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A FUGA

Sábado, 25.01.14

Foi na véspera dos anos de Mariana que ela, os pais e o irmão partiram para a França. Para os vizinhos e amigos iam às Caldas, a casa dos avós maternos, passar o aniversário da menina.

Quando chegaram a Bragança, um tipo de aspecto esquisito aproximou-se, recebeu-os e, ostentando disfarçadamente uma premeditada intenção, ofereceu-se, como taxista, para os levar a Gimonde. Que esperassem um pouco sem dar muito nas vistas. A viagem era curta e só à meia-noite em ponto deviam estar em Talhinhas junto à ponte de Remondes, sobre o rio Sabor. O plano em nada falhou. Ao dar a meia-noite, lá estavam juntando-se a eles dois desconhecidos, com quem teriam que efectuar uma longa e perigosa viagem. Pouco depois, chegou o guia que, disfarçadamente, os acompanhou e conduziu até à fronteira.

Era Outubro. As noites já eram grandes e frescas. As crianças começaram a sentir fome e frio. O pai de Mariana, pensando nos pequenos, prevenira-se com comida, em Bragança, mas o Zezito não se calava e, em vão, pedia leite. O choro e a impaciência começavam a importunar. A mãe, vezes sem conta, arrependia-se de ter partido.

Na manhã seguinte, uns a dormir e outros acordados, chegaram a Puebla de Sanábria, em Espanha, juntando-se a alguns pequenos grupos que tinham passado a fronteira noutros locais. Alguns dias depois estavam em Dancharie na França, onde o último guia os deixou.

- Agora tomem o comboio e sigam os vossos destinos conforme as instruções que vos deram. Governem-se, como puderem – e virou costas.

O comboio ainda parou em Puyoô e em Agen onde saíram alguns portugueses. Apenas um pequeno grupo seguiu para Clermont-Ferrand.

Na capital de Auvergne o pai de Mariana procurou o Cardoso, que morava na rua de La Rotunde e desde há muito estava radicado em França. Os conhecimentos que tinha junto dos patrões de algumas fábricas de pneus, metalurgia, produtos farmacêuticos e alimentares proporcionavam-lhe que fosse arranjando alguns empregos e residências para os que o Ramalho lhe recambiava de Portugal. Era uma maneira de, à socapa, ganhar mais algum. O que tinha disponível de momento era numa fábrica de pneus. Não era nada mau.

- O trabalho é pesado, mas vais ganhar bem. És novo e forte. Se com o teu trabalho agradares aos patrões, tens promoção pela certa. Já sabes que para aqui não se vem passar férias.

O alojamento é que estava um pouco complicado. Para já só conseguira um quarto, um pouco distante da fábrica. Era na rua Berlliard. A mulher podia usar a cozinha e o preço era acessível. Em breve lhe arranjaria uma casita. Havia um tipo de Viana que, em breve, ia tentar melhor sorte em Paris e deixava casa vaga. Já a tinha “apalavrada”. Quando ele fosse embora ficaram de vez com a casa.

E no dia seguinte, o pai de Mariana começou a trabalhar na fábrica de pneus “ La Souquete”.

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publicado por picodavigia2 às 12:31





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