PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A IGREJA DE TODOS OS SANTOS, DE PONTA DELGADA
A Igreja de Todos-os-Santos, mais conhecida como Igreja do Colégio dos Jesuítas, localiza-se no centro histórico da cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores. É chamada de igreja de Todos-os-Santos, por o lançamento da primeira pedra ter ocorrido no dia 1 de Novembro de 1592. Juntamente com o templo e paralelo a este, foi construído, pelos religiosos da Companhia de Jesus, um convento onde os frades jesuítas estabeleceriam o seu Colégio na cidade. A igreja foi reconstruída na primeira metade do século XVII, quando adquiriu a actual fisionomia. Os trabalhos iniciaram-se em 1637, sendo o frontispício adossado ao anterior. Entre 1643 e 1646 foi instalado o novo retábulo na capela-mor. A nova fachada foi concluída em 1666. Nesta igreja pregou o padre António Vieira, por ocasião da festa da Santa Teresa de Jesus, no dia 15 de Outubro de 1654.
Com a expulsão da Companhia de Jesus do reino de Portugal, à época Pombalina, o valioso recheio da igreja foi dispersado. Era na biblioteca do Colégio que se encontravam importantes documentos da história dos Açores, como por exemplo, o acervo de Gaspar Frutuoso, inclusive o manuscrito das Saudades da Terra. Hoje a igreja do colégio encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público, tendo sido recuperada e requalificada. Desde 2004 que se fechou ao serviço litúrgico e passou a abrigar o núcleo de arte sacra do Museu Carlos Machado, no qual se destaca a pintura “A Coroação da Virgem”, de Vasco Pereira Lusitano. Em 2008 nela foi instalado um grande órgão, obra do organeiro Dinarte Machado, inaugurado por Ton Koopman. ´Nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado, funciou ali uma dependència do Seminário diocesano.
Trata-se de um templo de uma beleza singular e de um valor histórico inexaurível, destacando-se a magnífica talha da capela-mor em cuja construção foram utilizadas madeiras de árvores muitas delas endémicas dos Açores, como o teixo, o cedro, o bucho, faia, vinhático e o pau-branco. A ornamentação do altar-mor, do arco triunfal e dos retábulos laterais eram arautos de um eloquente testemunho da liberdade decorativa do Barroco. Coexistia ali uma variedade enorme de elementos decorativos, de elevado requinte artístico, destacando-se motivos vegetalistas e zoomórficos, colunas salomónicas, torneados e concheados. No altar-mor podia ver-se uma infinidade de anjos em diferentes poses e nas amplas e altas paredes das duas enormes sacristias pendiam vários quadros pintados a óleo de pintores notáveis.
É verdade que a talha da capela-mor não é pintada a ouro, como a da maioria das igrejas açorianas, tinha antes uma cor acastanhada, muito próxima da cor da própria madeira. Tal facto, no entanto, não lhe retirava a beleza. Pelo contrário, esta singularidade e esta singeleza faziam realçar ainda mais a beleza natural da talha. Também o frontispício era um emaranhado magnífico de pedra basáltica, conjugada com a fluência inebriante e singular das portadas e janelas.