PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A ÁGUA DA FAZENDA (DIÁRIO DE TI'ANTONHO)
“Meu pai contava que quando era pequeno ouvia contar que há muitos, muitos anos o povo da Fazenda Vila, andava muito entusiasmado porque estava finalmente a realizar um sonho já velho: construir a sua igreja, dedicada a Nossa Senhora de Lourdes. Tinham escolhido um lugar alto e vistoso, de onde se podia avistar não só quase todas as casas do lugar mas também os terrenos verdes salpicados do azul das hortênsias, na Primavera e Verão ou ainda de onde podiam ver e observar o mar até ao horizonte.
Aquela gente andava muito contente mas também muito cansada porque tinha de fazer os seus trabalhos nas terras e não eram poucos mas tinham também que ajudar nas obras da sua igreja. Mas o pior é que não havia água nas redondezas, tinham que a ir buscar muito longe, o que dificultava ainda mais os seus trabalhos. Enquanto os homens iam levantando as paredes com os mestres, as mulheres e as crianças caminhavam de latas e baldes de madeira à cabeça para a Ribeira de Além, buscar água. De lá traziam, com grande esforço sacrifício, a água que os homens precisavam para ir fazendo a argamassa. Várias vezes, durante a viagem, debaixo de um calor intenso, as mulheres pediram a Nossa Senhora de Lourdes que lhes deparasse uma coisinha de água, ali mais perto. E não +e que Nossa Senhora fez o milagre…
Uma certa noite, enquanto todos dormiam profundamente e descansavam de um dia de muito trabalho, a água nasceu na rocha e começou a correr com abundância ao pé do lugar onde estavam a levantar as paredes da igreja. De manhã, ao chegarem, os trabalhadores ficaram muito admirados com toda aquela força de água. Então as pessoas da Fazenda, animados na sua fé, trabalharam ainda com mais vontade, até acabar a construção da sua igreja.
Mas a água continuou a correr numa fonte debaixo da sacristia da igreja de Nossa Senhora de Lourdes. Os florenses, em geral e os fazendenses em particular, começaram a sentir uma veneração muito especial por esta água fresca que, para além de os ajudar na construção da igreja, curou muitas doenças às pessoas, algumas vindas de freguesias distantes só para beber a milagrosa água de Nossa Senhora de Lourdes.
Passaram-se muitos anos. A igreja precisava de ser pintada. Pois o povo daquele lugar, ensaiou umas belas músicas e percorreu a ilha toda a pedir ajuda para conseguirem o dinheiro para comprar as tintas. Também vieram aqui à Fajã. Pernoitavam em casas de pessoas amigas e cantavam assim pelas portas de todas as casas:
Nossa Senhora de Lourdes,
É que vos há-de abençoar,
Se derdes a vossa esmola
P´ra pintar o seu altar.”
Correram a ilha inteira e pediram em todas as casas. Cada um dava como podia e, assim, conseguiram, restaurar a sua igreja,”