PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS DUAS IRMÃS
(CONTO TRADICIONAL)
Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha parecia-se tanto com ela, que a confundiam com a própria mãe. Mas a mãe e a filha eram tão desagradáveis e orgulhosas que ninguém as suportava. Por sua vez, a filha mais nova, para além de boa e educada, era muito bonita.
A mãe adorava a filha mais velha, mas tinha uma tremenda antipatia pela mais nova, que comia na cozinha e trabalhava sem como se fosse uma criada, pois tinha, a pobrezinha, entre outras coisas, de ir, duas vezes por dia, buscar água a uma fonte que ficava longe de casa, com uma enorme e pesado balde, que trazia sempre bem cheio.
Um dia, enquanto ela estava junto à fonte a encher o balde, apareceu uma pobre velhinha, pedindo-lhe de beber:
- Pois não, boa senhora - disse a linda moça e, pegando no balde, tirou água, dando-lhe de beber com as suas próprias mãos, para auxiliá-la.
A boa velhinha bebeu e disse:
- Tu és tão bonita, minha filha, e tão boa e tão educada, que não posso deixar de te dar um dom. – É que aquela velhinha era uma fada, que tinha tomado a forma de uma pobre camponesa para ver até onde ia a educação daquela menina.
- Quando falares, a cada palavra que proferires - continuou a fada disfarçada de velhinha - da tua boca sairá ou uma flor ou uma pedra preciosa.
Quando a filha chegou a casa, a mãe recriminou-a pela demora.
- Peço-lhe perdão, minha mãe - disse a pobrezinha -, por ter demorado tanto. - E, dizendo estas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois enormes diamantes.
- O que é isso? - Disse a mãe espantada - Acho que estou a ver pérolas e diamantes saindo da tua boca. Como é que conseguiste isso, filha? - Era a primeira vez que lhe chamava de filha.
A pobre menina contou-lhe, então, o que tinha acontecido junto da fonte, saindo-lhe da boca flores e pérolas.
- Meu deus! - Disse a mãe. - Tenho de mandar a minha filha mais velha à fonte.
De seguida chamando a filha mais velha, disse-lhe;
- Filha, vem cá. Vê o que sai da boca da tua irmã, quando ela fala. Quero que tenhas o mesmo dom. Vai à fonte e, quando uma pobre mulher te pedir água, dá-lhe de beber.
- Só me faltava essa! - Respondeu a filha. - Ter de ir até à fonte!
- Estou a mandar-te, filha, - retorquiu a mãe -, e vai já, antes que a mulher desapareça.
Embora contrariada, a rapariga lá foi, levando o mais bonito jarro de prata que havia em casa.
Mal chegou à fonte, viu sair do bosque uma princesa, ricamente vestida, que lhe pedia água. Era a mesma fada que tinha aparecido à irmã, mas que agora se disfarçara de princesa, para ver até onde ia a educação daquela moça.
- Será que foi para te dar de beber que eu vim aqui? – Respondeu a rapariga – Tens aqui um jarro de prata cheio! Tome e bebe do jarro, se quiseres, pois eu não sou tua criada.
- És muito mal-educada - disse a fada. - Pois muito bem! Já que és tão pouco cortês, a cada palavra que proferires, sair-te-á, da boca, uma cobra ou um sapo.
Quando a mãe a viu chegar, perguntou-lhe:
- E então, filha? Encontraste a mulher e deste-lhe de beber.
- Sim, mãe! Encontrei-a e dei-lhe água do meu jarro. - Respondeu a mal-educada, soltando-lhe, de imediato, pela boca duas cobras e dois sapos.
- Meu Deus! - Gritou a mãe, horrorizada. - O que é isso? A culpa é da tua irmã. Ela me paga. E imediatamente foi procurar a filha mais nova. Depois de a espancar, expulsou-a de casa. Sem ter para onde ir, a menina, lavada em lágrimas, foi-se esconder na floresta.
O filho do rei, que voltava da caça, encontrou-a e, vendo como era linda, perguntou-lhe o que fazia ali sozinha e por que estava a chorar.
- Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa.
O filho do rei, vendo sair de sua boca cinco flores e outros tantos diamantes, pediu-lhe que lhe dissesse de onde vinha aquilo.
Ela contou-lhe toda a sua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela e, considerando que tal dom valia mais do que qualquer dote, levou-a para o palácio real. Algum tempo depois casaram.
Quanto à irmã, a mãe ficou tão irada contra ela que a expulsou de casa.
E a infeliz, depois de muito andar sem encontrar ninguém que a abrigasse, acabou morrendo num canto do bosque.