PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LEI DA FORÇA
Conta-se que antigamente vivia na Ponta, no lugar do Outeiro um homem que tinha muitos filhos. O homem era pobre e nada tinha de seu, pelo que, para sustentar os filhos tinha que arrendar terras a meias, estabelecendo contratos mediante os quais devia entregar aos donos das terras metade do que nelas produzia. Mas como a família era numerosa o homem gastava tudo o que produzia no sustento da mulher e dos filhos, pelo que deixou de entregar aos proprietários das terras o que lhes cabia por direito.
Como não pagava aos senhorios, estes foram à Vila, queixar-se ao Juiz que, chamando o homem à sua presença, decidiu tirar-lhe todas as terras e entregá-las aos verdadeiros donos.
O homem, descontente e desesperado com a decisão do Juiz, resolveu armar-se e armar os seus filhos com foicinhos, enxadas e varapaus e assim partiram todos para Santa Cruz na demanda do tribunal, fora do qual organizaram tamanha revolta e fizeram tão algazarra que o Juiz, temendo o pior, foi obrigado a alterar a sua decisão, conseguindo o homem de novo a posse das terras e os donos nada podendo fazer, pois o homem ameaçara que também se havia de armar juntamente com os seus filhos, uns valentes rapagões, frente às suas casas.
Mas consta também da estória que algum tempo depois todos os donos das terras, acompanhados de familiares e amigos se apresentaram em frente à casa do homem, armados da mesma maneira e fazendo ainda uma maior algazarra e uma mais grandiosa revolta do que a que ele fizera com os filhos junto ao tribunal. O homem teve medo, meteu a mão na consciência e, daí em diante, com a ajuda dos filhos, passou a cumprir com rigor todos os contratos de arrendamentos de terras que trabalhava mas não lhe pertenciam.