PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ALHO, ARRUDA E LOUREIRO (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)
Contava o meu avô uma estranha estória. Se bem me lembro, era mais ou menos assim: Há muitos anos, nesta localidade que, na altura, ainda nem freguesia era, contava ele que numa noite de verão, em que estava muito calor, um tio dele não conseguia dormir. Para espairecer e apanhar um pouco de ar fresco, veio sentar-se numa varanda da sua casa a ver se conseguia dormir ao fresco, pois o ar parecia que sufocava. De repente e sem nada o fazer esperar, já muito pela noite dentro, apareceram três mulheres que ele não conheceu porque traziam a cabeça coberta com lenços, se aproximaram dele e disseram:
— Se não fosse o alho, a arruda e o loureiro, não havia ninguém vivo neste mundo!
— E porquê raparigas? — Perguntou o tal tio do meu avô, apesar de muito admirado com aquele dito das três mulheres que ele cuidou que viriam de fazer serão da casa de alguma amiga.
E elas responderam:
— Cala o bico, pois se souberes morres e nunca digas a ninguém que nos viste que ouviste isto.!
Queriam elas dizer que ele não havia de contar nada do que vira naquela noite, nem contar a conversa que ouvira. Mas elo, pelos vistos, não tomou aquele aviso muito a sério. Ele ficou sem saber o que elas queriam dizer com aquilo e, por isso andou, no dia seguinte a contar a toda a gente. E contava, a minha mãe, que ele não durou muito tempo. Começou a ficar doente, a definhar de um dia para o outro e que morreu pouco tempo depois. Aquelas mulheres eram feiticeiras que lhe fizeram o bruxedo.