PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A VELHA
(CONTO TRADICIONAL)
Era d'uma vez uma velhinha, muito velha, muito atarracada, que andava sempre a pedir esmola e a cramar junto das pessoas, “que não tinha ninguém, que era muito desgraçadinha.”
Mas o povo dizia que a velha tinha dinheiro, e por isso, n'um dia, um ladrão, aproveitando a ocasião em que ela saiu casa para ir à fonte, entrou-lhe em casa e escondeu-se debaixo da cama.
A velha quando voltou viu-lhe um pé. Esteve para gritar, mas teve medo de que ele lhe batesse e a matasse e por isso deixou a porta aberta e ajoelhando-se em frente de um crucifixo que tinha, pôs-se de mãos postas a rezar em voz muito alta:
- "Meu Deus, quando eu era moça namorava um rapaz muito bonito! Depois casei com ele e, quando chegámos a casa tirou-me o véu! Que vergonha, meu Deus! – E levantava a voz cada vez mais e continuava: - Depois tirou-me o vestido, as saias, as botas, Ai! Ai! Ai! Que vergonha! Que vergonha!
Os vizinhos ouviram aqueles gritos e acudiram a ver o que era. A velha assim que sentiu gente em casa, sem mudar de posição, gritava;
- Vão debaixo da cama que lá está o ladrão!
Os vizinhos foram a ver e lá estava o homem que levou uma grande sova; e assim se livrou a pobre velha de ser roubada e morta.