PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A RAPOSA E A CARRIÇA
A carriça é uma ave pequena, muito activa e de cor castanha na parte superior, com uma listra clara no dorso e com as asas, também, listradas. Tem uma cauda pequena e arrebitada. É facilmente reconhecível pelo seu pequeno porte. Tem por hábito entrar em cavidades e fendas de rochedos para pernoitar ou para caçar larvas, aranhas e bagas. Trata-se duma ave polígama, sendo que é o macho que constrói diversos ninhos para as suas várias parceiras. O ninho é uma estrutura arredondada, construído com pequenos ramos, musgo, erva e raízes, sendo, depois, forrado com os próprios pêlos e penas. Estão geralmente situados entre as raízes de uma árvore ou num tronco oco. O macho, por vezes, constrói falsos ninhos, a fim de enganar potenciais predadores. A fêmea põe 6 a 8 ovos que incuba por 14 a 16 dias. Os filhotes são alimentados, apenas, pela fêmea e iniciam-se no voo aos 16 ou 17 dias de idade
Ora certo dia, uma raposa encontrou uma destas carriças, com ninho no tronco de um velho carvalho. A raposa andava com muita fome e, por isso, ia todos os dias, junto ao carvalho e dizia:
- Ó comadre carriça, deite-me um dos seus filhinhos cá para baixo, para eu matar a fome, senão eu levanto o rabo e corto o carvalho.
A carriça com medo deitava-lhe um filhote. Três dias lá foi a raposa junto do carvalho e três vezes a carriça lhe atirou um filhinho que a raposa comia, sofregamente. Se a carriça se recusava, logo a raposa ameaçava que lhe levantava o rabo e lhe cortava o carvalho. Ao quarto dia a raposa lá foi outra vez e disse:
- Ó comadre, deita-me cá um carricinho, senão eu levanto o rabo e corto o carvalho.
A carriça deitou-lhe novamente um filhote, mas ficou a pensar como é que havia de se livrar da raposa, a fim de que lhe não comesse todos os filhotes. Por coincidência, na mesma tarde, foi lá visitá-la o mocho que lhe perguntou:
- Ó comadre carriça, onde estão os teus filhinhos?
- Deitei-os à comadre raposa, que vem aí e diz que levanta o rabo e corta este carvalho onde tenho o meu ninho.
Responde-lhe o mocho:
- Ah! Que parva! Não volte a fazer isso. Quando ela voltar digalhe que rabo de raposa não corta carvalho e que só a força de homem e o gume do machado é capaz de o cortar. No dia seguinte a raposa voltou lá e disse, novamente:
- Ó comadre carriça, deita-me mais um carricinho cá para baixo, senão levanto o rabo e corto o carvalho. A carriça já tinha aprendido a lição com o mocho e disse-lhe:
- Rabo de raposa não corta carvalho, só a força do homem ou o gume do machado.
A raposa lá se foi embora com o rabo entre as pernas e desta maneira a carriça livrou-se da raposa manhosa.