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A FREGUESIA DO MOSTEIRO - ILHA DAS FLORES

Quarta-feira, 29.01.14

O Mosteiro, em população, é a freguesia mais pequena dos Açores e uma das menores de Portugal, uma vez que, de acordo com os últimos censos, tem apenas a módica quantia de 43 habitantes, numa área de 6,20 km², o que lhe dá uma densidade populacional de 6,9 hab/km².

Situada na costa sudoeste da ilha das Flores, o Mosteiro apresenta-se como local de uma beleza paisagística bucólica e idílica, com as casinhas muito brancas, plantadas entre o verde das relvas, dos milheirais e dos batatais, delineada pelo mar e pela rocha dos Bordões e por muitas outras formações graníticas, altas e imponentes, que por ali proliferam. Como paróquia católica, o Mosteiro tem como orago a Santíssima Trindade, embora a festa principal fosse, outrora, de homenagem a Santa Filomena, o que na década de cinquenta trouxe alguns dissabores e um ou outro amargo de boca à população, acabando por fazer desaparecer a festa, na altura em que foi posta em causa a idoneidade e a veracidade histórica da santa virgem e mártir, dada a conhecer ao mundo através das revelações pela Serva de Deus Maria Luísa de Jesus.

O seu nome, que em tempos se designou Mosteiros, parece derivar de uns imensos rochedos que delimitam a freguesia, a nordeste e, que vistos do mar se assemelham a torres de um gigantesco edifício monástico. Esta origem é comprovada pela tradição local e pela semelhança com o topónimo Mosteiros, aplicado a uma freguesia da costa ocidental da ilha de São Miguel, cujo nome, segundo consta, também tem a sua origem nuns grandes rochedos que formam os ilhéus dos Mosteiros. Esta ligação onomástica entre as duas localidades é reforçada pela origem do primeiro povoador da vizinha freguesia, do Lajedo, João Soares, que ali se fixou vindo do então lugar dos Mosteiros, em São Miguel.

Esta zona da costa ocidental das Flores, onde está localizada a freguesia do Mosteiro e a sua vizinha do Lajedo, assim como os lugares da Costa, do Campanário e da Caldeira, este actualmente despovoado, é extremamente alta e rochosa. Por essa razão, cuida-se que terá começado a ser desbravada, apenas, em meados do século XVI, com os primeiros núcleos populacionais estáveis a surgirem nas primeiras décadas do século seguinte. Assim, o lugar do Mosteiro, só surge, estruturado como povoado, em Julho de 1676, altura em que é desanexado da freguesia das Lajes das Flores, a que pertencia, apesar da grande distância a que se situava e dos maus caminhos por que se ligava. Por essa altura, ao ser desintegrada das Lajes, foi incluído e passou a integrar a paróquia das Fajãs, então com sede na igreja de Nossa Senhora dos Remédios da Fajãzinha e que para além destas duas localidades, ainda incluía a Fajã Grande.

Como a população do Mosteiro, apesar de nele se incluir também o local da Caldeira, não crescesse significativamente, aquela localidade manteve-se como curato da paróquia da Fajãzinha, ao longo dos séculos seguintes, mesmo depois de se desanexar a Fajã Grande. Este travo tornou-se amargo para o Mosteiro, cerceou-lhe os horizontes de crescimento e desenvolvimento e manteve a localidade como uma comunidade pequena e pobre, onde os habitantes retiravam o seu sustento dos campos, dos matos e, num caso ou outro, da pesca. Segundo o padre José António Camões, quando o Mosteiro foi elevado a freguesia, possuía apenas 31 fogos, com 83 homens e 92 mulheres, acrescentando que “tem 8 casas de telha, e nenhum homem calçado”.

Assim o Mosteiro foi elevado a freguesia, apenas devido à filantropia do aventureiro António de Freitas, um ex-seminarista nascido precisamente no lugar do Mosteiro, freguesia da Fajãzinha, que esteve emigrado em Macau, onde fez grande fortuna no tráfico do ópio e na compra de crianças pagãs. No ano de 1846, tendo regressado às Flores, decidiu financiar a construção de uma igreja condigna no Mosteiro, dedicando-a à Santíssima Trindade, em sinal de reconhecimento por ter conseguido salvar todos os seus bens. Foi assim que o pequeno povoado veio a dispor do templo que hoje de forma algo incongruente marca a paisagem da freguesia.

Reunindo 90 fogos e cerca de 300 habitantes e dispondo de igreja e cemitério, em 1850, por decreto da rainha D. Maria II de Portugal datado de 23 de Outubro daquele ano, o Mosteiro foi elevado a paróquia, formando, conjuntamente com o lugar da Caldeira, uma nova freguesia. O decreto muda o nome à localidade, cuida-se que por um erro, já que o lugar dos Mosteiros dá lugar à freguesia do Mosteiro. Porque o templo edificado por António de Freitas se encontrava decentemente ornado e provida de paramentos e mais alfaias litúrgicas necessárias para o Culto Divino, a paróquia o Mosteiro foi, também, desanexado da Fajãzinha, por alvará do bispo de Angra, D. Frei Estêvão de Jesus Maria, datado de 18 de Novembro desse mesmo ano de 1850. A ermida inicial foi melhorada por iniciativa do padre Caetano Bernardo de Sousa, que paroquiou no Mosteiro de 1896 a 1915, tendo acrescentado então uma nova capela-mor, retábulos e uma sacristia. O retábulo da capela-mor, concluído em 1906, é da autoria do artista faialense Manuel Augusto Ferreira da Silva. O cemitério da localidade recebeu o seu primeiro enterramento a 8 de Outubro de 1847.

Como todas as restantes freguesias do concelho das Lajes, o Mosteiro esteve integrado no concelho de Santa Cruz das Flores, no período que mediou entre 18 de Novembro de 1895 e 13 de Janeiro de 1898, durante o qual aquele concelho esteve suprimido.

No período de 1893 a 1896 foi pároco do Mosteiro o contista e escritor picoense, Francisco Nunes da Rosa, onde o seu primeiro livro “Pastoraes do Mosteiro”, uma das obras-primas da literatura contista açoriana, foi escrito.

Para além da igreja paroquial da Santíssima Trindade, a freguesia dispõe de um império do Divino Espírito Santo e vários moinhos de água, localizados junto às ribeiras que por ali abundam, mas hoje abandonados. Muitas das casas mantêm traços típicos, sobretudo nos arcos das portas e no cemitério existe um interessante monumento em memória de António de Freitas. Para além da festa da Santíssima Trindade, a freguesia celebra anualmente as grandes festividades do Divino Espírito Santo, centradas em torno do seu império, e a Festa de São Pedro.

Mas impressionantemente notável é o património paisagístico que rodeia a freguesia, com paisagens de grande equilíbrio, marcadas pelos pináculos e agulhas rochosas que deram o nome ao lugar. Os mais notáveis são o Cabeço do Sinal, o Cabeço da Muda e os panoramas que se gozam do Portal Poio e da Cruz dos Bredos. A freguesia mantém activo um Grupo de Foliões para abrilhantar as suas festas do Divino Espírito Santo, tradição multissecular. O rico artesanato tradicional da costa ocidental das Flores, com cestaria em vime, colchas em tear, rendas e bordados, encontra-se em decréscimo devido ao despovoamento e pelo crescente desenraizamento da população. O mesmo acontece com a gastronomia local, em tempos caracterizada por confecções como inhame com linguiça, feijão com cabeça de porco, sopas de agrião de água e de couve, torta de erva do mar, bolos caseiros, filhós de entrudo e folar da Páscoa.

 

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