PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ADÁGIOS DE FEVEREIRO
“Fevereiro leva a ovelha e o carneiro.”
“Fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.”
Na Fajã Grande, na década de cinquenta, não eram muitos os adágios sobre o mês de Fevereiro e os poucos que ao segundo e mais pequeno mês do ano se referiam, geralmente, continham informações de carácter meteorológico. Que me lembre, apenas dois; “Fevereiro leva a ovelha e o carneiro.” e este outro “Fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.”
Embora um pouco enigmáticos, aparentemente, ambos os provérbios referem o mau estado do tempo que, geralmente, no mês de Fevereiro, ainda se verificava na ilha das Flores. Na realidade na maior ilha do grupo ocidental açoriano e, mais concretamente na Fajã Grande, em Fevereiro, imperava o “general” inverno, mas intercalado com dias soalheiros e de bom tempo. Por isso mesmo, o tempo pré-primaveril de Fevereiro, apesar de permanentemente ameaçado por um ou outro dia tormentoso e ameaçador de mau tempo, já permitia abandonar o gado ao relento, nos campos e nas pastagens, sobretudo o gado ovino, mais habituado às agruras do Inverno e que passava quase todo o ano fora dos palheiros ou resguardos.
No segundo adágio acima referido, parece, também, estar também patente esta ideia, talvez ainda mais clara, premente e completa, por quanto se confirma que este mês do ano, na realidade, intercalava o mau tempo com o bom tempo, sendo, no entanto, este último enganador. Em Fevereiro, ora havia um dia de bom tempo, mesmo de Sol, soalheiro que, no entanto, enganava, porque afinal durante aquele mês ainda se sucederiam muitos outros dias de mau tempo e até de temporal. Não se cuidasse pois que, havendo em Fevereiro um dia de bom tempo, não era de forma nenhuma o fim do Inverno. Um dia soalheiro, no segundo mês do ano, poderia ser sinal de que muito temporal ainda poderia estar para vir. Daí que se resguardasse tudo o que era de grande estima e que estava personificado na própria mãe.
Mais duas sentenças sábias dos fajãgrandense que assim se iam informando uns aos outros e dando conta do estado do tempo a fim de estarem atentos e se prevenirem contra as fortes intempéries que por vezes fustigavam as ilhas, sobretudo as do grupo ocidental – Flores e Corvo.