PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ATIRO A PORTA
Era uma vez um menino pobre que vivia com sua mãe, nas últimas casas de uma aldeia.
A mãe ia trabalhar, todos os dias, deixando o menino sozinho. Antes de sair recomendava-lhe:
- Não abras a porta a ninguém, nem mostres as nossas verónicas!
O menino dizia-lhe que fosse descansada, porque ele faria conforme ela lhe estava a recomendar.
Mas, certo dia, uns homens, que pareciam boas pessoas bateram à porta e perguntaram ao rapazinho se lá em casa haveria alguma coisa bonita que ele lhes pudesse mostrar.
O menino correu a buscar umas jarras de porcelana, que a mãe guardava na cómoda do quarto. Os ladrões – porque era isso que eles eram – pegando no saco, imediatamente se foram embora.
Pouco depois, chegou a mãe. O menino estava triste e contou-lhe o que se tinha passado. A pobre mulher, vendo-se sem o seu tesouro, lançou mãos à cabeça e começou a correr estrada abaixo, pelo caminho que os ladrões tinham seguido.
Entretanto, gritava para o menino que a queria acompanhar:
- Fecha a po…o…orta…!!!
- Levo a porta, mãe…e…e? – Perguntava o menino.
- Fecha a po…o…o…orta…!!! – Repetia a mãe.
- Levo a porta, mãe…e…e?
Sem entender o que a mãe lhe gritava, cada vez mais distante dele, o menino levantou a porta e começou a correr, com ela às costas, ao encontro da sua mãe.
Já muito longe de casa, muito cansados e sem verem o caminho, porque, entretanto, o sol já se tinha posto, mãe e filho resolveram passar a noite em cima de uma azinheira, carregando, também, a porta.
A altas horas da noite, sentiram passos… e ouviram conversas… por entre as árvores do bosque. E, qual não foi o seu espanto quando, precisamente debaixo da árvore em que eles estavam, se vieram sentar, discutindo, dois homens carregados com sacos e outros objectos. Eram os ladrões, que se preparavam para dividir, entre si, o que tinham roubado.
Então começaram a distribuição:
- Pataca a ti... pataca a mim… Pataca a ti... pataca a mim…
A mulherzinha e o filho, em cima da árvore, nem respiravam. A criança na sua imprudência, murmurava à mãe:
- Atiro a porta, mãe?
A mãe, com um gesto, tapava-lhe os lábios, gelada de medo. O menino continuava:
- Atiro a porta, mãe?
E atirou!
Os ladrões, pensando que era o céu que lhes caía em cima, puseram-se em fuga e não mais voltaram.
Foi assim que mãe e filho puderam recuperar não só as suas porcelanas, como também, ganhar muitas outras riquezas que os ladrões abandonaram no chão, debaixo da azinheira.
(Baseado num conto brasileiro)