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A BELA INFANTA

Sexta-feira, 31.01.14

“A Bela Infanta” é um poema romanceado da tradição popular portuguesa, recolhido por Almeida Garret  e muito divulgado e conhecido em todo o país. A Fajã Grande que sempre se revelou, talvez devido ao seu isolamento, como um excelente e amplo viveiro de desenvolvimento de textos orais, não podia alhear-se deste, assim como de um outro muito conhecido, “Nau Catrineta”. Tal como os outros rimances, “A Bela Infanta” contava-se aos serões das longas noites de Inverno, mas com algumas pequenas diferenças do texto recolhido por Almeida Garret, sobretudo por utilizar algumas palavras ou expressões que eram utilizadas na linguagem típica e corrente na freguesia e até na ilha das Flores. Rezava mais ou menos assim:

 

“Estava a bela Infanta

No seu jardim assentada

Com o pente de oiro fino

Os seus belos cabelos penteava.

Voltou os seus olhos ao mar

Viu vir uma nobre armada;

Capitão que nela vinha,

Muito bem que a governava.

- «Dize-me tu, ó capitão

Dessa tua nobre armada,

Se encontraste o meu marido

Na terra que Deus pisava.»

- «Anda tanto cavaleiro

Naquela terra sagrada...

Diz-me tu, ó senhora,

As senhas que ele levava.»

- «Levava cavalo branco,

Selim de prata doirada;

Na ponta da sua lança

A cruz de Cristo levava.

- «Pelos sinais que me deste

Lá o vi numa estacada

Morrer de morte matada:

Eu sua morte vingava.»

«Ai triste de mim viúva,

Ai triste de mim coitada!

Das três filhinhas que tenho,

Nenhuma delas é casada!...»

- Que darias tu, senhora,

A quem o trouxesse aqui?»

- «Dera-lhe oiro e prata fina,

Quanta riqueza há por aí.»

- «Não quero oiro nem prata,

Não nos quero para mi:

Que darias mais, senhora,

A quem o trouxesse aqui?»

- «Os três moinhos que tenho,

Todos três são para a ti;

Um mói o cravo e a canela,

Outro mói o gerzeli:

Rica farinha que fazem!

Tomara-os el-rei para si.»

- «Os teus moinhos não quero,

Não nos quero para mi:

Que darias mais, senhora,

A quem o trouxesse aqui?»

- «As telhas do meu telhado

Que são de oiro e marfim.»

- «As telhas do teu telhado

Não nas quero para mi:

Que darias mais, senhora,

A quem o trouxesse aqui?»

- «De três filhas que tenho,

Todas três são para ti:

Uma para te calçar,

Outra para te vestir,

A mais formosa de todas

Para contigo dormir.»

- «As tuas filhas, infanta,

Não são damas para mi:

Dá-me outra coisa, senhora,

Se queres que o traga aqui.»

- «Não tenho mais que te dar,

Nem tu mais que me pedir.»

- «Tudo, não, senhora minha,

Que inda não te deste a ti.»

- «Cavaleiro que tal pede,

Que tão vilão é de si,

Por meus vilões arrastado

O farei andar aí

Ao rabo do meu cavalo,

À volta do meu jardim.

Vassalos, os meus vassalos,

Acudi-me agora aqui!»

- «Este anel de sete pedras

Que eu contigo reparti...

Que é dela a outra metade?

Pois a minha, vê-la aí!»

- «Tantos anos que chorei,

Tantos sustos que tremi!...

Deus te perdoe, marido,

Que me ias matando aqui.»”

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publicado por picodavigia2 às 09:42





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