PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A RUA NOVA (FAJÃ GRANDE)
Na década de cinquenta, a Rua Nova, relativamente, quer ao número de casas, quer ao de pessoas que nelas moravam, era a rua mais pequena da Fajã Grande, uma vez que possuía, apenas, quatro casas habitadas, nas quais moravam dezasseis pessoas. Lá bem no fundo da Rua Nova e já quase nas Furnas, morava o Urbano, com a mulher e quatro filhos: a Maria Teresa, o José, o Edmundo e o Antonino. O Urbano, para além de trabalhar nos campos, foi sempre muito dedicado ao mar e à pesca e durante muitos anos foi um notável baleeiro e primoroso executor de uma das mais arriscadas e arrojadas tarefas da caça à baleia, a de “trancador” ou arpoador. Também se distinguiu como jogador de futebol e foi um dos fundadores do Atlético Clube da Fajã Grande, em 1939. Numa casa em frente, mas alugada, morava o José Pereira, com a mulher e dois filhos. O José Pereira foi um dos melhores pescadores de sempre da freguesia. Era verdadeiramente um homem do mar e, durante muitos anos, foi ele quem abasteceu de peixe a maior parte da população da Fajã Grande. Tinha uma lancha, era um excelente marítimo e um óptimo pescador, tendo também “arreado” durante várias épocas à baleia, exercendo a função de mestre de lancha, no gasolina “Sta Teresinha” que durante anos e anos ficou ancorada no Poceirão, do Porto Velho, a fim de, após o foguete lançado pelo vigia, puxar os botes para o mar alto, dar-lhes apoio durante o tiroteio da caça à baleia e arrastar, posteriormente, os cetáceos, já mortos, para a fábrica de óleo do Boqueirão, em Santa Cruz. Mais adiante e numa casa um pouco isolada vivia sozinha a senhora Josefina Greves, pessoa muito discreta, sensata e muita amiga de todos com quem por ali passava. Um pouco ao lado, na única travessa que a Rua Nova tinha, vivia o António Lourenço, irmão do Urbano e casado com a Marquinhas do Carmo, na companhia dos quatro filhos: o José, a Ema, o Lucindo e o Antonino. O António Lourenço era pessoa extremamente solícita, de tacto muito agradável e atencioso, foi director da Sociedade, cabeça de festas e do Fio. A esposa exerceu durante muitos anos a honrosa função de parteira da freguesia, sempre com uma dedicação e um êxito notáveis. Além disso exercia também a função de enfermeira e até de “médica”, tratando todos gratuitamente e sem distinção, quer os que a procuravam na sua própria casa, quer deslocando-se às casas dos que a não podiam procurar, mas necessitavam dos seus cuidados. E ficava por aqui a população residente na Rua Nova.
No que ao seu traçado dizia respeito a Rua Nova era a mais larga e uma das que possuía melhor piso na Fajã. Como o seu nome indica, muito provavelmente teria sido uma das últimas ruas da freguesia a ser construída, por isso mesmo mais cuidada e talvez mesmo mais moderna. A rua iniciava-se no cruzamento com a Rua Direita, frente à casa de Josézinho Fragueiro e era ladeada, logo no início pelas moradias do José Nascimento e do Afonso das Tomásias, porém quer uma quer outra, tinham a porta principal voltada para a Rua Direita. Depois prolongava-se numa recta até um dos mais belos e emblemáticos edifícios da Fajã Grande – a casa do Guarda Furtado. Tratava-se e um enorme casarão, com uma torre na parte superior que estava desabitado, no entanto, por vezes era arrendada. Ainda em plena época de cinquenta foi alugada pelos empreiteiros que vieram construir a estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande e, no início da época de sessenta, pelo novo pároco, o padre José Gomes, uma vez que a paróquia não lhe disponibilizava passal. Frente a esta casa havia uma outra casa, cujo terreno onde se situava, mais tarde, deu origem à nova escola, A rua continuava, formando uma ampla curva em frente à casa da senhora Josefina Greves, prolongando-se, de seguida, novamente em recta, indo terminar no caminho que dava para as Furnas.
Como as casas eram relativamente poucas, quase toda a rua era ladeado por campos de cultivo, todos de grande produtividade. Talvez por isso é que esta era uma das ruas por onde também transitava a procissão das Rogações, realizada por altura das têmporas de Setembro para abençoar e aumentar a produtividade dos campos, ou para, em tempos de seca, implorar a bondade divina, a fim de que concedesse a chuva necessária.
Recentemente foi atribuída a esta rua o nome de “Rua Mariquinhas do Carmo”.