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À MARGEM DE UMA BIOGRAFIA DE RIMBAUD

Sexta-feira, 14.02.14

(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)

Saído da Batávia fugido, desertor procurado

do exército colonial holandês,

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, de vinte

e dois anos de idade e francês de nação,

que não sei se viajou como passageiro

ou (pagando assim a passagem) matalote engajado

do cliper inglês que aceitou trazê-lo para a Europa

e que fez, passado o Índico, escalas no Cabo

e Santa Helena e a Ascensão e o Faial,

em que aportou em não achei que dia

do começo de Outubro de 1876;

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, já dito,

vagabundo, poeta (ainda?),

não escreveu que se conheça

tão-pouco uma carta à família em que conte

como era a Horta naquele tempo.

E também, infelizmente, nenhum dos três

jornais que havia na pequena cidade ship-chandler

deu notícia que ele a visitava (ou visitara)

nem de modo indirecto denunciou a sua passagem por lá,

por exemplo relatando alguma desordem

na Rua Velha ou na Rua do Mar.

se bem que acolhendo as musas, os jornais da Horta

normalmente evitavam (quanto possível)

trazer nomes de criaturas como as Paciências,

a Cordeira, as Blicas, a Aparquinha, a Madraça,

criaturas afinal tão filhas de Deus como o poeta Rimbaud,

que, calem-se ou digam-no hipotéticas inéditas crónicas,

foi a casa de alguma delas,

sabedor decerto do preço em boa conta

dos seus rimiformes predicados.

 

Pedro da Silveira Poemas Ausentes

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publicado por picodavigia2 às 08:56





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