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AJUDAR À MISSA

Terça-feira, 20.05.14

No início da década de sessenta, o Seminário de Angra teria cerca de vinte professores, todos eles sacerdotes, com excepção do médico, o Dr Mário Lima. Todos estes sacerdotes celebravam missa, diariamente, pese embora, nestes tempos ainda não fosse hábito concelebrar. Apesar de alguns, por vezes, celebrarem em igrejas ou capelanias da cidade, a maioria celebrava no Seminário e de manhã, o que exigia várias estruturas e alguma organização. Para o efeito, a capela de “cima” ou da Natividade, apesar de pequena e ocupada, habitualmente, pela prefeitura dos “Miúdos” para a missa e outras celebrações religiosas, possuía, embora de forma rudimentar, os altares, os paramentos e as alfaias litúrgicas necessárias para que cinco sacerdotes pudessem celebrar ao mesmo tempo, mas em altares separados: o altar-mor, dois laterais no corpo da igreja e dois no coro, sendo um deles, uma simples mesa.

Normalmente, a primeira missa era celebrada pelo prefeito e destinada aos seminaristas, que a ela assistiam em conjunto. Durante a mesma, no entanto, já chegava um ou outro professor, mais madrugador, que celebrava nos altares laterais ou no coro. Nestas primeiras celebrações, era habitual a presença do prefeito dos Médios, na altura o padre Horácio, ou o dos Teólogos, o Dr Valentim, uma vez que cada um, em alternativa, celebrava, para as duas prefeituras, semana sim, semana não, na capela de baixo. Entre os professores mais madrugadores pontificavam o cónego Jeremias e o padre Vitorino.

Após a missa da prefeitura, seguia-se uma hora de estudo e era durante a mesma que demandava a capela para celebrar missa, uma enorme avalanche de professores: Dr José Enes, Dr Pereira, Dr Edmundo, Pe Coelho, Dr Carmo, Pe Jaime e o Dr Caetano Tomás. Também, embora com menos frequência, ali celebravam o dr Américo que, confessando durante a missa dos Médios e Teólogos, geralmente, celebrava na capela de baixo, o Dr Custódio que celebrava nas Mónicas, Monsenhor Lourenço que celebrava na sua freguesia, o Dr Alfredo que celebrava no Post-Seminário e o Dr Cunha em São Carlos.

Ora todos estes celebrantes, pese embora a missa fosse em latim e celebrada em voz baixa, necessitavam de ajudantes, tarefa, muito bem organizada, atribuída aos alunos dos 3º e 4º anos, que integravam a prefeitura de São Luís Gonzaga. Cada professor, ao chegar à sacristia, premia o botão de uma espécie de campainha de porta que se fazia ouvir no salão de estudo, onde os alunos estudavam, em silêncio, durante a hora que mediava a missa do pequeno-almoço. Ordenadamente, a começar pelo primeiro da fila da esquerda, os alunos, à medida que a campainha tocava, iam-se levantando, abandonavam a sala sem ser necessário pedir ao prefeito e iam ajudar à missa do professor que tocara a campainha. No dia seguinte, o primeiro aluno a ser chamado, seria o que tinha a carteira imediatamente a seguir ao último do dia anterior. Normalmente o ser chamado para ajudar à missa era uma tarefa gratificante para os alunos. Por um lado era uma oportunidade de conhecer e conviver com os professores, nomeadamente com os que nos davam aulas e por outro uma ocasião única de sair da sala, onde se impunha um silêncio rigoroso e um emarfanhar.se, muitas vezes forçado, entre livros, cadernos e sebentas.

Semanalmente e também por ordem, dois alunos do 4º ano eram responsáveis por logo de manhã preparar os cálices e os paramentos necessários aos cinco altares. Por sua vez os “sanguíneos” e os “amitos” que eram pessoais, eram guardados, muito bem embrulhadinhos, numa prateleira afixada na parede e com várias divisões, cada qual com o nome de um professor e que eram renovados, semanalmente.

Interessante organização!

 

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publicado por picodavigia2 às 14:56





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