenados eram um rio de medo, um recinto de dor, uma arena de desolação.
A noite escurecera por completo e congregava ainda mais medos e sustos. O silêncio emergente da escuridão era apenas interrompido pelo ribombar de um novo rebentamento, vindo de longe, a assobiar como sanguessuga que perfurava o ar e ia cair não se sabia onde. Ao aterrar, apenas uma única certeza: não caíra sobre aqueles que ainda o ouviam.
Só de madrugada os tiros cessaram. Um a um os que se haviam escondido nas valas iam regressando aos seus postos. A escuridão continuava medonha no quartel, alguns oficiais, mais destemidos e habituados à guerra, recolheram-se, rapidamente. Em voz serena e pausada o 1º sargento Benavides, murmurava consigo, mas de forma a que o ouvissem:
- Esta merda tinha que dar torto! Não se esperava outra coisa depois do massacre que ontem se fez no Dambo!
- E sabe, meu primeiro,- acrescentou o Pimenta que caminhando ao seu lado, o ouvira – sabe uma coisa: não é que para além de matarem quase todos os habitantes da tabanca, ainda deixaram lá um letreiro a provocar o inimigo… Parece que o tal letreiro dizia “Amigo turra, esperamos-te, amanhã, em Pirada”
Não se enganara o 1º sargento Benavides. Ao massacre de Dambo, o PAIGC, de uma base anti-aérea sediada no Senegal disparara massivamente contra Pirada, unidade situada junto à fronteira com aquele país. Para garantir a defesa do Quartel e da população civil o comando-substituto deu ordens para a artilharia responder com obuses. A noite de Pascoa de 1974, em Pirada foi longa, ansiosa, terrível e muito dolorosa.
Miraculosamente, nessa noite, não houve mortos…
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OBRIGADO
A todos os que, ontem, tiveram a amabilidade de me enviar felicitações, quer através do meu email quer via FB, aqui deixo o meu sincero agradecimento.
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DESCANSA EM PAZ
Ontem, após a sua morte no passado dia 8 deste mês, foi depositada, num dos cemitérios de Arcara, no Norte da Califórnia, uma minúscula urna, com as cinzas, daquela que em vida se chamou Maria de Jesus Fagundes, onde ficarão guardadas para sempre.
Simples, pobre e humilde, mas digna e nobre na vida, Maria, minha irmã/mãe, também o foi na morte. Ela própria havia decidido em vida que, após a sua morte, nem velório, nem cortejo fúnebre, nem exéquias, optando ainda pela cremação do seu cadáver. Assim e, após a morte, num hospital da mesma cidade, onde sempre residiu, desde de que emigrou para os estados Unidos, em 1966, depois de os familiares e amigos dela se “despedirem”, no próprio hospital, o seu cadáver foi conduzido, apenas, pela carrinha funerária, até ao local da incineração.
Maria de Jesus Fagundes nasceu, na Fajã Grande das Flores, a 13 de Agosto de 1940. Teve uma infância curta, difícil e muito penosa, sendo habituada, desde de tenra idade, a ajudar a mãe nas pesadas e árduas tarefas domésticas e a cuidar dos irmãos mais novos. Após a morte inesperada da mãe, com apenas 12 anos, Maria foi obrigada a tornar-se mulher, passando a ser mãe, verdadeira e real, dos restantes cinco irmãos, um dos quais fui eu. Por isso e por tudo o que ela me deu como irmã/mãe, hoje aqui lhe presto a minha homenagem e manifesto a minha gigantesca gratidão, com um grande e sentido abraço ao Lucindo, o seu companheiro de vida e aos filhos, Zuraida, Carlos e Herlander.
Rest in peace, forever, Maria!
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ATALHOS E RETALHOS
Ontem foi dia de Páscoa. Decidi alterar o rumo da minha caminhada diária, pelas ruas circundantes da jovem urbe paredense. Optei pelo campo, atravessando os campos e vinhedos de Mouriz às fronteiras de Vila Cova de Carros. Contrariamente às previsões metereólogas, amanhã surgiu esplendorosa, iluminada por um sol, delirantemente, contagiante e enternecedor, convidativo e, generosamente, acolhedor.
Optei, nos espaços em que isso foi possível, caminhar por atalhos solitários, isolados, térreos e de piso irregular mas ladeados de campos verdejantes, de vinhedos promissores, regatos generosos e florestas assombradas. Dos campos pejados de forrageiras, erva, batatas, favas e cebolinho emanava um perfume adocicado, fresco e taumaturgo. Sabia a maré cheia de verdura e de encanto. Os vinhedos eram berçários florescentes dos cachos bebés, a definirem-se ainda em formas enigmáticas. Os regatos simulavam um murmúrio alegre, distinto e nobre, entrecortado apenas pelo canto cicioso dos pássaros e o esvoaçar atrevido das borboletas. Um açude calmo e prateado a silenciar o murmúrio sulcado pelas águas espumosas das quebradas.
Neste idílio primaveril, verde, sorridente, cativante, velhos solares, com portões brasonados, encimados por cruzes e botaréus, a ruírem e a desmoronarem-se, sozinhos, amordaçados, escuros e tímidos. Num abandono total e oblíquo, à espera do fim. Retalhos desfeitos de um passado enigmático
Sob a sombra ternurenta de uma árvore, enquanto ao longe ribombavam os foguetes do compasso, um homem, indiferente ao eminente desmoronar-se dos solares, lia o jornal.
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CAMPEÕES NACIONAIS
Top de Clubes Campeões Nacionais de Portugal:
- Sport Lisboa e Benfica 33 títulos
- Futebol Clube do Porto, 27 »
- Sporting Clube de Portugal, 18 »
- Club Futebol Os Belenenses 01 »
- Boavista Futebol Clube, 01 »
Lista de Campeões Nacionais por anos:
1934/35 F. C. Porto
1935/36 Benfica
1936/37 Benfica
1937/38 Benfica
1938/39 F. C. Porto
1939/40 F. C. Porto
1940/41 Sporting
1941/42 Benfica
1942/43 Benfica
1943/44 Sporting
1944/45 Benfica
1945/46 Belenenses
1946/47 Sporting
1947/48 Sporting
1948/49 Sporting
1949/50 Benfica
1950/51 Sporting
1951/52 Sporting
1952/53 Sporting
1953/54 Sporting
1954/55 Benfica
1955/56 F. C. Porto
1956/57 Benfica
1957/58 Sporting
1958/59 F. C. Porto
1959/60 Benfica
1960/61 Benfica
1961/62 Sporting
1962/63 Benfica
1963/64 Benfica
1964/65 Benfica
1965/66 Sporting
1966/67 Benfica
1967/68 Benfica
1968/69 Benfica
1969/70 Sporting
1970/71 Benfica
1971/72 Benfica
1972/73 Benfica
1973/74 Sporting
1974/75 Benfica
1975/76 Benfica
1976/77 Benfica
1977/78 F. C. Porto
1978/79 F. C. Porto
1979/80 Sporting
1980/81 Benfica
1981/82 Sporting
1982/83 Benfica
1983/84 Benfica
1984/85 F. C. Porto
1985/86 F. C. Porto
1986/87 Benfica
1987/88 F. C. Porto
1988/89 Benfica
1989/90 F. C. Porto
1990/91 Benfica
1991/92 F. C. Porto
1992/93 F. C. Porto
1993/94 Benfica
1994/95 F. C. Porto
1995/96 F. C. Porto
1996/97 F. C. Porto
1997/98 F. C. Porto
1998/99 F. C. Porto
1999/00 Sporting
2000/01 Boavista
2001/02 Sporting
2002/03 F.C. Porto
2003/04 F.C. Porto
2004/05 Benfica
2005/06 F.C. Porto
2006/07 F.C. Porto
2007/08 F.C. Porto
2008/09 F.C. Porto
2009/10 Benfica
2010/11 F.C. Porto
2011/12 F.C. Porto
2012/13 F.C. Porto
2013/14 Benfica
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LIMPEZAS PRÓ COMPASSO
Hoje, como habitualmente, realizei mais um percurso pedestre ao redor da Cidade de Paredes, com um itinerário de cerca de 5 Km. Iniciei-como habitualmente, no edifício Fonte Sacra, percorrendo grande parte da CRIP, regressando ao sítio de onde partira.
Nas ruas, passeios, pátios, portas, janelas, casas, tascos, um burburinho medonho. Não havia rua, passeio, pátio, porta, janela, casa, tasco, entrada de prédio que resistisse à fúria avassaladora das vassouras, manqueiras, detergentes e baldes de água. Uma limpeza geral da cidade em geral e de cada casa em particular. Só a partir de determinada altura me lembrei que, afinal, tudo isto tem uma explicação muito simples e tem uma razão muito plausível. Trata-se da preparação para a eminente visita pascal, vulgo compasso, que na boa tradição nortenha deve ser preparado com uma certa antecedência, através de uma boa barrela, efectuando-se, assim, uma limpeza mais profunda e exigente às ruas, aos passeios e às casas, por vezes até caiando ou pintando muros e sempre arranjando e enfeitando os jardins.
Na realidade, as pessoas são todas muito cuidadosas com a limpeza das ruas, das casas e com o arranjo das mesmas. Antigamente já era assim, nos meios rurais e nas aldeias: os homens cuidavam da parte exterior da casa ficando a parte interior ao cuidado das mulheres. Os homens arrumavam o pátio, tiravam as ervas, limpavam a rua, dando um ar festivo a tudo, enquanto as mulheres esfregavam o soalho com sabão e escova e preparavam a sala, enfeitando-a muito bem, colocando-lhe uma a toalha de lino bordada.
Há, inclusivamente, quem ainda hoje considere que um dos grandes benefícios do compasso, para além do aspecto religioso e de agregação das famílias, seja o da higiene!
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LAMENTO DA SEBE PODADA
Lamento o choro dos salgueiros, dos álamos e dos choupos
E ouço, ao longe a voz da desistência, das mãos atadas, encolhidas,
Tentando remendar o silêncio das folhas destroçadas, tentar
Estimulando os murmúrios aveludados dos ramos destruídos.
Hoje é dia de dor pujante, de silêncio amargurado, de sonhos inacabadas,
Onde se revolta, dramaticamente, a destruição dos troncos virgens,
Das folhas imberbes, da robustez consubstanciada no desalinho.
Espaço perdido, contra o qual u vento se atira, loucamente,
Como se acalentasse o suplício das folhas destruídas
E as confundisse com os destroços de guerras nunca terminadas,
Onde as flores murcham, à porfia, e as fontes secam, em frenético reboliço.
O nítido brilhar das gotículas de água, cessa a inebriante teimosia
De se suspender nas folhas verdejantes
E surgir, apenas, como arquétipo da desilusão e da amargura,
Na companhia da verdade perdida, salpicada de brisas matinais.
A decisão da poda, mesmo que turva de ilusões, é sempre cruel,
Excede-se em labirintos energúmenos que o próprio vento não desfaz.
Talvez, depois da poda, o vento se minimize e aquiete súplicas
Na eminência dum recheio opípara, ornado de encanto e ternura.
Sebe de cor verde, quando te revoltas,
A tua voz ergue-se silenciosa e indefinida
Transformando a demência dos teus troncos,
Velhos e entontecidos,
E a linearidade das tuas folhas,
Truncadas e fendidas,
Numa doce ilusão, onde domina quietude
Onde há beleza perene e elegância salutar.
Durante toda a tua curta vida,
- curto período em que não és podada -
Acredita que o vento continua a ser o teu amante
Mesmo que as tuas folhas amareleçam
E os teus caules se calcifiquem de musgos e limos.
O que eu quero é ver-te no meu jardim
Podada, sim, mas elegante e altiva.