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A SOPA DE FUNCHO DE SEXTA FEIRA SANTA

Sexta-feira, 30.03.18

O funcho que proliferava e florescia nas bordas das canadas e em cima dos maroiços da Fajã, na Sexta-Feira Santa, era ou parecia ser mais doce do que habitualmente. O motivo desta suposta alteração do sabor daquela planta aromática era de carácter, eminentemente, religioso e estava relacionado com os mistérios da Paixão e Morte do Redentor, comemorados naquele dia. Segundo a tradição, muito provavelmente baseada nos Evangelhos Apócrifos, quando Nossa Senhora seguia a caminho do Calvário a acompanhar o sofrimento do seu Filho, como que para aliviar a sua dor, ia apanhando e mascando folhas de funcho. Em homenagem à dor e ao sofrimento da Virgem Maria, a planta passou, todos os anos, como que a tornar-se mais doce, naquele dia.

Ora, sendo a Sexta-Feira Santa um dia consagrado ao jejum e à abstinência, o cardápio habitual e tradicional desse dia, na Fajã Grande, resumia-se a uma sopa cujo ingrediente principal era o funcho. Era a tradicional Sopa de Funcho.

À tarde muitas pessoas seguiam em romaria até à Fajãzinha para assistir às endoenças, celebradas às três horas da tarde, na Igreja Matriz local. Para além de três padres, as cerimónias exigiam alfaias litúrgicas diversas e paramentos que a igreja da Fajã não possuía. Os celebrantes deviam paramentar-se de capa de asperges, casula e dalmáticas roxas que eram mudadas na quarta e última parte por iguais paramentos, mas de cor preta. Na Fajã as cerimónias resumiam-se, ao cair da noite, à procissão do Enterro ou do Senhor Morto. Era retirada a imagem de Cristo com os braços articulados, de um crucifixo muito grande que existia no altar da Senhora do Rosário e colocado dentro de um esquife debaixo do altar-mor, donde fora retirado o frontal. A imagem da Senhora da Soledade era vestida e colocada num andor. A procissão percorria a rua Direita com as duas imagens, finda a qual se seguia o sermão e o beija-pé do Senhor Morto. Era proibido o toque de sinos e campainhas, que eram substituídos pelo bater duma matraca, um pequeno instrumento construído com três tábuas de madeira a que estavam presas argolas de ferro e que, quando agitada, fazia um barulho estranho e esquisito.

A tradição da Sopa de Funcho, na Sexta-Feira Santa era, por todos, respeitada. Bastava apanhar aqui ou acolá, escolhendo-se as partes mais verdes e tenrinhas. Feito o caldo com água, cebola, alho, uma colher de banha de porco e uns pedacinhos de batata, juntava-se, simplesmente, o funcho finamente picado, como se de couve ou de outra hortaliça se tratasse.

Em muitas casas, porém, esta sopa era feita em muitos outros dias, na altura em que havia funcho fresco. Apesar de nesses dias se juntar à Sopa do Funcho uma talhadinha de toucinho, a que tinha o gosto mais saboroso e apetecível, era a feita em Sexta-Feira Santa.

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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