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BLUETOOTH

Sábado, 29.03.14

Nos últimos anos da minha careira como professor, felizmente, tive a possibilidade pedagógica de recorrer ao uso do computador nas minhas aulas. Para além de consubstanciar uma maior motivação para os alunos, a utilização do computador permitia-me não apenas uma melhor planificação e uma mais adequada programação das aulas mas sobretudo permitia-me o recurso a metodologias mais dinâmicas, mais envolventes, mais actualizadas e, sobretudo, mais eficientes.

Comprara um computador simples e, relativamente, barato sem grandes placas ou modernas aplicações mas com o fundamental e que servia, perfeitamente, os meus intentos. Iniciando-me no seu uso e abuso, lá fui dando os primeiros passos nos, para mim, quase intransponíveis e infindáveis meandros da informática. Para além dos registos de textos, tabelas e quadros, comecei a perceber que poderia ir mais longe, servindo-me daquela quase mágica caixinha, para conectar e projectar informações através de um retroprojector, de um câmara ou de outros audiovisuais que a escola já possuía.

Certo dia, numa aula que pretendia mais dinâmica e atractiva, preparei-me para a grande aventura. Carreguei-me de sacos, malas e caixas… Computador, projector, colunas e uma data de fios que nunca mais acabava. Logo no início da aula e a muito custo, tentei ligar aquilo tudo conforme me haviam indicado. É verdade que ajuda não me faltou. Mas aquilo, nada! Quantos mais fios ligava e botões carregava,  maior era a desilusão. No ecrã continuava apenas projectada a imagem da página de fundo do meu computador. Felizmente, na turma, havia alguns experts na matéria que, de imediato, me cercaram, disponibilizando ajuda, dando palpites e propondo soluções. Escolhi aquele que cuidei mais ajuizado e sabedor e mandei os outros para os seus lugares. O artista seleccionado, ligou e desligou fios, acendeu e apagou botões e luzes, mirou as máquinas de fio a pavio e concluiu com uma certeza convicta, profunda e, sobretudo, absoluta:

- Ó professor, isto não pode dar. O seu computador não tem bluetooth.

Estarreci. Então tinha comprado um computador caríssimo, moderno, com tudo o que era necessário para as minhas aulas e ele não tinha blutô! Por isso interroguei-o:

- O que é isso do blutô, que esta porcaria deste computador não tem?

Ele, muito calmo, sereno e, sobretudo, seguro, explicou, pese embora muitos outros também o quisessem fazer:

 - Bluetooth, professor, é uma especificação para as redes wireless que permite ligar e trocar informações entre dispositivos como telefones celulares, computadores, impressoras, câmaras digitais, projectores e consolas de videogames digitais através de uma frequência de rádio de curto alcance. Se o seu computador tivesse Bluetooth a informação ou as imagens que o professor tem passavam para o projector e viam-se no ecrã. Assim não se pode projectar nem ver absolutamente nada.

E eis senão quando, perante o protesto e aborrecimento dos alunos, me preparava para abdicar de tudo aquilo e, recorrer ao manual e ao quadro, mergulhando e arrastando a turma comigo às antigas metodologias de uma aula tradicional, um aluno, lá do fundo da sala, levanta-se e anuncia com grande entusiasmo e um misto de vaidade:

- Ó professor, não há problema. Tenho aqui o meu telemóvel e ele tem Bluetooth! – E abandonando o seu lugar, veio até junto à minha secretária, perante a admiração de todos os outros, mostrar-me aquela intrigante mas magnífica máquina de que tanto se orgulhava. Por isso insistia:

- Pode usá-lo, professor, ele tem Bluetooth!

Amirado com aquela maravilha das novas tecnologias, indaguei:

- Tu tens um telemóvel destes? Quem to deu?

- Foi o meu pai!

- E quanto custou?

- Quatrocentos euros!

Sem que o miúdo se apercebesse, abri o Livro do Ponto e consultei a lista de alunos e os respectivos escalões. Fora-lhe atribuído, no início do ano, o Escalão A!

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publicado por picodavigia2 às 15:18





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