PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A SOBERANIA DA MÚSICA
A Música, no Seminário de Angra, fazia parte do quotidiano dos seminaristas e estava presente em todos os momentos mais importantes, sobretudo nas mais diversas celebrações litúrgicas e nas variadas realizações culturais, realizadas, ao longo do ano, no Seminário. Ocupando um lugar destaque nos currículos, para além de ter uma carga horária alargada, que incluía aulas teóricas e práticas, vulgarmente chamados “ensaios”, era a Música a única disciplina que integrava todos os planos curriculares, desde o primeiro ao último ano, uma vez que os mentores dos currículos entendiam que o clero deveria saber música para a poder ensinar e, sobretudo, realizar condignamente as celebrações litúrgicas que a exigiam. Além disso, já se cuidava que a Música, tinha um papel importante no desenvolvimento global dos alunos, contribuindo também para o seu desenvolvimento cultural, científico e intelectual, desenvolvendo muitas outras capacidades. Para além da formação obtida nas aulas, havia variadíssimos ensaios, para a Capela, para os saraus, para festas, para as Academias e até para os passeios que se realizavam às freguesias. As próprias reuniões da Congregação Mariana e dos Escuteiros iniciavam-se e encerravam-se com música e todos os domingos em que os seminaristas não se deslocavam para a Sé Catedral ou para outra da igreja da cidade, a fim de animar, musicalmente, as celebrações aí realizadas, havia missa solene e cantada na capela do Seminário.
Dentro do Seminário, a Capela não parava, imiscuindo-se quase diariamente no acompanhamento de missas, das novenas do Natal, o mês de S. José em Março, o de Maria, em Maio e o do Coração de Jesus, em Junho. Durante as novenas de Maio e Junho eram cantadas as Ladainhas de Nossa Senhora e do Coração de Jesus. Além disso havia muitas outras devoções, missas solenizadas devoções diárias e outras novenas e tríduos, que exigiam músicas adequadas e que exigiam ensaios diários, geralmente pedaços de tempo retirados às horas de estudo.
Mas o epicentro de toda esta soberania musical, era incontestavelmente o concerto do Orfeão do Seminário, realizado por altura da festa de São Tomás de Aquino, para o qual os seminaristas se preparavam com ensaios diários, logo a partir do início de cada ano lectivo. Para além do hino do Seminário que abria a sessão, seguia-se sempre o “Oremus Pro Pontifice - de Licinio Refice. Ao longo dos vários anos muitas outras obras de uma beleza extraordinária se cantaram e que, acompanhadas pela Orquestra Filarmónica de Angra, atraíam uma enorme plateia ao salão de festas do Seminário e que eram transmitidas em directo pela Rádio Club de Angra”.
Notáveis também eram as festividades na Sé, que a Capela do Seminário acompanhava com grande qualidade e competência e que atraíam à Catedral Açoriana imensos fiéis, muitas vezes mais para saborear a beleza musical dos cânticos executados do que para participar nas celebrações litúrgicas. Eram notáveis os cânticos da Semana Santa, das Matinas de Natal e, sobretudo, o “Dies Irae” no dia de Fiéis Defuntos.
Toda esta efervescente e brilhante actividade e animação musical se deveu à acção de grandes mestres, alguns deles ilustres maestros, que lideraram, nas décadas de cinquenta e sessenta, o ensino da Música no Seminário: o padre Ávila, o Dr Antonino Tavares, o padre Jaime e, sobretudo, o Dr Edmundo de Oliveira, meu mestre e maestro durante dez anos. Foi também a exímia e formação destes músicos que fizeram com que muitos alunos que frequentaram o Seminário naquelas décadas, sobretudo os mais dotados, obtivessem uma sólida, consistente e completa formação musical que, mais tarde, os havia de guindar na senda êxitos notáveis e feitos assinaláveis, a nível da música.