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A LENDA DAS AMENDOEIRAS EM FLOR

Terça-feira, 21.01.14

Conta-se que há muitos séculos, antes de Portugal ter nascido, no tempo em que o Al-Gharb (Algarve) ainda pertencia aos Árabes ou Mouros, reinava naquele território um jovem e audaz monarca de nome Ibne-Almundim, o famoso valido de Allah, porque nunca perdera uma batalha ou, sequer, sofrera uma derrota e era o mais temido dos reis mouros do seu tempo.

Ora num dia, após mais uma das suas retumbantes vitórias sobre os reis cristãos do norte da Península, aconteceu que o facínora vislumbrou uma linda princesa muito loura, de olhos azuis e de porte altivo, filha de um rei que havia sido derrotado por ele próprio. Gilda era o nome desta menina de rutilante beleza e que, de imediato, prendeu a atenção daquele rei árabe. Gilda era princesa num reino do Norte e filha de rei cristão. Após a batalha, Ibne-Almundim raptou-a, levando-a consigo para o seu longínquo reino do Al-Gharb. Não obstante, a sua beleza fulgurante, Gilda tinha uma personalidade forte e bem marcada e não se mostrava com medo e, por isso, procedeu, no seu relacionamento com ele, não como esposa mas sim com uma aguda consciência de que era sua prisioneira ou escrava, embora nunca se esquecendo da sua condição de princesa. Obedecia ao rei mouro, frisando sempre a relação de obediência e escravidão que a unia a ele, uma vez que ele próprio a raptara e fizera prisoneira.

Cansado de possuir a sua amada desta forma tão pouco natural e desejando-a, antes, como esposa de verdade, lbne-Almundim, finalmente, um dia, soltou-a e deu-lhe liberdade para ela ir onde quisesse e fazer tudo quanto lhe apetecesse. Um sorriso de gratidão, simpatia e confiança foi a resposta de Gilda, ao seu desejo mais íntimo. Todavia, a reacção da bela princesa a este acto inesperado, foi bem contrária à vontade e intenção do rei mouro que, de governante alegre, poderoso e invencível, passou a andar sombrio, sorumbático e com demoradas e excessivas crises de mau humor. Havia um sentimento que não só limitava a sua força e espírito de herói mas que também o sufocava e oprimia: era o desejo e a necessidade de voltar a ver Gilda, de lhe falar, de a ouvir, de a ter como verdadeira esposa. Deixando-se vencer pela paixão, Ibne-Almundim foi ter com Gilda e revelou-se-lhe como ninguém o conhecia, despido da fama, do dinheiro, do respeito, do espírito bélico e envolvido num tom de voz amiga, doce e meiga. Perante o pedido do rei árabe para ela ser sua mulher, Gilda rendeu-se às suas palavras e a festa da boda, de grande aparato e sumptuosidade, logo ocorreu, com gente de todos os reinos, carregados de preciosas oferendas, trovadores e músicos de terra distantes, bailarinas de corpos ondulantes que espalhavam magia pelo ar. No último dia da festa, lbne-Almuindim deu pela falta de Gilda e sem hesitar foi procurá-la, mas encontrou-a doente, quase morta, ainda mais branca do que habitualmente e inundada em lágrimas. Tentando responder às perguntas do seu amado e sossegar o seu espírito, Gilda não conseguiu levantar-se. Custava-lhe a falar, sentia que ia morrer e não percebia, agora que estava livre, por que ficara assim mergulhada numa prostração, deixando de ouvir as palavras, súplicas ou lágrimas de lbne-Almundim.

Em pânico e completamente desorientado, o jovem rei árabe reuniu no palácio todos os sábios e curandeiros do reino, mas nenhum lhe disse o que os seus ouvidos queriam ouvir. Vencido pela primeira vez na vida, e já sem esperança, o rei recebeu a visita de um velho prisioneiro também das terras do norte, antigo súbdito do pai de Gilda que lhe queria falar. Este homem velho não era um sábio, mas era um poeta e afirmou que lhe ia revelar a causa da doença da jovem e bela princesa, não porque ele merecesse, mas por causa de Gilda. Depois de ver o velho, os olhos de Gilda sorriram e ela voltou a falar. O velho animou-a e disse-lhe que se havia de curar. Ouvindo a conversa de ambos, Ibne-Almundim conduziu o velho até ao terraço e este confessou-lhe que a doença de Gilda era a nostalgia, ou seja, a bela princesa, simplesmente, tinha saudades da neve do seu país distante e longínquo e que naquela altura do ano se cobria de neve e enfeitava de branco os campos assim como as terras até onde os olhos conseguiam alcançar. Estupefacto, mas já alimentado de esperança, o rei sarraceno não hesitou quando o velho poeta lhe disse que ele só precisava de fazer uma coisa para curar Gilda: mandar plantar, em todo o seu reino, e muito especialmente ali diante do seu palácio muitas amendoeiras porque estas, ao florirem, com as suas belas flores brancas, dariam a ideia de neve, aos olhos saudosos da princesa e ela curar-se-ia. Assim foi feito e assim aconteceu, pelo que a alegria da princesa voltou a inundar o palácio e a beleza das amendoeiras começou a enfeitar as terras do Algarve.

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publicado por picodavigia2 às 17:24





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