PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS FESTAS RELIGIOSAS EM PONTA DELGADA
Eram várias as festas que, ao longo do ano, na década de cinquenta, se realizavam na igreja Matriz de Ponta Delgada. Em Dezembro e para além do Natal, realizava uma grande festa em honra da Imaculada Conceição. Precedida de um novenário preparatório, a festa tinha o seu epicentro no dia oito, com missa solene, cantada e à tarde uma procissão em que seguia, pelas ruas de Ponta Delgada, uma imagem da Virgem que me fazia lembrar a da Senhora da Saúde, existente na igreja da Fajã.
Em Janeiro, também com grande pompa e circunstância que se realizava a festa do padroeiro, o glorioso mártir São Sebastião. A Semana Santa, por sua vez, era celebrada ao pormenor, com todas as cerimónias, ritos e procissões, com destaque para a procissão de Ramos, o lava-pés, as Endoenças e a procissão do Senhor Morto. Nós, os seminaristas das ilhas, como estávamos de férias, participávamos em todas as celebrações, a que se associavam muitos sacerdotes residentes na cidade.
Mas a mais aliciante de todas as procissões, realizada por altura da Páscoa era a Procissão aos Enfermos. As ruas cobriam-se com tapetes multicolores e enfeitavam-se as janelas com colchas desde da Avenida Marginal até à rua da Arquinha, passando pelas do Amorim, Contador, Passal, Santana, Margarida Chaves e muitas outras, até regressar à Matriz. O Senhor, sob a espécie do pão, era conduzido pelo pároco e acólitos, debaixo do pálio, acompanhado de muito clero, dos seminaristas e de muito povo, visitando os doentes e acamados, a quem era distribuída a comunhão.
Para além destas festas realizadas na paróquia a que pertencíamos, ainda participávamos na grandiosa festa do Senhor Santo Cristo, incontestavelmente a maior festividade celebrada nos Açores. Participávamos nas procissões da mudança da imagem e na do dia da festa, esta com um giro gigantesco e dávamos passeios pelo campo de São Francisco e pela Avenida, vendo e observando as barracas e os vendedores ambulantes. Simplesmente como o dinheiro era pouco ou quase nenhum, apenas consegui comprar uns pequenos objectos de barro da Lagoa que guardei para levar e oferecer a meus irmãos nas férias que já se aproximavam.