PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A FESTA DO ESPÍRITO SANTO DA CUADA
A Cuada, embora não tivesse capela ou ermida, tinha uma casa de Espírito Santo, a mais antiga da Fajã Grande, construída em 1841, sendo também uma das mais antigas da ilha, uma vez que antes da data da sua edificação, penas foram construídas na ilha das Flores duas casas de Espírito Santo, uma em Ponta Delgada em 1819, a Casa do Espírito Santo da Terra Chã e outra nas Lajes, a Casa do Espírito santo da Vila, no mesmo ano. A razão histórica que terá levado à construção desta casa, muito antes das duas da Fajã e uma na Ponta, não é fácil de descortinar mas prende-se com algumas narrativas lendárias. Na verdade e segundo algumas lendas, antigamente o povo da Fajã Grande, com as suas habitações muito próximas do mar, era frequentemente assaltado por piratas que entrando no povoado, pilhavam, roubavam, assaltavam e violavam as mulheres. O povo indefeso era forçado a fugir para locais mais interiores, por vezes até para o mato, onde permanecia escondido até os malditos desistirem dos seus malévolos intentos e abandonarem o povoado. Nesses momentos de terror invocavam a ajuda do Senhor Espírito Santo e um dos lugares onde se refugiavam, mais frequentemente, era a Cuada, talvez por ser sítio ermo, encastoado entre arvoredos e plantado num planalto de onde podiam avistar o mar. Daí o facto desta casa do Espírito Santo ter sido a primeira construída em todo o amplo espaço das Fajãs e essa a razão pelo qual, hoje com ontem, estão ligados os habitantes quer da Fajã quer da Fajãzinha.
A casa assemelha-se a uma pequena ermida, onde não falta a torre sineira, e era nela que se realizava a maior festa Cuada – a Festa do Espírito Santo
Eram dois ou três dias de festa. Mas a grande festividade a que se deslocava muita gente da Fajã e da Fajãzinha era no domingo. Durante a semana eram cantadas as Alvoradas, na sexta havia a matança do gado e no domingo, missa com um enorme arraial, no pátio da casa, durante toda a tarde. A festa era realizada no domingo da Trindade, uma vez que o anterior, ou seja, o domingo de Pentecostes era reservado para a festa da Casa de Cima, na Fajã Grande. Era pois na semana da Trindade, durante a qual se cantavam as Alvoradas que também era rezado o terço todos os dias, As alvoradas eram tocadas à terça-feira, quinta e sábado, pelos seus próprios foliões, comandados pelo Bygoret. Acrescente-se que nos domingos anteriores, desde a Páscoa, a coroa da Cuada se deslocava em cortejo até a Fajã, rumando à igreja, onde permanecia juntamente com as das Casa de Baixo e de Cima. Cheia de simbolismo e tradição, a festa da Cuada era muito apreciada e ainda hoje continua a realizar-se, pese embora a Cuada já não possua residentes permanentes.
Atualmente conta com 102 mordomos da Fajã, que no final da sexta-feira e durante a noite vem ao Império da Cuada levantar o seu “arlique/peso” de carne, que cada qual paga. Hoje como antigamente, os chambões são arrematadas com o fim de aliviar o custo da carne de cada mordomo. A festa culmina no domingo com a ida das pessoas levando as insígnias a pé desde o império na Cuada até à igreja da Fajã Grande, sendo que na parte final do percurso são incorporadas uma imagem da Rainha Santa Isabel e as coroas e bandeiras do Espírito Santo das Casas de Baixo e de Cima e de São Pedro que vêm ao seu encontro para em conjunto remarem até à igreja onde é celebrada uma missa cantada.
Hoje como ontem a festa da Cuada atrai e encanta quantos ali se deslocam para festejar o paráclito em domingo de Trindade.